Há cerca de 700 animais, de 150 espécies diferentes, para observar em Vila Nova de Gaia – desde os répteis, às aves, aos mamíferos e aos invertebrados. No Zoo Santo Inácio, mais do que educação sobre a biodiversidade, há um trabalho constante pela conservação das espécies.
Desde 2005 que o espaço é full member da EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários), tendo fundado, em 2006, com outros quatro membros, a APZA – a versão portuguesa da associação. Esta integração é fundamental para o zoo estar em linha com os outros espaços europeus ao nível do bem-estar animal, da conservação, da educação e dos standards de funcionamento e manutenção.
Com esta missão, Teresa Guedes, diretora do Zoo Santo Inácio, garante que “todos os animais aqui acolhidos vivem em ambientes aproximados à sua origem, proporcionando-lhes as melhores condições para que vivam saudáveis e manifestem comportamentos genuínos”.
Além disso, “numa visita ao Zoo Santo Inácio, os animais não estão à frente dos visitantes, mas é pedido aos visitantes para os procurarem, conhecendo, assim, o modo de vida das espécies animais que aí residem, para que se aproximem e apaixonem e serem, também, embaixadores na conservação do nosso querido ecossistema”.
Mas a garantia da conservação das espécies tem muito trabalho no backstage. Como membro da EAZA, os animais acolhidos no zoológicos provêm de outros parques integrantes da associação e o grande objetivo de “trocar animais entre instituições deve-se ao fator de garantir a continuidade de linhas geneticamente puras das populações dessas espécies, de forma a evitar a sua extinção e proporcionar o nascimento e manutenção de indivíduos saudáveis e que permitirão a sua reprodução eficaz e viável”, afirma a diretora do zoo.
A responsável revela ainda que uma parte da conservação das espécies tem mesmo de ser feita longe do seu habitat natural/de origem, ou seja, nos zoológicos, porque alguns animais exigem cuidados especiais para a sua sobrevivência.
Atualmente, o Zoo Santo Inácio participa em mais de 30 EEP’s (programas da EAZA de gestão populacional) para garantir a continuidade das espécies. Entre estas está o hipopótamo-pigmeu, o leão-asiático, o lémure-vermelho, o jabiru-do-senegal ou o saguim-cabeça-de-algodão, explica o curador Francisco Ramos. “À exceção do leão-asiático, o zoo já obteve sucesso na reprodução de todas essas espécies, contribuindo para a manutenção da espécie e de uma população geneticamente saudável. A maior parte dessas crias já foram transferidas para outras instituições”.
E entre espécies ameaçadas, integrantes da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN), este zoo de Vila Nova de Gaia acolhe a beleza-negra, o abutre-de-capuz, o saguim-cabeça-de-algodão, o lémure-vermelho, o lémure-preto-e-branco-de-colar e a gazela-dama. Para além disso, alberga também 11 espécies classificadas com “Em Perigo” e 11 “Vulneráveis”.
Mas como são escolhidos os animais para o programa de reprodução? Carla Monteiro, veterinária, explica: “cada Programa EEP tem uma equipa de coordenação, liderado por um coordenador de uma Instituição pertencente à EAZA, para implementar e gerir a estratégia desse programa EEP. Cada Programa EEP tem as suas regras e os seus objetivos, definidos no Plano de Coleção Regional, elaborado por profissionais que trabalham nos Grupos (Taxa), e também definidos em Planos de Conservação. A seleção de espécies animais para integrarem uma EEP é realizada pela avaliação de diversos grupos e/ou espécies que necessitam de apoio para travar o seu declínio (quer pela redução do número de indivíduos, quer pela diminuição/fragmentação de área geográfica onde habitam)”.
A seleção das EEP, tem ainda o cunho da UICN (União Internacional de Conservação da Natureza), de acordo com dois manifestos preponderantes: One Plan Approach e Guidelines on the Use of ex-situ Management for Species Conservation.
“No Zoo Santo Inácio, a seleção de uma nova espécie a integrar a coleção animal é feita de acordo com o masterplan do zoo, em que a principal preocupação é a adaptação e naturalmente o bem-estar da espécie no espaço para ela preparado no zoo, considerando as necessidades e características da mesma, mas também o estatuto de Conservação da espécie, onde importa dar o melhor e maior contributo para o retrocesso do decréscimo e perda da biodiversidade”, afirma Carla Monteiro.
No que diz respeito a vantagens, a veterinária aponta o crescimento das populações geneticamente e mais indivíduos saudáveis, além de toda a investigação e conhecimento adquiridos, seja no próprio zoo ou com outros parques integrantes da EAZA. Por oposição, pode haver risco de introdução da espécie no novo espaço ou desenvolvimento de patologias infeciosas ou de outra índole.
“Todas as transferências de animais são avaliadas previamente e recomendadas pelo grupo de coordenação da EEP em causa, não só por motivos de variabilidade genética, mas também de acordo com as características e necessidades da espécie, disponibilidade e condições dos zoos e aquários para receberem espécies novas, ou novos indivíduos para associar a um grupo já existente”.
“Naturalmente, e de acordo com as diretrizes recomendadas, cada caso deve ser avaliado individualmente, de tal forma que, o grupo de ética e bem-estar animal da EAZA, está a desenvolver um protocolo exaustivo para garantir que todos os pressupostos de bem-estar estão cobertos nos processos de transferência – desde a decisão da saída de um animal, até à chegada e integração no local ou grupo”, evidencia a veterinária.
Mesmo assim, apesar de todos estes cuidados, em determinadas espécies de animais, pelas suas características, poderá haver impedimento para a sua transferência entre zoos, pelos riscos que podem incorrer durante o transporte.