A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, tendo por base os dados da REN (Redes Energéticas Nacionais), analisou as diferentes tendências em termos de produção de eletricidade em Portugal Continental entre janeiro e setembro de 2017 e as suas consequências para a sustentabilidade no uso de recursos e emissões de gases com efeito de estufa, causadoras das alterações climáticas.
A seca que se verifica no Continente conduziu a uma diminuição dramática da produção de eletricidade através das grandes barragens (-59% entre janeiro e setembro de 2017 e o mesmo período em 2016), e um aumento enorme do recurso às centrais térmicas (+61%). No que respeita ao total de contribuição de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis em relação ao consumo em Portugal, a mesma recuou 23,3%, ou seja, de 71,0% para 47,7%. Isto é, até ao final de setembro, menos de metade do consumo de eletricidade foi assegurado por fontes renováveis.
5,7 milhões de toneladas a mais de dióxido de carbono emitidas este ano
Depois de 2016 ter tido uma produtibilidade hidroelétrica 66% acima da média, 2017 está com valores 43% abaixo. As consequências em termos de emissões de gases de efeito de estufa são verdadeiramente dramáticas, já que a produção de eletricidade tem de ser garantida em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, em particular de centrais a carvão (Sines e Pego) e de ciclo combinado a gás natural (que mais que duplicaram o total da sua produção: +225% em relação ao mesmo período de 2016).
A Zero quantificou as emissões associadas à produção de eletricidade entre janeiro e setembro de 2017, tendo-se atingido cerca de 24 milhões de toneladas de dióxido de carbono, um aumento de 5,7 milhões de toneladas em relação ao mesmo período do ano passado (+31%).
Queima de carvão aumenta
As centrais a carvão, por cada quilowatt-hora de eletricidade produzida (kWh), emitem 2,5 vezes mais dióxido de carbono equivalente que as centrais de ciclo combinado a gás natural. Estas centrais, emissoras também de outros poluentes atmosféricos que afetam a saúde humana e o ambiente, deverão ser progressivamente encerradas. Entre janeiro e setembro de 2017, as centrais a carvão tiveram um aumento de produção de eletricidade de 24% em relação ao período homólogo de 2016 e foram responsáveis por 38% das emissões de gases com efeito de estufa do setor elétrico.
Tendo em conta a continuação e agravamento da situação de seca, as emissões tenderão a aumentar. Como já referido numa análise há dois meses atrás também efetuada pela Zero, o ano de 2017, com os efeitos da seca na produção de eletricidade e com grandes áreas ardidas, muito provavelmente este será um dos anos com maiores emissões em Portugal desde o início da década.
A Zero considera essencial o investimento em eficiência energética, o encerramento próximo das centrais térmicas a carvão, e a aposta nos recursos renováveis para produção de eletricidade, em particular, solar e eólico.