Comemorou-se esta segunda-feira, 12 de abril, o Dia Nacional do Ar, a ZERO (Associação Sistema Terrestre) alertou, em comunicado, para a importância de uma mobilidade sustentável, na medida em que o setor dos transportes, em particular o transporte rodoviário, é a principal causa de poluição do ar nos centros urbanos portugueses.
Para a associação ambiental, o futuro do transporte individual em automóveis é um tema na “ordem do dia”, pois a sociedade está num “ponto de clivagem” no que toca à mobilidade. Graças a uma “adopção maciça por parte dos condutores privados e empresas”, as vendas de automóveis elétricos dispararam em 2020 na Europa. Depois, as políticas europeias na área da energia, clima e ambiente, em que a neutralidade climática até meio do século é central, têm “forçado os decisores políticos”, desde o nível autárquico ao nacional, a “repensar o papel dos veículos movidos a combustíveis fósseis”, em particular os movidos a “gasóleo, com maiores emissões de óxidos de azoto”, refere o comunicado.
Como resultado, neste momento, nota a ZERO, há na Europa já dez países com planos para o fim do comércio de ligeiros de passageiros com motor de combustão, e uma série de cidades – incluindo Madrid, Paris, Amsterdão e Londres – que apenas permitirão automóveis sem emissões nos próximos anos. Alguns fabricantes de automóveis, em resposta, já se estão a alinhar com estas políticas, tenho anunciado o fim voluntário das suas produções de veículos a combustíveis fósseis.
A Comissão Europeia está a rever até ao verão os regulamentos relativos à emissão de dióxido de carbono (CO2) dos automóveis, podendo vir a regular sobre o fim do comércio de veículos a combustão. Neste âmbito, a Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), que a ZERO integra, organizou um estudo acerca da opinião dos europeus sobre estas políticas. Segundo a associação ambiental, trata-se de um inquérito representativo que reuniu cerca de 10 mil respostas de cidadãos de quinze grandes cidades europeias (incluindo Madrid, Roma, Berlim, entre outras, embora nenhuma cidade portuguesa) em oito países.
Os resultados permitem afirmar que:
- Quase dois em cada três habitantes (63% em média, com resultados, dependendo, das cidades, que variam entre os 51 e 77%) apoia o fim da comercialização de veículos a combustão até 2030, sendo que após esta data apenas deverão poder ser vendidos na Europa automóveis livres de emissões – ou seja, os cidadãos apoiam esmagadoramente estes objectivos;
- Dentro dos respondentes, os que tiveram covid-19 ou os com pessoas próximas que tiveram apoiam mais fortemente estas medidas (66% de apoiantes) que os restantes (56%);
- O preço dos automóveis eléctricos (55%), a rede de carregamento (51%) e a sua autonomia (45%) são vistos como os factores determinantes para impulsionar mais a compra de carros elétricos;
- Apenas um em cada dez respondentes acham que as vendas de automóveis eléctricos não suplantarão no futuro os de automóveis a gasóleo e gasolina.
Este estudo mostra claramente que os europeus são a favor de uma mobilidade sustentável, e estão prontos para a abraçar. Embora o estudo não inclua cidades portuguesas, a ZERO está convicta de que os portugueses não são excepção. Por isso, a associação apela a que os decisores políticos sejam ambiciosos na adopção de políticas que vão ao encontro destes resultados.
ZERO preocupada com falta de medidas que contrariem excesso de uso do automóvel no desconfinamento
A ZERO avaliou os dados de concentração de dióxido de azoto, um poluente associado ao tráfego automóvel, recolhidos na estação de monitorização da Av. da Liberdade dos dias úteis das últimas semanas após 15 de março de 2021. Segundo os dados, verifica-se que “a média dos valores das três primeiras semanas (33 ug/m3) está cerca de 20% abaixo do valor limite anual deste poluente (40 ug/m3), mas na semana passada, entre 5 e 9 de abril, já se atingiu precisamente uma concentração média de 40 ug/m3”.
Face a estes valores, a associação ambiental destaca grande preocupação com o regresso de ainda mais automóveis aos centros das cidades, em total contradição com os objetivos de salvaguarda da saúde pública, prioridade que se tornou ainda mais relevante no cotexto da pandemia de Covid-19.