Vidro: Mais reciclagem para continuar o seu ciclo infinito
Artigo da responsabilidade da Sociedade Ponto Verde
A separação adequada e a recolha seletiva do vidro, nomeadamente o que é proveniente do nosso consumo diário, das nossas casas, mas, sobretudo, dos estabelecimentos comerciais como cafés, restaurantes e hotéis – o setor que, pela natureza da sua atividade, gera volumes muito significativos destes resíduos -, permite a produção de novas embalagens de vidro reciclado, uma e outra vez. Ou seja, é um ciclo fechado e infinito, uma aplicação clara do conceito de circularidade.
Não é demais recordar que um processo da reciclagem, globalmente, só apresenta vantagens. Possibilita consumir menos matérias-primas virgens e energia. Evita a deposição indevida em aterros, um problema em Portugal que tem de ser combatido, já. E, consequentemente, ajuda a recuperar os recursos naturais e a preservar o Planeta. As gerações vindouras, vão agradecer.
De facto, o nosso país é bom para a Reciclagem e este gesto, ou prática, que tem tanto de simples como de rotineiro, é indicado pelos cidadãos como o seu maior contributo para ajudarem a preservar o Ambiente. Em particular, no que diz respeito às embalagens. São o único fluxo urbano a cumprir com as metas, à exceção do vidro, material para o qual existe uma grande ambição nesta matéria: alcançar os 70% em 2025 e 75% em 2030, com uma taxa atual de 56%.
Se assim é, a que se deve esta situação, especificamente neste material? E o que fazer?
Numa retrospetiva ao Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE), que nasceu há aproximadamente 27 anos com a criação da Sociedade Ponto Verde (SPV), vemos que a sua evolução tem sido marcada por uma contínua aposta em I&D e inovação. Funciona. Mas ainda não é suficiente. Há que reciclar mais e melhor.
Projeto Mais Vidro, Mais Reciclagem #Horecafazpartedasolução
Para que tal aconteça, o nível de serviço que é prestado a quem já é reciclador ou pretende começar a reciclar tem de ser otimizado. No caso do vidro é fundamental uma maior mobilização por parte de todos: se cada um de nós depositar no ecoponto verde (vulgo vidrão), pelo menos, mais duas garrafas por mês, as metas serão não só cumpridas como superadas. O que alavancará também a capacidade produtiva do setor vidreiro nacional, diminuindo a quantidade de casco de vidro que hoje ainda têm de importar para produzir novas garrafas.
Foi neste sentido que a SPV, estando ao lado do setor das embalagens de vidro, se uniu à AIVE para criarem o projeto Mais Vidro, Mais Reciclagem #Horecafazpartedasolução. Lançado, em março de 2022, com três modelos de atuação para dotar os estabelecimentos do canal HORECA com mais ferramentas para a separação de embalagens deste material, os resultados são bastante promissores.
Neste piloto que está em curso, só com a instalação de 213 vidrões com o inovador sistema de possibilita o baldeamento assistido, e com mais de 470 estabelecimentos aderentes, assistiu-se a um aumento de 13,2% nas quantidades recolhidas seletivamente deste material, no primeiro trimestre deste ano.
Estes ecopontos que são suportados por um mecanismo tecnológico que baldeiam de forma automática um contentor de 120 lts de uma só vez, anulando o processo manual de colocação das embalagens uma a uma, vieram tornar o processo de separação mais célere e eficaz. Encontram-se em Matosinhos, Gondomar, Espinho, Vizela, Cascais e alguns municípios do Algarve, ou seja, em zonas cuja gestão dos resíduos é feita pela Algar, Cascais Ambiente, Lipor e Resinorte, todos parceiros da SPV.
Soluções existem e estão identificadas, mostrando que o caminho passa por se conseguir aproveitar mais o potencial que a tecnologia tem para oferecer.
E de facto, o sistema de baldeamento assistido consegue preencher as necessidades de deposição seletiva de resíduos de um setor com as especificidades do HORECA, que tem um importante papel a desempenhar no cumprimento das metas do vidro, ditando um maior encaminhamento deste material para reciclagem.
Face aos resultados obtidos entre janeiro e março de 2023, o alargamento deste mecanismo tecnológico a todo o país, aplicado a vidrões vocacionados ou aqueles que têm uma localização próxima de cafés, restaurantes e hotéis, teria permitido recolher mais 35 mil toneladas de vidro, alcançando a meta dos 65% de vidro reciclado no país. È assim evidente, como este projeto da SPV e parceiros demonstra, que é possível colocar o País rapidamente a cumprir as metas da reciclagem do vidro.
Cabe a todos ter um papel ativo e participativo na Reciclagem. Mas é preciso investir e inovar no serviço prestado, e conseguir levar essa inovação a todos quantos dela precisam para que, no final, Portugal recicle mais e melhor todas as embalagens.
Este artigo foi incluído na edição 100 da Ambiente Magazine