“Viagem pelo Clima” percorre Portugal envolvendo a comunidade em prol da sustentabilidade
Já arrancou a primeira edição da “Viagem pelo Clima“, uma competição que leva três equipas de quatro elementos, com idades entre os 18 e os 60 anos, a percorrer Portugal de Norte a Sul numa corrida pela sustentabilidade. Organizada no âmbito do Cooler World – um movimento em direção à Neutralidade Carbónica – criado pela Get2C, em parceria com a Câmara Municipal de Cascais e com o apoio do Fundo Ambiental, a competição teve início esta segunda-feira, 18 de setembro, no Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, no Estoril.
Já são algumas as iniciativas desenvolvidas no âmbito do Cooler World, como é o caso do COPbyElectricCar, uma viagem de carro elétrico, em 2018, de Lisboa a Katovice, na Polónia para a COP 24, ou o Climes to Go, uma competição que levou três equipas de Cascais a Glasgow, em 2021, para a COP 26. O que difere a “Viagem pelo Clima” das restantes iniciativas é que esta competição decorre exclusivamente em Portugal e envolve sete municípios portugueses de norte a sul do país ((Cascais, Famalicão, Faro, Gouveia, Odemira, Portimão e Viana do Castelo), envolvendo e sensibilizando a comunidade. À Ambiente Magazine Maria João Ramos, gestora do projeto, e Margarida Varela, responsável de comunicação da Get2C, acreditam que o facto de ser uma ação que decorre apenas em Portugal e que envolve várias entidades, possa ter “um impacto muito positivo ao nível de sensibilização da população portuguesa no que respeita às alterações climáticas e a um desenvolvimento sustentável do país”.
Aos municípios cabe o desenvolvimento dos desafios que as equipas deverão ultrapassar nas localidades: “Ao todos teremos 18 desafios distribuídos pelo país, durante 10 dias, que criarão muitos momentos com as comunidades locais, o que permitirá falar com pessoas, sensibilizá-las e envolvê-las”, refere Maria João Ramos, acrescentando que “os desafios estão distribuídos por dias temáticos – água, resíduos, floresta e uso dos solos, energia, sustentabilidade e turismo sustentável – e foram definidos de acordo com as principais necessidades identificadas pelas autarquias”.
A avaliação, tal como explica a gestora do projeto, vai se feita ao longo da viagem, onde as equipas levam “no bolso” um orçamento em “climas”, uma moeda fictícia criada pela GET2C, que compreende quatro vetores de avaliação: emissões de CO2, água, tempo e dinheiro (€), e que irá monitorizar todas as escolhas dos participantes ao nível de alimentação, transportes e consumo de água. As equipas deverão “registar diariamente todas as suas escolhas numa app, que irá calcular de forma praticamente automática o seu impacto no planeta”, convertendo-o ainda no custo da moeda em jogo – o “clima”. Além disso, “as equipas podem recuperar alguns climas através da performance nos desafios desenvolvidos em cada um dos municípios parceiros e um desafio de economia circular ao longo de toda a viagem, desafios estes que serão avaliados por um júri no final do projeto”, refere, acrescentando que terão ainda que “responder a dois quizzes sobre sustentabilidade que serão realizados ao longo da viagem”.
O projeto “Viagem pelo Clima” não se fica por aqui. De acordo com Margarida Varela, há uma segunda iniciativa – “as MINI COPS” – dirigida a jovens alunos das escolas dos municípios parceiros, que pretende simular (de forma simbólica) o processo negocial das COP – Conference of the Parties – à escala local, com o envolvimento das escolas, dos jovens, das autarquias e do governo: “A MINI COP têm 3 fases – escolar, municipal e nacional – e desafia os alunos a desenvolverem e sugerirem ideias para tornar o seu município e Portugal mais sustentáveis”
Uma outra novidade nesta competição, avançada pelas responsáveis, é que não é apenas dirigida a jovens: “Desde o desenvolvimento da ideia que fizemos questão de abrir candidaturas dos 18 aos 80 anos, possibilitando a participação de todas as pessoas”.
“… há uma maior disponibilidade para aderirem a ações relacionadas com a sustentabilidade e o ambiente”
Com esta ação, a equipa da Get2C pretende transmitir uma mensagem de que as escolhas diárias têm o poder de influenciar o rumo do planeta e que a ação climática individual e coletiva é crucial: “Queremos demonstrar o impacto das diferentes escolhas ao nível de alimentação, transportes e consumo de água, partilhando conhecimento, assim como algumas ferramentas para que as pessoas que nos acompanham também possam fazer escolhas mais conscientes”.
O facto de não ser uma iniciativa exclusiva para os jovens, permite envolver toda a comunidade: “Todos são bem-vindos e a transição para uma economia de baixo carbono é para todos”, atentam as responsáveis. A “Viagem pelo Clima” recebeu mais de 100 respostas às candidaturas, sendo motivo de grande entusiasmo: “Selecionámos pessoas com mais de 30 anos, o que nos deixa muito felizes”. Ainda assim, o papel dos jovens no caminho da transição climática é indiscutível: “São poderosos agentes de mudança e são eles que herdarão os impactos das decisões que tomamos hoje em relação ao ambiente”.
Questionadas sobre o interesse desta camada mais jovem por iniciativas como esta, a gestora do projeto “Viagem pelo Clima” não tem dúvidas de que “há uma maior disponibilidade para aderirem a ações relacionadas com a sustentabilidade e o ambiente”, algo que se traduziu num “maior número de candidatos com idades entre os 18 e os 27 anos”.
“Esperamos contribuir para a mudança de mentalidades e comportamentos de munícipes de todas as idades/gerações”
Em relação a expectativas, a responsável de comunicação da Get2C afirma que são muito elevadas no que respeita à sensibilização da população e dos municípios: “Esta iniciativa tem muitas componentes, entre as quais a capacitação de técnicos e decisores de cada um dos municípios parceiros e o envolvimento das comunidades locais”. Para além disso, “o ODS 17 é fundamental e temos contado com o apoio das mais diversas entidades, desde o Governo, Municípios, empresas, ONGs e Associações”. O foco é “disseminar boas práticas, encontrar e formar futuros embaixadores do clima, melhorar o acesso dos cidadãos a informação pedagógica sobre a pegada de carbono e hídrica e sobre escolhas quotidianas que possam limitá-las”, afinca.
Por seu turno, a gestora do projeto acredita que os desafios que as equipas vão desenvolver nos municípios, no âmbito das principais necessidades identificadas pelas autarquias de acordo com a realidade de cada município, podem ter um impacto muito positivo na consciencialização e no envolvimento da comunidade nestes temas: “As equipas estão muito entusiasmadas, assim como as autarquias que os têm acompanhado em todo o processo. Esperamos poder impactar positivamente o maior número de pessoas possível e contribuir para a mudança de mentalidades e comportamentos de munícipes de todas as idades/gerações”.
“… desejamos um futuro em que a sustentabilidade seja uma parte natural da vida de todos”
Quanto a futuras edições da “Viagem pelo Clima”, as responsáveis esperam continuar a crescer e envolver mais pessoas e entidades: “Não somos catastrofistas nem fundamentalistas e queremos que o projeto seja uma plataforma de inspiração e ação sustentável em constante evolução”. Além disso, desejam estabelecer mais parcerias sólidas com outras organizações: “Queremos abrir portas a outras autarquias, escolas e empresas e estabelecer parcerias nacionais e internacionais, de forma a replicar esta viagem”. Afinal, “o que desejamos é um futuro em que a sustentabilidade seja uma parte natural da vida de todos, e que a “Viagem pelo Clima” desempenhe um papel fundamental nesse processo”, rematam.
A equipa vencedora será divulgada entre 5 e 10 de outubro e, como prémio, terá a oportunidade de participar na COP28, no Dubai, e apresentar o projeto no Pavilhão de Portugal, num evento da responsabilidade do Ministério do Ambiente. As equipas que ficarem em segundo e terceiro lugar também terão um prémio com o apoio da Nova SBE e da CP.