São mais de três milhões de amendoeiras e dois mil hectares de terra espalhados por diversas herdades localizadas em dois concelhos do interior português, Fundão e Idanha-a-Nova. O investimento de perto de 50 milhões de euros em amendoal que o grupo luso-brasileiro Veracruz está a fazer germinar na Beira Baixa é um dos maiores projetos agrícolas jamais realizados no distrito de Castelo Branco.
Quando a plantação estiver totalmente instalada e a produção a decorrer em velocidade cruzeiro, destes campos vão sair quatro mil toneladas anuais de amêndoa, todas de variedades tradicionais mediterrânicas. No futuro, e através da abertura de capital a outros investidores, a Veracruz pretende chegar aos cinco mil hectares de amendoal implantados.
A primeira fase deste investimento (26,3 milhões de euros) foi recentemente reconhecida pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) como Projeto de Potencial Interesse Nacional (PIN) – um estatuto que distingue os empreendimentos de impacto relevante no país, que promovem o desenvolvimento económico, social, tecnológico e de sustentabilidade ambiental. O lançamento oficial do projeto PIN da Veracruz decorreu ontem, com a presença do secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas.
“Temos como missão fazer de Portugal um player importante no sector de frutos secos na Europa. Pelas suas características edafoclimáticas, Portugal tem todo o potencial para se assumir como uma importante referência na cultura de amêndoa, que por agora se concentra na Califórnia, responsável por 80% da produção total. Por outro lado, pela sua localização geográfica, estamos muito próximos dos consumidores, já que a Europa responde por mais de 40% do consumo global”, refere David Carvalho, sócio cofundador da empresa que junta países irmãos e prevê exportar cerca de 70% da produção.
Sublinhando que já existe um reconhecimento internacional da qualidade dos produtos ‘made in Portugal’, o empresário brasileiro acredita que “é possível potenciar a notoriedade da marca ‘amêndoas de Portugal’, à semelhança do que acontece nos sectores do vinho e do azeite”.
Filipe Rosa, sócio cofundador, afirma que a escolha da Beira Baixa se ficou a dever, não só ao clima e solos perfeitamente adaptados à cultura, como também “à disponibilidade de terra e de água. E, tão importante, à vontade política demonstrada pelos autarcas em acolherem o nosso projeto e reverterem o processo de desertificação do Interior. Somos um projeto-âncora que visa criar um cluster de produção para valorizar esta região. Vamos criar mais de 150 postos de trabalho diretos e indiretos nos próximos anos e assumimos o compromisso de contratar, sempre que possível, mão-de-obra local”.
O empreendimento da Veracruz prevê até 2021 a instalação de uma fábrica de descasque e processamento de amêndoa na mesma região (6,5 milhões de euros). Com capacidade para receber e transformar a produção de outros produtores locais, garantindo-lhes canais de escoamento, esta unidade permitirá atrair outros investimentos em amendoal e reabilitar terrenos abandonados, promovendo o desenvolvimento económico e social da zona.
Apostando nas mais modernas tecnologias de smart farming, este projeto recorre à utilização de drones e à captação de imagens satélite para verificação do desenvolvimento e saúde das plantas. Simultaneamente, implementa as mais sustentáveis tecnologias de agricultura de precisão e economia circular, como a introdução de sondas no solo para monitorização da utilização de água e de fertilizantes.
Além de parcerias científicas e tecnológicas com institutos e universidades locais, a Veracruz pretende apoiar startups de agrotech disponibilizando parte das suas terras como campos de exploração e showroom para estes novos projetos.