Foi em 2002 com o surgimento da Valorpneu que os pneus usados começaram a ter uma nova vida, passando a estar integrados num sistema circular. Até então, este fluxo de resíduos era abandonado pelas ruas ou então queimado, originado inúmeras consequências não só para o planeta mas, também, para os cidadãos. Celebrar 20 anos de um sistema que revolucionou este material tão específica como são os pneus é homenagear o empenho, a dedicação, o esforço e a resiliência de uma equipa que se uniu em prol do mesmo objetivo. A Ambiente Magazine rumou ao Vidago Palace Hotel para assinalar o 20.º aniversário da Valorpneu.
A sustentabilidade esteve sempre na génese da Valorpneu que, desde a sua criação, teve como foco “criar valor neste fluxo específico de resíduos (os pneus)”, começa por afirmar Climénia Silva, diretora-geral da Valorpneu, destacando que, neste 20 anos, já foram “valorizados mais de 150 milhões de pneus com impactos muito positivos no ambiente e na vaidade de todos nós”.
Aquela realidade dos “pneus abandonados” serviu de mote para que houvesse um “trabalho inicial de tentar incorporar no sistema, para além do pneus que eram gerados anualmente, também os pneus que estava abandonados”, explica a responsável, destacando que “foram introduzidos no sistema mais de 55 mil toneladas de pneus que estavam no passivo”. Em matéria de reciclagem, Climénia Silva explica que “grande parte dos pneus é encaminhada para a reciclagem” dando origem a “novos produtos” e, assim, novamente incorporados na economia: “Continuamos a estar muito atentos à evolução futura e às novas soluções, promovendo a inovação no sentido de dar continuidade a este trabalho e alcançar outros desafios”.
Questionada sobre os maiores desafios que, ao longo destas duas décadas, têm dificultado a operação deste sistema, a diretora-geral da Valorpneu dá nota que muitos já foram ultrapassados, mas que outros que ainda persistem. Inicialmente, conseguir ter uma rede capaz de recolher todos os pneus que eram gerados, foi um caminho que se foi fazendo: “Foi um trabalho progressivo e, hoje, temos 52 centros de receção e temos o país (e ilhas) com cobertura total”. Já em matéria de recauchutagem, a responsável considera tratar-se de uma área que ainda enfrenta desafios: “Temos os recauchutadores todos com atividade em Portugal incorporados dentro do sistema, mas é uma área que tem ainda um longo caminho a percorrer”. A título de exemplo, Climénia Silva refere que recauchutagem é um operação que permite ao pneu voltar a circular para a mesma função, sendo algo já muito corrente no meio profissional, mas que no meio não profissional não acontece: “Um cidadão comum não pensar em recauchutar o seu pneu e este é um desafio que fará parte do futuro e do nosso dia-a-dia”. No que há reciclagem diz respeito, a responsável destaca o desafio dos microplásticos: “Sendo o granulado de borracha utilizado nos campos de relva sintética considerado um microplástico está sujeito a restrições e, como tal, está em cima da mesa pela Comissão Europeia a proibição do seu uso, algo que pode dificultar muito este mercado”. Reconhecendo que “devem ser desenvolvidas soluções de mitigação da dispersão deste granulado”, Climénia Silva defende também a criação de outras soluções, dando como exemplo, os programas que a Valorpneu tem lançado, como o “Prémio Inov.ação Valorpneu, “Prémio Nova Ação” ou o “Next Lap Accelerator”, sendo alavancas de inovação e de desenvolvimento de soluções finais para incorporação dos produtos reciclados de pneus.
Quanto ao futuro, é visto com otimismo: “Se demos estes passos todos em 20 anos, nos próximos conseguiremos ir muito mais longe”. A verdade é que “o mundo anda tão rápido, que falar em 20 anos é falar num desconhecido completo”, mas o “desafio é diário e sempre que nos deparamos com um problema tentamos encontrar soluções para ir mais longe e progredir todos os dias”, afinca.
Assinalar duas décadas significa também “agradecer a toda a rede”, sejam os operadores de recolha, sejam os operadores de tratamento, de reciclagem e da recauchutagem: “A Valorpneu não era o que é sem eles”, assegura. Em suma: “Temos tudo a agradecer ao contributo que têm dado, à flexibilidade que têm tido, aos ajustamentos que têm feito e a todas as adaptações face aos desafios que a própria Valorpneu lhes colocam diariamente. Tem sido uma colaboração e uma pareceria e só assim que conseguimos estar aqui com este resultados”, remata.
As celebrações dos 20 anos da Valorpneu foram assinaladas ao longo de dois dias (22 e 23 de novembro), na freguesia de Vidago, em Chaves. No primeiro dia, foi promovido um programa de atividades que inclui a visita a pontos de interesse naquele município. Já o segundo dia, foi dedicado à Valorpneu, onde se falou da operação e dos acontecimentos que mais marcantes destas duas décadas.
Sabia que…
- O que faz a Valorpneu? É a entidade que gere os pneus usados em Portugal;
- Quantos pneus recolhe e valoriza? Recolhe e valoriza 100% dos pneus usados em Portugal, o que corresponde a cerca de 7.500.000 pneus por ano;
- Qual a importância da sua atividade? É muito importante sobretudo para o Ambiente, pois evita a sua contaminação por pneus usados e deixados ao abandono;
- Qual o destino dos pneus usados? Os pneus usados podem ter quatro destinos: Reutilização, Recauchutagem, Reciclagem e Valorização Energética.
- O que é a Reutilização? É a nova utilização dada a um pneu que volta a circular em veículos ou outros equipamentos para os quais foi projetado.
- O que é a Recauchutagem? É quando um pneu usado pode ser reconstruído, permitindo assim prolongar a sua vida útil por mais um ciclo.
- O que é a Reciclagem? É quando se aproveita a borracha dos pneus usados para utilização em novos produtos. Exemplo: pavimentos de parques infantis.
- O que é a Valorização Energética? É quando os pneus usados são utilizados principalmente como fonte de energia, através da combustão controlada dos mesmos.