União para o Mediterrâneo: Iniciativas contra alterações climáticas precisam de políticas assentes em factos científicos
A região do Mediterrâneo é uma das áreas mais sensíveis às alterações climáticas em todo o mundo devido, entre outros fatores, à escassez de água, à desertificação, à concentração de atividades económicas e população nas áreas costeiras e à dependência numa agricultura que é sensível ao clima. O aumento da temperatura em 1,5ºC, o limite estabelecido pelo Acordo de Paris, já tem vindo a ser excedido, tal como confirma o mais recente Special report do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), o Global Warming of 1.5ºC.
Políticas urgentes revelam-se cruciais para reduzir os riscos ambientais e para se considerarem opções de adaptação. Ainda assim, atualmente, a falta de informação adequada está a atrasar este processo – particularmente para as sociedades mais vulneráveis do sul do Mediterrâneo, onde são criados menos esquemas sistemáticos de observações e modelos de impacto.
Ciente deste desafio, a União para o Mediterrâneo (UpM) apoia um esforço regional que sintetize conhecimentos científicos existentes, com o objetivo de fornecer um melhor conhecimento sobre a combinação dos diversos riscos. Este estudo está a ser levado a cabo pela Network of Mediterranean Experts on Climate and Environmental Change (MedECC).
Uma avaliação preliminar do risco associado às alterações climáticas na bacia do Mediterrâneo
Os principais resultados desta avaliação preliminar revelam que o aumento regional da temperatura será de 2.2°C em 2040, possivelmente superior a 3.8°C em algumas regiões no ano de 2100. O nível do mar subiu cerca de 3mm por ano nas últimas décadas. Existem incertezas importantes em relação à elevação global do nível médio do mar. O intervalo de projeções futuras vai de 52cm a 190cm de aumento até 2100.
Os recursos hídricos estão distribuídos de forma desigual ao redor do Mediterrâneo, com recursos de água doce em qualidade e quantidade decrescentes. Por outro lado, a necessidade de alimento tem vindo a aumentar enquanto as colheitas, lucro com pesca e produção de gado estão em declínio. Os ecossistemas são cada vez mais afetados pelas alterações climáticas, mudanças na utilização da terra, pela poluição e sobre-exploração.
Com recursos limitados e o aumento de conflitos sociais, as migrações humanas em grande escala podem ser um fenómeno a esperar. Os países do Mediterrâneo do Sul e do Este são os frequentemente mais vulneráveis, com condições sanitárias que facilmente se deterioram devido a situações sociais e políticas.
Infraestruturas resilientes ao clima e particularmente os seus financiamentos, tornam-se fundamentais para enfrentar os efeitos adversos das alterações climáticas
Um estudo regional encomendado pela UpM sobre financiamento público sustentável a nível internacional destaca que a região Sul e Este do Mediterrâneo recebeu, em 2016, um montante anual de cerca de 8,3 mil milhões de dólares para empregar em finanças sustentáveis. Tal representa 13% do financiamento mundial para a ação climática. Os principais beneficiários dos fluxos de financiamento na região do Mediterrâneo são atualmente a Turquia (38%), o Egito (22%), Marrocos (12%) e a Jordânia (12%). Os projetos de mitigação compõem a maioria dos fundos obtidos (transporte e geração de energia).
Deputado secretário geral para a Energia e Ação Climática na UpM, Jorge Borrego: “Com um aumento estimado em 98% da necessidade de energia por parte dos países do Sul do Mediterrâneo em 2040, ações que combatam as alterações climáticas são centrais para a integração e estabilidade desta região.”
Apresentação dos estudos na COP24 e outras atividades da UpM
A União para o Mediterrâneo é observadora na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). Como parte da Agenda das Nações Unidas 2030 para o Desenvolvimento Sustentável de 2030 e do seu Roteiro para Ação, a UpM está a intensificar a sua parceria com iniciativas e organizações regionais e globais para promover uma agenda positiva para a região no que toca à energia e ação climática. Desta forma, dois Memorandos de Entendimento serão assinados com a Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas e com o Secretariado da UNFCCC, a fim de unir forças sobre a monitorização do Clima e da Água e sobre Financiamento Sustentável, respetivamente.