Uma em cada quatro tartarugas marinhas que desovam em Cabo Verde são apanhadas
Uma em cada quatro tartarugas marinhas que desovam nas praias de Cabo Verde são apanhadas para consumo. No ano passado, tanto a captura como o número de ninhos aumentaram.
Uma em cada quatro tartarugas marinhas que desovam nas praias de Cabo Verde são apanhadas para consumo, revelou à agência Lusa fonte oficial, indicando que, no ano passado, tanto a captura como o número de ninhos aumentaram.
Em declarações à Lusa, Berta Renom, da Rede Nacional de Proteção das Tartarugas Marinhas (Rede Taola), explicou que, no ano passado, o país registou 43.500 ninhos de tartarugas, um aumento de mais 12 mil do que o ano anterior, em que foram registadas 31.500 desovas.
Segundo a responsável, Boavista foi a ilha que registou maior número de desovas, com 23 mil, seguida do Sal, com cerca de 7.700, e do Maio, com cerca de 5.500 ninhos. Berta Renom avançou que foram registados ainda ninhos de tartarugas em outras ilhas e ilhéus cabo-verdianos, com destaque para o ilhéu Rombo, perto da ilha da Brava, com cerca de três mil.
Relativamente à captura, a Rede Taola registou um total de 614, superior ao ano anterior, em que foram contabilizadas 532 tartarugas apanhadas para o consumo, prosseguiu Berta Renom, referindo que 25% das fêmeas que desovam são mortas.
A bióloga sublinhou que estes são dos dados “registados”, pelo que o número de tartarugas capturadas para o consumo humano pode ser ainda maior, isto sem incluir as mortes por acidentes, pesca e poluição marinha, cujos números são contabilizados “à parte”.
Berta Renom disse que ainda não se pode fazer uma caracterização exaustiva das tartarugas marinhas em Cabo Verde, visto que a Rede Taola, que funciona desde o ano 2000, precisa de, pelo menos, 20 anos de “dados consistentes e sólidos” de todo o arquipélago, bem como de mais dados sobre os mares cabo-verdianos.
A representante da Rede Taola notou que muito já foi feito em Cabo Verde nos últimos anos e a grande maioria da população já está sensibilizada com o meio ambiente, em geral, e com as tartarugas marinhas, em particular, mas lamentou que o consumo ainda continua no país. “Ainda não encontramos formas de sensibilizar as pessoas sobre o consumo, mas vamos continuar a trabalhar neste sentido e arranjar estratégias”, mostrou.
A legislação cabo-verdiana já prevê penalizações para a captura e venda de produtos derivados de tartarugas e o país tem vindo a adotar medidas para proteger a espécie, mas as associações ambientalistas consideram que são insuficientes e que na maior parte dos casos a legislação não é aplicada.
Em junho do ano passado, o Governo cabo-verdiano aprovou, em Conselho de Ministros, a criminalização do consumo de carne e ovos de tartaruga, reforçando as medidas previstas no regime jurídico especial de proteção das tartarugas marinhas.
A lei ainda não entrou em vigor, mas Berta Renom acredita que isso poderá acontecer “nos próximos dias ou semanas”, para começar a surtir efeito a partir da próxima temporada de desova, que começa em junho.
“É um avanço para a conservação das tartarugas marinhas em Cabo Verde e que nos vai permitir realizar um trabalho com e em melhores condições”, enfatizou, reforçando que é preciso continuar a apostar na sensibilização e na prevenção.
A população de tartarugas marinhas ‘Caretta caretta’ de Cabo Verde é a terceira maior do mundo, sendo apenas ultrapassada pelas populações na Florida (Estados Unidos) e em Omã (Golfo Pérsico).
As tartarugas visitam as praias para construir os ninhos e depositar os ovos, estimando-se que 85% a 90% da nidificação ocorra nas praias da Boavista.