Um pequeno insecto vai lutar contra uma das “piores plantas invasoras em Portugal”
Milhares de insectos australianos começarão a ser libertados no próximo Outono em Portugal para controlar a praga da acácia-de-espigas que também veio daquele país. Em causa está uma pequenina vespa, com apenas três milímetros, capaz de comprometer a reprodução desta planta, originária da Austrália, que se espalhou descontroladamente por vastas áreas pelo nosso país.
Este tipo de controlo biológico é comum nalgumas circunstâncias – como para reduzir pragas que afectam culturas. No entanto, é a primeira vez que é autorizada, em Portugal, a libertação deliberada de um insecto (o Trichilogaster acaciaelongifoliae), para controlar directamente uma planta invasora. Trata-se de um combate inédito e, mesmo na Europa, é apenas a terceira vez que há “autorização para a libertação de um agente de controlo natural para conter uma planta invasora em Portugal”. faz alusão o jornal Público. Ao fim de mais de 12 anos de estudos, avaliações de risco e pedidos de autorização, passando o crivo de autoridades nacionais e europeias, investigadores de Coimbra obtiveram esta autorização.
A autorização agora obtida é “um passo de gigante numa Europa muito conservadora em relação ao controlo natural de plantas invasoras” e “abre portas para a utilização desta tecnologia no futuro, para o controlo de outras espécies de plantas invasoras”, sustenta Helena Freitas da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC).
“A espécie-alvo do inseto, cuja libertação foi agora autorizada, é a acácia-de-espigas, um arbusto/pequena árvore australiana, que é uma das piores invasoras no litoral português”, sublinha a equipa de investigadores envolvidos neste processo, que é integrada por especialistas do Centro de Ecologia Funcional (CEF) da Universidade de Coimbra, coordenado por Helena Freitas.
Com este método, pretende-se eliminar um dos factores centrais para a proliferação desta praga em Portugal. “Um dos grandes problemas da acácia é que as suas sementes permanecem viáveis no solo por muitos anos”, explica Hélia Marchante, investigadora do Departamento de Ambiente da Escola Superior Agrária de Coimbra, que já trabalha neste projecto há anos. Além de ameaçar a biodiversidade nativa, esta planta, que foi trazida do hemisfério sul, “altera o solo e a dinâmica do sistema dunar, diminui a produtividade em áreas florestais e acarreta custos elevados para o seu controlo”.
Os especialistas realizaram testes em outras plantas (na África do Sul e em Portugal) e asseguram que “o inseto não afetará espécies não-alvo”. Este pequeno himenóptero, com dois/três milímetros, é “muito específico” e “precisa da acácia-de-espigas para completar o seu ciclo de vida”. Em Portugal, “foi testada uma lista de 40 plantas incluindo espécies nativas e espécies com interesse económico, e apenas se observou a formação de galhas em acácia-de-espigas, o que corrobora a grande especificidade deste organismo”, realçam os investigadores.
Os métodos utilizados em Portugal para controlar acácia-de-espigas (controlo mecânico, por vezes, conjugado com controlo químico) têm-se revelado “ineficazes” e “muito dispendiosos”, sobretudo porque “a germinação das sementes armazenadas no solo promove a rápida reinvasão das áreas intervencionadas”.
O controlo natural é uma “importante ferramenta/tecnologia para a conservação da natureza”, sendo “sustentável e amigo do ambiente, quando utilizados organismos bastante específicos, como é o caso deste inseto formador de galhas”, conclui a Universidade de Coimbra em comunicado.
A área inicial do projecto, realizado em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), estende-se entre a Figueira da Foz e São Jacinto.