Um minúsculo inseto australiano é uma das armas contra a invasão das acácias
Um minúsculo inseto australiano, com dois a três milímetros, foi utilizado pela primeira vez em 2015 para ajudar a controlar as acácias-de-espigas, e, este ano, noticia hoje a Lusa, espera-se a libertação de alguns milhares por toda a costa para lutar contra essa espécie invasora.
A acácia-de-espigas (Acacia longifolia), uma das espécies de acácias mais frequentes em Portugal, está presente um pouco por todo o território, principalmente no litoral do Centro e Norte, onde se alastrou face ao seu “grande poder de reprodução”, chegando-se a contabilizar milhares de sementes por metro quadrado ao seu redor, disse à agência Lusa a investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra Elizabete Marchante.
Para combater a espécie invasora, investigadores do CFE e da Escola Agrária de Coimbra encontraram num pequeno inseto australiano (Trichilogaster acaciaelongifoliae) “um bom candidato”. Originário do mesmo país da acácia-de-espigas, o inseto tem a especificidade de formar galhas apenas nas gemas florais desta planta e em mais nenhuma outra (ao longo de várias anos, foram feitos testes em diferentes plantas nativas de Portugal para poder ser introduzida a espécie).
“Os galhadores são insetos que conseguem colocar ovos” nas gemas florais, fazendo depois com que a planta “desenvolva uma estrutura, que é a galha, e, dentro dessa galha, o inseto vai-se desenvolvendo e completando o seu ciclo de vida”, explicou Elizabete Marchante. Fora das galhas, os insetos duram dois ou três dias, tempo em que procuram novas gemas para colocar os ovos (podem chegar a colocar 300) e começar o ciclo de vida, que dura um ano. A formação das galhas nas gemas florais “diminui a capacidade da planta para produzir novas sementes”, sublinhou a especialista em plantas invasoras, acrescentando que estas também “afetam o próprio vigor” da acácia.
O inseto já foi testado na África do Sul, onde a acácia-de-espigas também é invasora. Naquele país, ao fim de dez anos registou-se “uma redução de mais de 80% da produção de sementes”.
Em Portugal, espera-se que demore mais tempo até se começarem a ver acácias cheias de galhas, visto que o inseto tem de se adaptar à mudança de hemisférios, explanou a especialista.
Em novembro de 2015, a primeira geração foi introduzida, com a libertação de algumas centenas em vários locais ao longo da costa, entre São Pedro de Moel, distrito de Leiria, e São Jacinto, Aveiro. Por sua vez, em 2016, foram libertados “mais de mil”, de Vieira de Leiria a Esposende e, agora, os investigadores esperam poder distribuir “milhares” destes pequenos insetos australianos em áreas protegidas e de rede Natura “ao longo de toda a costa”, de norte ao sul do país, num projeto financiado por fundos comunitários, que envolve diferentes parceiros.
As introduções começam em julho e agosto, e dependem do número de insetos da nova geração criada, após a introdução nos anos transatos, sendo que poderão ser também trazidos insetos da África do Sul, para libertar em novembro e dezembro.
Para Elizabete Marchante, este agente de controlo natural poderá ser uma ferramenta para controlar esta espécie específica de acácias, uma das mais presentes no território nacional. “Será uma grande ajuda”, conclui.