A Águas do Ribatejo participou no ENEG 2023 (Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento), no Multiusos de Gondomar. A Ambiente Magazine conversou com Miguel Carrinho, diretor-geral da entidade.
O que pensa do mote “Um grito pela Água”?
Este mote não podia estar mais ajustado àquilo que estamos a viver atualmente, que é um momento complicado a nível global, do ponto de vista das alterações climáticas. Sendo a água um recurso tão importante e sendo certo que estamos longe de cumprir as metas de Paris, isso significa que estamos muito longe de garantir a sustentabilidade que precisamos para o planeta. E a água, enquanto recurso essencial à vida, acaba por vir por arrasto. Este “grito pela água” acaba por abanar o setor geral do ambiente, mas diria que a população ainda não percebeu a importância de mudarmos os nossos comportamentos e a nossa forma de olharmos para a água. Temos de fazer as coisas mais rápido, mais bem feitas, de forma mais eficiente, se não as gerações a seguir terão muitos problemas.
Qual o feedback da vossa participação?
Estes três dias foram extremamente enriquecedores porque se discutiram as grandes temáticas, os grandes desafios que se colocam ao setor, foi feito um esforço de trazer oradores de outros setores de atividade. Na verdade, o setor da água tende um bocado a fechar-se em si próprio, e não há necessidade de falar para fora as problemáticas. Acabamos por ser as vítimas do nosso próprio sucesso: nós conseguimos entregar a água 24/7, 365 dias por ano, água de excelente qualidade, e as pessoas dão isso por adquirido e deixam de valorizar o que está a montante. Temos de encontrar novas formas de transmitir a importância do trabalho que fazemos e a importância deste recurso.
Quais os problemas que têm de ser resolvidos e/ou prevenidos na região do Ribatejo?
Há um conjunto de desafios que são transversais a todo o país. No Ribatejo, temos algumas especificidades, como uma atividade agrícola muito forte – o setor da agricultura é o maior utilizador de água, à frente dos serviços urbanos e da indústria. Sendo um recurso que a todos interessa, precisaríamos de trabalhar mais em articulação com todos e encontrar aqui uma abordagem integrada, comum e partilhada para a preservação e utilização da água.
A Águas do Ribatejo tem feito um esforço muito grande para a redução das perdas, tendo vindo a baixar as mesmas e a melhorar a eficiência. E isso significa muito investimento, não só na reabilitação de condutas, mas também em equipamentos, em tecnologia e em recursos humanos. Temos apostado na melhoria das condições do saneamento, sendo que desde 2009 fizemos muitas dezenas de milhões de euros de investimento para levar o serviço onde ele não existia. Hoje, todos os efluentes são recolhidos e são tratados de forma adequada, temos uma água de excelência com valores de cumprimento muito próximos dos 100%, temos trabalhado muito a questão da resiliência para eventos extremos, aumentando a reserva de água para dar resposta a eventuais problemas que possam surgir.
A questão da renovação do parque de infraestruturas é um desafio gigantesco. Muitas das redes de abastecimento de água que existem têm 30 a 50 anos e a sua renovação implica um investimento muito significativo, num quadro em que os apoios financeiros, designadamente em fundos comunitários, têm vindo a ser reduzidos. As verbas do PRR ficaram muito aquém daquilo que deve ser a aposta num setor tão estratégico como é o nosso.
O ENEG permite reunir novas ideias e aprender com outras entidades?
Sem dúvida! Diria que, muito provavelmente, o ponto mais forte do ENEG tem muito a ver com isso – essa partilha. Tivemos mais de 200 comunicações feitas por técnicos de diversas entidades gestoras, que vêm partilhar projetos, ideias, iniciativas. Na generalidade das situações, os problemas e os desafios são transversais. Saímos daqui com mais confiança e melhor preparados para o futuro.
Como coordenador da Comissão Especializada de Inovação da APDA, fizemos aqui a apresentação de uma iniciativa, H2O-IN, onde o principal objetivo é puxar entidades gestoras, de média e pequena dimensão, universidades, startups e outras empresas, e trabalhar em conjunto para resolver problemas comuns.
Como ambiciona ver o setor daqui a cinco anos?
Nestes próximos cinco anos muita coisa vai mudar. Temos novos desafios que chegam agora, temos nova legislação no que respeita à qualidade da água, temos nova diretiva europeia das águas residuais, que vai implicar uma mudança enorme como olhamos para estas águas e que vai implicar investimentos enormes. Há uma pressão muito grande para que se melhore a eficiência e nós, entidades gestoras, teremos de ter uma resposta mais rápida. Acredito que daqui a cinco teremos um setor mais bem preparado, com grande evolução tecnológica, com o auxílio da inteligência artificial, que acredito que vá ter aqui um papel importante.