O ambiente de confiança que se viveu durante os primeiros dias da cimeira do clima, a decorrer em Marraquexe, arrefeceu da noite para o dia depois de se saber da vitória de Donald Trump, que durante a campanha para a presidência classificou as alterações climáticas como uma “farsa” e defendeu a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, noticiou hoje o Diário de Notícias.
Apesar das dúvidas que ressurgem no horizonte, esta quarta-feira, todos preferiram reafirmar publicamente a confiança nas futuras ações comuns para travar as mudanças do clima causadas pela civilização industrial, que há 150 anos está a injetar na atmosfera do planeta volumes cada vez maiores de gases com efeitos de estufa.
Sob a nova sombra de incerteza, cujas repercussões são ainda difíceis de avaliar, os delegados à COP22 decidiram manter o espírito otimista e prosseguir normalmente os trabalhos. Até porque esta COP continua a ter a missão de delinear – ou pelo menos, de iniciar esse processo – as regras do acordo aprovado na capital francesa, em dezembro do ano passado, e que entrou em vigor desta a última sexta-feira.
Em declarações ao longo do dia, muitos responsáveis políticos optaram por desvalorizar um eventual risco que a vitória de Donald Trump poderá representar para a luta comum contra as alterações climáticas, preferindo sublinhar a robustez do Acordo de Paris.
Ao final do dia, o presidente da COP22, o marroquino Salaheddine Mezouar, depois de felicitar Trump e de sublinhar “as responsabilidades comuns de se continuar com os progressos alcançados até à data”, afirmou a convicção “de que todas as partes vão respeitar os seus compromissos e manter em curso este esforço coletivo”.
Na Casa Branca, a administração Obama, ainda em funções, fez questão de reforçar a sua posição em defesa do Acordo de Paris e das ações que o documento vai implicar. “Esta administração estará empenhada na implementação dessas políticas [no âmbito do Acordo de Paris] até 20 de janeiro e vamos cumprir os compromissos que assumimos”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em conferÊncia de imprensa.
Receio de uma marcha-atrás
Entre muitos dos delegados e ambientalistas presentes em Marraquexe dominava, no entanto, um grande sentimento de incerteza e o receio em relação ao futuro, dadas as posições que Trum por várias vezes tomou, durante a corrida à Casa Branca.
Em diferentes ocasiões, o próximo presidente dos Estados Unidos classificou o aquecimento global como uma “farsa”, refutou a ciência das alterações climáticas, dizendo que são “uma invenção da China” e garantiu aos seus eleitores não apenas que tomará a decisão do Acordo de Paris. E fará tudo para revigorar a economia e os empregos ligados à exploração e utilização dos combustíveis fósseis.