No âmbito do Dia Mundial da Eficiência Energética, assinalado no passado dia 5 de março, a associação ZERO lembra, segundo as estimativas, que 80 milhões de pessoas em toda a União Europeia lutam para aquecer as casas durante este inverno, devido ao forte aumento dos preços do gás e da energia. O mesmo acontece em Portugal, com um parque edificado obsoleto, em que 69,5% das habitações avaliadas tiveram uma classificação energética entre C e F (as classes de energia menos eficientes), 17,5% da população não tem possibilidade económica para aquecer a casa convenientemente.
A ZERO volta a reforçar a importância de se reduzir a necessidade de energia através de melhorias na eficiência energética e assegurar a transição para aquecimento e refrigeração sustentáveis para combater as alterações climáticas. Além disso, “as camadas mais vulneráveis da sociedade devem ser apoiadas neste abandono dos sistemas fósseis que têm alimentado a crise ambiental e a injustiça social”, acrescenta.
No que respeita ao setor da habitação, a associação partilha três medidas essenciais:
- Abraçar a Poupança e a Suficiência Energética: A forma mais limpa e mais barata de energia é aquela que não utilizamos e precisamos que todos tenham a possibilidade de renovar as suas casas.
- Rejeitar soluções falsas: Substituir o aquecimento alimentado por combustíveis fósseis por energias renováveis; a tecnologia existe e a descarbonização do aquecimento e da refrigeração pode agora depender totalmente de tecnologias já bem testadas, renováveis, sustentáveis e sem emissões.
- Proteger os consumidores vulneráveis: Desviar os subsídios dos combustíveis fósseis para soluções de energias renováveis; apesar da sua maturidade, competitividade e potencial abundante, as barreiras que impedem milhões de lares de beneficiar das tecnologias de aquecimento e arrefecimento renováveis continuam a ser demasiado elevadas.
A ZERO reforça que o futuro governo deve aprovar com a maior urgência uma Estratégia de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética e promover uma rápida transição para se usar fontes renováveis para se conseguir melhorar o conforto nas habitações.
“Já temos programas de apoio a edifícios mais sustentáveis que são necessários otimizar e é necessário operacionalizarmos a transição para equipamentos que não continuem a recorrer ao uso do gás, mas usem de forma eficiente a eletricidade de origem renovável”, declara Francisco Ferreira, presidente da ZERO.
A ZERO é apoiada pela European Climate Foundation (ECF) num projeto relacionado com a eficiência energética nos edifícios. O projeto tem como objetivo a monitorização a nível nacional da Diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD, em inglês) e combate à pobreza energética. Numa ótica de eficiência energética, “é urgente integrar os princípios de racionalização de energia nos edifícios novos e nos que necessitam de obras de reabilitação, para evitar que os consumos energéticos aumentem drasticamente”, refere a associação, dando nota que “a poupança energética é um primeiro passo importante e um uso eficaz da energia pode melhorar as condições de conforto das casas”.
Agência Internacional de Energia partilha a “receita” para a Europa
Recentemente, a Agência Internacional de Energia partilhou um conjunto de pontos alinhados com o apelo da ZERO no que respeita ao corte da importação de gás russo:
- Não assinar nenhum novo contrato de fornecimento de gás com a Rússia.
- Acelerar a implantação de novos projetos eólicos e solares
- Decretar medidas fiscais de curto prazo sobre lucros inesperados para proteger consumidores de eletricidade vulneráveis de preços altos
- Acelerar a substituição de caldeiras a gás por bombas de calor
- Acelerar as melhorias de eficiência energética em edifícios e indústria
- Incentivar uma redução temporária do termostato de 1°C pelos consumidores
- Intensificar os esforços para diversificar e descarbonizar as fontes de flexibilidade do sistema de energia.
No entender da ZERO, a guerra na Ucrânia torna clara a dependência da Europa face aos combustíveis fósseis. Por isso, a associação considera que o conflito deve estimular a eliminação progressiva deste tipo de combustíveis, mas num ritmo mais acelerado. O recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas já dá uma “imagem assustadora” dos impactos que já estão a ser sentidos em todo o planeta, com especial incidência no Sul Global, relembra a ZERO, acrescentando que, para fazer face aos desafios, é necessária uma transição rápida e justa do carvão, petróleo e gás, reduzindo o consumo de energia, através duma maior eficiência, e apostando nas energias renováveis. “Este é o único caminho viável para reduzir rapidamente a dependência de Portugal e da UE dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo que contribui de forma justa para atingir o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C”, defende.