Transações ESG ganham força enquanto alavanca estratégica para a transformação ambiental
O número global de transações relacionadas com questões ambientais, sociais e de governance (ESG) aumentou 60%, de cerca de 5.700 em 2011 para um máximo histórico de aproximadamente 9.200 em 2021. Esta é uma das conclusões do relatório “The 2022 M&A Report” da Boston Consulting Group (BCG), realizado em colaboração com o professor Sönke Sievers, da Universidade de Paderborn.
Segundo a análise, partilhada pelo BCG, o volume destes negócios enquanto parcela de toda a atividade de mercado global de fusões e aquisições (M&A) aumentou de 12% em 2001 para 17% em 2011, e ainda mais em 2021 para 22%, o que sugere que mais investidores estão a reconhecer o potencial de criação de valor destas transações.
“A atividade de M&A em 2022 abrandou em relação a 2021, com o volume e o valor das transações a baixar 13% e 32%, respetivamente”, refere Jens Kengelbach, responsável global de M&A da BCG e coautor do relatório, acrescentando que “mesmo numa conjuntura atual de elevada inflação, taxas de juro crescentes e abrandamento do crescimento económico, observamos uma tendência a longo prazo de que poderão potenciar a atividade de M&A. O número de transações centradas em ESG tem vindo a aumentar consistentemente há 20 anos e o total de transações relacionadas com o ambiente duplicou. Além das motivações tradicionais, a sustentabilidade encontra-se a ganhar relevância como motivo para adquirir ou desinvestir em negócios”.
Negócios verdes ganham tração
A análise da BCG revela uma clara tendência ascendente nos negócios relacionados com ESG ao longo da última década, tendo a aceleração sido mais forte em 2021, quando o volume de negócios deu um salto de 35% após dois anos mais suaves para uma atividade de M&A e transações de ESG mais amplas. Embora as transações relacionadas com o ambiente (ou seja, “transações verdes”) representem apenas uma pequena fração de todas as transações de M&A, estes aumentaram nos últimos anos – “subindo para 6% em 2021, depois de pairarem nos 5% entre 2011 e 2019”. Este aumento de 20% de 2019 a 2021 indica que “as transações verdes estão a ganhar força enquanto alavanca estratégica para a transformação ambiental”, aponta o relatório.
De acordo com a análise, as M&A verdes têm vindo a crescer particularmente rápido nas indústrias que estão na vanguarda da transição energética e nos mercados emergentes. Nos últimos dez anos, a indústria da energia e dos serviços públicos teve a maior quota de M&A verdes, bem como o maior aumento, subindo de 20% em 2011 para quase 40% em 2021. A região com o maior nível de atividade de M&A verdes em 2021 foi o Médio Oriente, com mais de 10% das transações a estarem relacionados com o ambiente, após uma quota constante de cerca de 3% a 5% desde 2014. A região Ásia-Pacífico (especialmente a China) foi a segunda região mais ativa, com uma quota de transações verdes de aproximadamente 8% em 2021, indica o relatório.
Negócios verdes geram retornos mais elevados
À medida que os acordos verdes se tornam mais populares, vão ficando também mais caros. Os preços médios de aquisição para estes negócios excederam a média global do mercado em aproximadamente 7% nos últimos três anos, com encargos de 20% a 30% em certas indústrias. No entanto, o estudo da BCG revelou que, apesar do excedente substancial que muitas vezes exigem, as transações verdes criam geralmente mais valor quando anunciados e durante os dois anos seguintes do que os que não o são. Ao analisar períodos de três dias antes e depois do anúncio de um negócio, a BCG chegou à conclusão de que o retorno anormal cumulativo médio das transações relacionadas com o ambiente (1%) é significativamente mais elevado do que o das transações não relacionadas com o tema (0,6%). O relatório também determinou que o retorno médio de dois anos de um shareholder de transações verdes (0,6%) excede o das transações não-verdes (0,4%).
“Os negócios verdes muitas vezes exigem um investimento extra substancial – podendo atingir os 20% a 30% em certas indústrias -, mas a nossa investigação mostra que, em muitos casos, o preço é justificado”, afirma Daniel Friedman, sócio da BCG e coautor do relatório, destacando que “tanto a curto como a longo prazo, a mensagem é clara: as empresas que utilizam a abordagem certa para fazer negócios verdes geram retornos mais elevados”.