“Pensar global, para agir localmente”. Esta é uma das premissas que o Ministério da Agricultura defende no combate ao desperdício alimentar. Esta quarta-feira, 29 de setembro, assinalou-se o Dia Internacional da Consciencialização sobre perdas e Desperdício Alimentar e, para comemorar a efeméride, o Ministério da Agricultura promoveu uma Mesa Redonda dedicada à análise dos instrumentos de combate a este flagelo.
Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, começou por felicitar o nível de atuação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que tem sido um “parceiro fundamental” de Portugal, no sentido em que, juntos têm trabalhado na criação de “sistemas alimentares mais justos e inclusivos” e onde agricultura é o “cerne” de uma alimentação saudável: “Estamos empenhados em criar condições para que a Cimeira dos Sistemas Alimentares (23 de setembro) possa ser um sucesso e possa contribuir para promover uma alimentação acessível a todos”. No âmbito desta colaboração, nasceram também “quatro manuais didáticos”, destinados à camada mais jovem, e que se debruçam, sobretudo, sobre a redução do desperdício alimentar. Sob o mote “Pensa um Momento, Poupa um Alimento!”, esta ação procura envolver as crianças no esforço global de reduzir o desperdício alimentar e mitigar os impactos económicos, ambientais e sociais que lhe estão associados. “Acredito mesmo que projetos como estes marcam a diferença e ajudam a contribui para um futuro melhor”, disse a ministra, destacando que, da mesma forma, “as ações de sensibilização ou de educação são fundamentais para podermos não só falamos sobre a importância da alimentação, como também das escolhas alimentares onde o desperdício alimentar tem um foco muito especial”.
Olhando às estimativas e citando a FAO, a ministra da Agricultura lembra que, entre 2012 e 205, a procura de alimentos, à escala global, pode aumentar entre 40 a 54%: “Se por um lado, acontece esta procura de alimentos, por outro lado, sabemos que temos condições mais restritas para a sua produção porque temos menos recursos naturais, como a água ou o solo”. Num cenário marcado pelas “alterações climáticas” em que a população tende a crescer e, consequentemente, a procura de alimentos também, Maria do Céu Antunes deixa um alerta: “Temos que, obrigatoriamente, usar de forma racional os recursos – energia, água e solo – e produzir mais com menos”. E tão importante: “Temos de olhar para o desperdício alimentar com um ato cidadania: se não temos, felizmente, fome na Europa, temos noutras partes do planeta”. Por isso, defende a governante, o combate ao desperdício deve ser uma “preocupação política”, uma vez que, tal como outros desafios, este tem também “reflexos ambientais, económicos e sociais”. E é precisamente por isso que Portugal, criou em 2016, a Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar: “A missão é promover a redução do desperdício alimentar através de uma abordagem integrada e multidisciplinar holística”. A Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar, aprovada em 2018, surgiu dessa mesma missão, tendo como objetivo “prevenir, reduzir, medir e avaliar o desperdício alimentar”. Este são objetivos ambiciosos, dos quais Portugal e a Europa carecem: “Faltam-nos instrumentos que nos permitam fazer esta avaliação e faltam-nos dados concretos para podermos ir afinando a política pública e responsabilizando o cidadão”, atenta. Ainda assim, conscientes da importância, foi criada para a próxima década uma “Agenda de Inovação para Agricultura”. Designada por “Terra Futura”, a agenda engloba vários objetivos, destacando-se, neste caso, o empoderamento do cidadão: “Temos que ter cidadãos mais conscientes das suas escolhas no impacto da alimentação”. Assim, através desta agenda, pretende-se “criar consciência sobre a importância da alimentação para saúde e bem-estar, bem como para as escolhas que vão promover e proteger o uso racional dos recursos e do planeta”. Alinhada com a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar está a Estratégia “do Prado ao Prato”: “Na União Europeia temos o objetivo de desenvolver um sistema alimentar mais justo e que seja um padrão mundial para sustentabilidade”.
Como nota final, a ministra da Agricultura lembra que, apesar dos fenómenos mais intensos que têm decorrido devido ação humana, não é o planeta que se destrói: “Aquilo que pode estar em causa é a nossa existência enquanto espécie, e por isso, a alimentação aliada à agricultura e a forma como consumimos é essencial”.