“(Temos) de encontrar formas de viver com o plástico e reduzir os resíduos de plástico mal geridos”
A utilização de plástico e os resíduos de plástico aumentarão numa base anual até 2060. Esta é uma das conclusões do “Plastic pollution: Pathways to net zero” da Credit Suisse que, apesar dos cenários analisados, as estimativas de poluição através de plástico são, na generalidade, inferiores às de estudos anteriores.
À Ambiente Magazine, Livia Heinzmann, coautora do relatório e representante do Credit Suisse, adianta que, através do conjunto de dados revistos, foi atualizada a conhecida a declaração de 2016 de um artigo da Fundação Ellen MacArthur segundo o qual, até 2050, haverá mais toneladas métricas de plástico do que peixes no mar: “Fazemos a afirmação interessante, embora menos sensacionalista, de que, sem uma ação política adicional até 2060, poderá haver mais toneladas de plástico do que biomassa de baleias no mar”. Apesar do caminho para a neutralidade na poluição por plásticos exigir “medidas de mitigação para restringir a procura de plástico e reduzir a intensidade dos desperdícios de plástico no PIB”, a responsável defende que a contribuição mais significativa é a “adaptação”, o que significa “encontrar formas de viver com o plástico e reduzir os resíduos de plástico mal geridos em percentagem do total de resíduos de plástico”.
Explicar o uso substancial do plásticos nos últimos anos é algo inexplicável: “O plástico é, e provavelmente continuará a ser, omnipresente na vida moderna, desde as embalagens aos têxteis aos produtos de consumo, o que comprova a sua vasta aplicabilidade, valor e durabilidade”. Com base na investigação feita para este relatório, “descobrimos também que, por cada dólar de PIB acrescentado à economia global, os dados sugerem que foi necessária uma quantidade crescente de plástico”, tornando a “economia global altamente dependente do plástico”, explica.
Tendo como base a “Plastic Usage Kaya Identity”, o Credit Suisse estabelece previsões até 2060 e, com isso, concluiu-se com este relatório que “a alteração das atividades económicas diminui a intensidade dos resíduos de plástico no PIB em 15% e que a trajetória existente para a gestão de lixo reduz os resíduos de plástico mal geridos, como proporção do total de resíduos de plástico de 22% para 15%”. No entanto, estes fatores são mais do que compensados pelo crescimento populacional e económico: “A adoção de medidas políticas adicionais, incluindo esforços de atenuação e adaptação, tem potencial para reduzir ainda mais estes números”, precisa Livia Heinzmann.
Questionada sobre os riscos associados deste uso crescente, a responsável refere o plástico, ao longo do seu ciclo de vida, pode ter impactos negativos no clima, na biodiversidade e na sociedade: “As emissões de gases com efeito de estufa associadas à indústria dos plásticos (incluindo a produção – mais de 90% dos plásticos são produzidos a partir de matérias-primas virgens à base de combustíveis fósseis) são equivalentes às que seriam produzidas por cerca de 1500 centrais de carvão a funcionar anualmente”. A biodiversidade e os impactos sociais resultam, precisamente, da má gestão do plástico: “Os plásticos podem, por exemplo, levar ao aprisionamento de espécies, a que muitos animais possam confundir os plásticos com alimentos e ingeri-los, provocando ferimentos graves, asfixia e morte”. Além disso, “os produtos químicos tóxicos e os microplásticos podem ser libertados para o ambiente, constituindo uma ameaça para os ecossistemas aquáticos e terrestres”, refere a especialista, acrescentando ainda que “a poluição plástica também tem influência na saúde humana quando entra nos alimentos e na água”, bem como através da “poluição atmosférica causada pela queima de plásticos a céu aberto”.
“O plástico está omnipresente na nossa economia”
Com base nestes riscos associados, o relatório “Plastic pollution: Pathways to net zero” recomenda várias estratégias de mitigação e adaptação para minimizar os efeitos negativos dos plásticos: “As estratégias de mitigação procuram restringir a procura de plástico e desincentivar a produção e utilização de plásticos de origem fóssil. Os instrumentos incluem legislação, aumento do custo do plástico através de impostos, bioplásticos ou aumento do tempo de vida dos produtos de plástico”. Mas, as estratégias de adaptação podem ser ainda mais significativas, pois “reconhecem que o plástico tem muitas qualidades favoráveis” e, por isso, “centram-se na gestão eficaz e responsável do plástico”, através da “melhoria das infraestruturas de gestão dos resíduos, do aumento da reciclagem ou da eliminação do plástico”, indica Livia Heinzmann.
Apesar de tudo, são já reconhecidos os benefícios do plástico, nomeadamente, por se tratar de um material eficaz, uma vez que “garante a qualidade dos alimentos, embala os produtos eletrónicos de consumo ou faz parte de maquinaria industrial complexa: o plástico está omnipresente na nossa economia”. Por exemplo, “obrigar a uma redução das embalagens de plástico para alimentos poderia levar a uma maior deterioração dos mesmos”, atenta a responsável, relembrando que investigação mostra que “enviar apenas 1 kg de resíduos alimentares para aterro tem uma pegada de carbono semelhante à de depositar em aterro 25 mil garrafas de plástico de 500 mililitros”.
Agora publicado, os resultados deste relatório visam contribuir de forma construtiva para o diálogo em curso. As negociações para um tratado global sobre os plásticos, iniciado pela Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, estão a decorrer e uma ronda de negociações teve lugar em Paris na semana passada: “Este tratado tem o potencial de ser a proposta multilateral mais significativa centrada na sustentabilidade desde o Acordo de Paris em 2015”.
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O que é o “Plastic pollution: Pathways to net zero”?
O relatório tem como objetivo seguir um caminho equilibrado, explorando os benefícios e os custos do plástico. Foi estabelecida a “Plastic Usage Kaya Identity” do Credit Suisse para prever a poluição de plástico até 2060, o que permite decompor a utilização de plástico, o seu desperdício e a poluição em fatores demográficos, económicos e sociais, proporcionando uma perspetiva única sobre o futuro do plástico e sobre o caminho para alcançar a meta de zero desperdício de plástico.
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Qual o seu propósito?
O principal foco do relatório não é eliminar todos os plásticos, mas garantir a sua eliminação adequada para minimizar a interação negativa do plástico com os ambientes terrestre e aquático. Com este e outros relatórios do Center for Sustainability do Credit Suisse, o objetivo é proporcionar aos clientes e stakeholders uma compreensão mais profunda dos temas emergentes em matéria de sustentabilidade.
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Que tipo de metodologia foi utilizada neste projeto?
O relatório integra a metodologia Kaya identity, uma base climática da previsão das emissões de carbono e de net zero, e, de forma inovadora, é adaptada a identidade para prever a poluição por plásticos até 2060. Denominada por “Plastic Kaya Identity“, a pesquisa é feita com base no Plastics Outlook Database da OCDE, complementada com números da população das Nações Unidas e métricas do PIB do Banco Mundial.