Tem havido uma razia nos pepinos-do-mar da ria Formosa
Em dois anos, 70% da população de pepinos-do-mar desapareceu em vários locais da ria Formosa, no Algarve. A espécie ‘Holothuria arguinensis’ é a mais afetada: junto à ilha da Armona havia 120 indivíduos por hectare, em 2014. Hoje, são cerca de 30, segundo publicou o Público. Apesar de estarem na área protegida do Parque Natural da Ria Formosa, é junto às Ilhas da Armona e da Culatra que se detetam maiores perdas.
Os números preocupam os investigadores do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), dada a dificuldade de reprodução deste animal, quando a sua densidade é baixa. Sabendo que os pepinos-do-mar são densodependentes (dependem da existência de grandes quantidades de fêmeas e machos para terem êxito na reprodução), Mercedes González do CCMAR, alerta: “já podemos falar do risco de a espécie desaparecer completamente da ria”.
E não só. Segundo noticiou o jornal Barlavento, também ao largo de Olhos de Água, de Albufeira e Sagres, onde a equipa de González Wangüemert tem vindo a monitorizar a população de pepinos-do-mar desde 2012, se registou a quebra de três quartos, de 2014 até agora. A população que sobre é maioritariamente juvenil, uma vez que os pepinos-do-mar adultos e reprodutores são a faixa etária mais afetada.
A causa está na “pesca abusiva”, aponta a investigadora. Os pepinos-do-mar – animal da família dos ouriços-do-mar e das estrelas-do-mar – são extremamente procurados para alimentação e medicina tradicional com destino ao mercado asiático. Tanto que os chineses são capazes de correr o mundo em busca deles. Secos, cada quilo pode custar entre 150 a 200 euros.
No entanto, González Wangüemert não arrisca a classificar a pesca de “ilegal”, porque, na verdade, não há nenhuma lei que proíba.
Soma-se a isto a importância dos pepinos-do-mar na limpeza dos sedimentos depositados no fundo dos mares. “Estes bichos limpam a matéria orgânica e é deles que depende uma parte importante da cadeia alimentar do ecossistema”. A investigadora relata o desequilíbrio ecológico existente no Norte da Turquia, onde três espécies de pepinos-do-mar desapareceram por completo. “Começaram por morrer algas, depois peixes pequenos, até se notar uma diminuição dos peixes maiores”, explicou.
Perante o risco de desaparecimento do animal em ambiente natural, o CCMAR começou a cria-los em terra, através de aquacultura, na Estação Experimental do Ramalhete, uma estação-piloto na ria Formosa instalada num antigo armazém da Companhia de Pescarias do Algarve, perto de Faro.