A tecnologia baseada em algas é a mais sustentável em termos económicos e ambientais para as empresas de tratamento de águas residuais, por comparação com os sistemas de tratamento convencionais, nomeadamente o sistema de lamas ativadas. A conclusão é de um estudo liderado por duas investigadoras do CARME – Centro de Investigação Aplicada em Gestão e Economia do Politécnico de Leiria, Eleonora Santos e Inês Lisboa.
O estudo, que discute aspetos tecnológicos e de gestão que conduzem a uma maior poupança de energia nas empresas portuguesas de tratamento de águas residuais, foi desenvolvido numa parceria pluridisciplinar com investigadores da Universidade da Beira Interior e da Shannon Applied Biotechnology Centre (Limerick Irlanda).
De acordo com o estudo, partilhado pelo Politécnico de Leiria, a tecnologia baseada em algas apresenta um potencial de redução dos custos operacionais de energia entre 0,05-0,41 EUR/m3 e 15,4-180,8 EUR/habitante, em comparação com o lodo ativado e outros métodos convencionais. Esta tecnologia permite ainda a eliminação da pegada de carbono, ao poupar cerca de 45 kg de CO2 por habitante por ano.
“As lagoas de algas de alta taxa permitem remover nutrientes em tempos de retenção curtos (4 a 10 dias), em comparação com sistemas de lagoas convencionais, apresentando-se como uma boa alternativa tecnológica para o tratamento de efluentes, principalmente para pequenas comunidades. Além da sua eficiência na remoção de poluentes, podem gerar produtos de valor acrescentado, como a biomassa de algas, e podem representar economias de custos de energia”, explica Eleonora Santos.
O estudo foi desenvolvido entre o início de abril e o dia 12 de maio de 2022, e envolveu 11 empresas portuguesas de tratamento de águas residuais de Norte a Sul do país.
“Neste ramo de atividade, os custos de energia representam uma grande parte dos custos operacionais. Assim, a poupança de energia permite reduzir os custos operacionais e tornar estas empresas mais eficientes e sustentáveis do ponto de vista económico. Além disso, as soluções de tratamento de águas residuais baseadas em algas têm como efeito a redução da pegada de carbono e por isso contribuem para uma maior sustentabilidade ambiental”, indica a investigadora do CARME.
A tecnologia baseada em algas, descrita no estudo, consiste em lagoas de algas de alta taxa. “Nestas lagoas rasas (tipicamente com uma profundidade entre 30cm e 50cm), as águas residuais circulam através de uma roda de pás de baixa potência, removendo resíduos orgânicos e nutrientes em tempos de retenção curtos (4 a 10 dias), por comparação com sistemas de lagoas convencionais. Estas lagoas apresentam outra vantagem: a de proporcionar a produção de biomassa de algas que pode ser vendida, aumentando os proveitos das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARS)”, sustenta a investigadora.
De acordo com os investigadores, esta tecnologia posiciona a biotecnologia como solução futura obrigatória no tratamento de efluentes. “À medida que o modelo de negócios de economia circular vai ganhando mais adeptos e se impõe como paradigma de gestão do futuro, a biotecnologia surge como a solução que permite combinar eficiência no tratamento de efluentes com a redução da pegada de carbono, contribuindo para a sustentabilidade económica e ambiental das ETARS”, afirma Eleonora Santos.
Ainda sobre a finalidade do estudo, a investigadora refere que, “ao apresentar resultados quantificáveis em termos de poupança energética nas ETARS, visa fornecer recomendações de gestão aos responsáveis pelas ETARS, em Portugal e não só, dado que o tema é transversal a outras economias”.