#Opinião: Sustentabilidade da Indústria Extrativa e os desafios da compatibilização com o Território
Por: Célia Marques, Engenheira do Ambiente e vice-presidente Executiva da ASSIMAGRA
Num momento em que se discutem planos de recuperação de economias em todo o mundo e que na Europa se discute, também, a reindustrialização do Velho Continente, todos temos de nos consciencializar que na base do modelo de Sociedade que construímos estão os recursos minerais.
Mas, por cá ainda há quem ache que se possa viver sem esses recursos. Ou melhor, sem esses recursos explorados em Portugal. Os recursos minerais são essenciais e estão presentes no nosso quotidiano, na maior parte das vezes sem nos apercebermos da sua utilização, tendo a Europa já reconhecido que não podemos estar dependentes de outras regiões para os produzir, sobretudo quando existem no nosso território.
O setor dos recursos minerais em Portugal tem demonstrado ao longo dos últimos anos um papel muito ativo no desempenho da economia nacional, tendo alcançado mil milhões de euros em exportações e, no caso da pedra natural, tem construído um notável posicionamento internacional, que permite à nossa indústria competir ombro-a-ombro com os principais players mundiais.
Sendo um setor económico que depende de recursos minerais como matéria-prima, estamos conscientes da responsabilidade e dos desafios que temos em mão, e do dever de pugnar por uma indústria mais eco-eficiente e mais comprometida com a sociedade e com o território.
A Assimagra, associação representante da indústria dos recursos minerais em Portugal, tem atuado ao longo dos últimos 10 anos junto do universo das suas 230 empresas associadas na procura de soluções para a mudança de paradigma no que respeita à sustentabilidade da indústria extrativa.
A necessidade de recuperarmos, requalificarmos e compensarmos o território no seguimento da nossa intervenção são processos que estão hoje presentes na nossa atividade. Mas não chega, cada vez mais, as opções que tomamos enquanto detentores de um recurso mineral, as técnicas e os processos adotados na extração e transformação destas matérias-primas primam pela valorização do recurso com práticas que assentam em medidas de planeamento integrado das explorações num contexto de eco-eficiência e de responsabilidade social, conscientes que é um recurso finito não renovável.
Existem já exemplos de sucesso que asseguram pontos de equilíbrio de gestão do território, compatibilizando realidades, à partida, contraditórias. É o caso de mais de 100 pedreiras localizadas no Parque Natural das Serras d´Aire e Candeeiros, onde os desígnios da gestão do território nesta região permitiram que o setor se organizasse numa parceria robusta, unindo o setor extrativo, representado pela ASSIMAGRA, ao ICNF e aos Municípios abrangidos que acompanham as metodologias utilizadas e os trabalhos com impacto no património geológico, geomorfológico e paisagístico. Na região dos mármores do Alentejo tem vindo a ser desenvolvido um trabalho de articulação entre todos os intervenientes no território para a resolução dos constrangimentos resultantes da atual organização das pedreiras. O objetivo é repensar a projeção futura da exploração dos mármores e soluções de reabilitação dos espaços, atendendo sempre a fatores relacionados com a exploração racional do recurso com enfoque na segurança, recuperação paisagística e gestão de resíduos.
Temos ao nosso alcance a capacidade de sensibilizar e apoiar a indústria, na adoção de práticas e comportamentos sustentáveis, acreditando que o tempo passa por unir esforços em torno da transformação dos modelos socioeconómicos para a exploração e a utilização mais eficiente dos recursos minerais e com o menor impacto possível, conscientes da necessidade de se atenuar a pegada ecológica do setor.
Manter o foco no estabelecimento de uma relação de equilíbrio e respeito pelos limites do planeta são os grandes desafios. São os nossos desafios.
Este artigo foi incluída na edição 92 da Ambiente Magazine