Graças às moratórias à caça à rola-brava em Portugal, Espanha e França, há hoje mais 400 mil casais desta espécie na Europa ocidental do que em 2021, segundo um relatório apresentado pelo Instituto de Recursos Cinegéticos de Espanha ao grupo de trabalho de recuperação de aves da União Europeia. A análise tem por base dados do programa europeu de monitorização de aves comuns, incluindo dados do Censo de Aves Comuns em Portugal, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
“Estamos a falar de uma espécie que sofreu um declínio de 80% na Europa nos últimos 40 anos, portanto um aumento de 400 mil casais na Europa Ocidental é um sinal de esperança, e uma prova de que a moratória à caça tem resultado – sobretudo se pensarmos que nestes dois anos esta região, e em particular a Península Ibérica, tem sofrido situações de seca e calor extremo, que não são favoráveis à rola-brava nem a qualquer outra ave,” diz Hany Alonso, técnico da SPEA e coordenador do Censo de Aves Comuns.
Em Portugal, a rola-brava apresentava evidências de forte declínio desde o início dos anos 90. O mais recente relatório do Censo de Aves Comuns avalia a tendência da espécie no nosso país como incerta.
A rola-brava é uma espécie migratória, que na Europa se pode subdividir em duas populações, consoante a rota que toma de e para África todos os anos: a população da Europa Ocidental, que passa o verão em Portugal, Espanha, França e nordeste de Itália e migra para sul pelo estreito de Gibraltar, e a população da Europa central e de leste, que toma a rota oriental.
Face às tendências negativas da espécie a nível internacional, em 2021 o grupo de trabalho do Plano Europeu de recuperação da espécie concluiu que o número de rolas-bravas na Europa Ocidental era tão baixo que qualquer exploração cinegética seria insustentável. Na sequência dessa deliberação, a Comissão Europeia recomendou uma moratória à caça, e os governos de Portugal, Espanha e França suspenderam a caça à rola-brava. Os resultados começam agora a notar-se, com a população ocidental a registar um aumento, enquanto a população oriental, que continuou a ser caçada, está em declínio.
Muitos caçadores foram favoráveis à suspensão temporária da caça à rola-brava, entendendo a sua necessidade. Em Portugal, já em 2019 as organizações ambientais da Coligação C6 haviam assinado um memorando de entendimento com as entidades representativas do setor da caça (ANPC, CNCP, FENCAÇA) e os institutos públicos relevantes (ICNF e INIAV), que levou a uma redução progressiva dos períodos de caça a esta espécie. Em 2021 foi decretada a proibição temporária de caça à espécie, que tem sido mantida desde então.
“Este aumento de rola-brava é encorajador, mas para garantir que a recuperação se mantém será fundamental implementar medidas eficazes de restauro e gestão do seu habitat, tanto em Portugal como a nível internacional”, ressalva Hany Alonso.