Num futuro que se prevê marcado pela transição verde e digital, a 2BForest quer ser uma empresa do futuro, com a consciência que a sua intervenção tem de ser colaborativa e com o envolvimento das pessoas e dos profissionais que dependem da floresta, isto é, da sociedade! A Ambiente Magazine conversou com Susana Brígido, diretora-geral da 2BForest, numa Grande Entrevista marcada pela urgência de se desenvolver instrumentos transparentes que promovam a sustentabilidade das áreas florestais nacionais.
Como surge a 2BForest.
A 2BForest, desde 2016, que trabalha para ser a empresa de referência para a área de certificação florestal em Portugal, com um corpo técnico com uma vasta experiência, que participa na adaptação das normas internacionais ao contexto nacional. Atua a nível nacional e em toda a cadeia de valor do setor, permitindo ter uma visão integrada de todas as fileiras e sua interligação operacional, tornando a sua intervenção mais objetiva, baseada no know-how e em experiência de terreno, oferecendo as soluções mais ajustadas às necessidades dos clientes e à Floresta Nacional. Como forma de reforçar o nosso compromisso público com a sustentabilidade, a 2BForest aderiu em 2022 à Iniciativa ACT4Nature da BCSD como forma responsabilidade social corporativa.
Qual a vossa missão?
A missão da 2BForest assenta em contribuir para criar mais valor no setor florestal, face à sua importância na geração de empregos, riqueza nacional e ambiental, sobretudo em territórios de baixa densidade populacional.
De que forma é que criam mais valor ambiental no setor florestal?
A 2BForest acredita que o motor, para que tenhamos no presente e no futuro uma floresta gerida de uma forma sustentável, é uma sociedade informada e consciente sobre a sustentabilidade da origem dos produtos que consome, e sua influencia para obter uma floresta mais resiliente às pressões e adversidades a que está sujeita. Nesse sentido, a certificação florestal é uma aposta que mobiliza proprietários e empresas em prol de uma florestal sustentável, em que as nossas áreas de negócio assentam! Os esquemas de certificação internacional têm assim o objetivo de assegurar uma gestão responsável da floresta a nível económico, ambiental e social.
Qual a importância da vossa atuação em prol da valorização da floresta?
A atividade da 2BForest tem-se pautado pela inovação e pioneirismo de diversos projetos a nível nacional e ibérico. Atualmente, a empresa gere um grupo de certificação de florestas com mais de 30.000 ha e 800 proprietários, envolvendo uma equipa de 12 técnicos e diversas parcerias para aumentar a rentabilidade da floresta. Estas parcerias colocam no terreno projetos que promovem a Gestão Ativa da Floresta, nomeadamente, o “Programa Premium” da TNC, “Limpa e Aduba”, da Biond ou “Projeto de Responsabilidade Ambiental”, de um parceiro Belga. A maior dificuldade na promoção desta Gestão Florestal Ativa acontece nas áreas marginais sem alternativas de produção tradicional. Assim, a 19 de março de 2021, a 2BForest obteve a certificação de Serviços de Ecossistema para valorar estes serviços e gerar retorno aos proprietários, enquanto gera o aumento do impacto do serviço do ecossistema. Assim, nas áreas que foram incluídas na certificação, foram introduzidas alterações nas medidas operacionais e foram desenvolvidos procedimentos de quantificação de serviços de ecossistemas baseados em tecnologias de informação (TI).
Qual a importância da valorização da floresta e seus agentes?
Um dos principais requisitos da certificação florestal, incluindo a certificação dos serviços dos ecossistemas, é o cumprimento dos requisitos legais e boas práticas relacionadas com a Higiene e Segurança no trabalho. Neste sentido, a 2BForest tem o Projeto “+Floresta, +Segurança, + Certificação” que visa dotar as empresas de conhecimentos que permitam melhorar e desenvolver aptidões na melhoria de procedimentos de exploração florestal e na segurança dos trabalhadores, focando-se na vertente social, catapultando a importância das empresas familiares de exploração florestal na dinamização do mundo rural Nacional. Periodicamente, realizam-se ações de formação no terreno a nível nacional. Em 2021, em parceria com a TNC, realizaram-se 6 ações de formação abrangendo cerca de 100 trabalhadores florestais, prevendo-se em 2023, a repetição desta iniciativa de valorização da empresas florestais. No acompanhamento das atividades florestais existe a avaliação do desempenho dos prestadores de serviço e da qualidade de serviço prestado, para apoiar a definição de ações de formação nos aspetos relevantes a melhorar na produtividade e eficiência de operações florestais, no qual o proprietário florestal pode ver através do ForestSIM o resultado dos acompanhamentos efetuados e demonstrar a mais valia de ter técnicos assegurar a correta execução das operações das quais depende a futura produção da floresta. O projeto mais recente é o “Floresta na Moda”, que será promovido no próximo dia 6 de setembro de 2023 na Agroglobal.
De que forma é que a certificação florestal pode ser uma resposta aos desafios de uma gestão sustentável da floresta?
“Conhecer a floresta para a podermos gerir!”. Esta é uma das grandes alavancas de aumento da área certificada em Portugal. E num país em que, dos 308 municípios, 174 não têm qualquer tipo de cadastro, quando não se conhece não se pode gerir. Neste ponto, a certificação florestal tem contribuído para que os proprietários conheçam a sua floresta e tenham um planeamento com orçamento para poderem tomar decisões para termos uma floresta gerida.
Qual é a importância da tecnologia na gestão florestal?
A tecnologia tem um papel preponderante no desenvolvimento futuro do setor florestal. Mas inovar vai muito além da tecnologia e todos nós temos um papel: somos consumidores e cidadãos e isso faz de nós agentes no problema e na solução para uma floresta sustentável. A 2BForest enquadra a utilização da tecnologia como estratégica para a certificação dos serviços dos ecossistemas, metodologias que poderão ser utilizadas no mercado voluntário de carbono nacional, em desenvolvimento pela APA – Agência Portuguesa de Ambiente; e na recolha, gestão e comunicação da informação ao nível do grupo de certificação da gestão floresta, através da plataforma ForestSIM. Na certificação florestal, com um enfoque muito particular nos serviços dos ecossistemas, são utilizadas tecnologias de deteção remota e de gestão de informação que se baseia na recolha de dados geoespaciais remotos aliada à informação técnico-científica desenvolvida por universidades portuguesas e espanholas adaptadas ao clima e espécies mediterrânicas. As TI fornecem dados muito relevantes para a aferir dados históricos com uma visão completa do meio ambiente. Assim, em 2019, iniciamos o desenvolvimento da ForestSIM®- Sistema de Informação e Mapeamento. A ideia, baseada na nossa experiência na gestão de grupos de certificação, foi desenvolver uma plataforma online que agregasse todos os registos, documentos e informação cartográfica num único local. Foi desenvolvido sob a nossa coordenação, por uma empresa informática subcontratada, com apoio da TNC.
A plataforma ForestSIM é um bom exemplo de inovação no setor florestal?
A ForestSIM® – Sistema de Informação e Mapeamento é uma plataforma online de apoio à gestão florestal certificada, combinando inovação com a gestão florestal tradicional, incluindo componentes de documentos, formulários, cartografia e planeamento. Estas informações estão disponíveis online, sendo que os técnicos e proprietários florestais podem consultá-los e confirmar o cumprimento do Plano Gestão Operacional e de todos os requisitos para garantir a manutenção da certificação. Os sistemas de certificação implicam uma gestão muito complexa de grandes quantidades de informação, de diferentes tipos de dados e por diferentes intervenientes para garantir que cada proprietário cumpre os requisitos de sustentabilidade florestal. Assim, a ForestSIM foi desenvolvida para gerir a informação de forma mais eficaz utilizando as TI com maior eficiência de recursos humanos, permitindo acesso a Informação digital sobre a propriedade e limites de parcelas, a formulários para o controlo operacional das atividades florestais planeadas, a edições cartográficas e mapas com restrições legais, além da informação sobre Produtividade da floresta, ligados por webservices a modelos de produtividade.
De que forma é que esta plataforma informática ajuda na gestão florestal?
A ForestSIM traz inovação para um setor tradicional, permitindo que novos investidores em áreas agroflorestais estejam mais familiarizados com a gestão florestal e as novas exigências ambientais. É uma aplicação com grande potencialidade, até porque se aplica à fileira agroflorestal, cuja área ocupa cerca de 3 milhões há com mais de 400 mil proprietários florestais, mas apenas 500 mil hectares estão certificados. A plataforma ForestSIM é um exemplo de integração e partilha de diferentes tipo de dados geográficos com incorporação de processamento e análise, que resulta na integração de informação recolhida no terreno, um serviço de mapas e sua interoperacionalização, sempre apoiado em tecnologia open-source. O foco da ForestSIM está em ser uma plataforma digital com mapas de instrumentos de ordenamento e condicionantes legais à gestão florestal, biodiversidade e áreas ardidas a que todos os proprietários certificados podem aceder em qualquer lugar.
Qual o objetivo desta plataforma?
O objetivo da ForestSIM é liderar o mercado nacional da utilização da tecnologia e apoio à gestão florestal certificada em Portugal.
A quem se destina a ForestSIM? E como se pode adquirir esta plataforma?
A ForestSIM destina-se às Entidades Gestoras de áreas florestais certificadas que tenham de fazer a gestão da floresta com base nos requisitos de sistemas de certificação internacional, sendo que qualquer entidade pode adquirir a ForestSIM e importar os dados atuais da certificação. Mas também se destina aos Proprietários florestais com áreas certificadas de acordo com requisitos de sistemas de certificação internacional. Neste caso, os proprietários podem ter acesso, desde que adiram a grupos de certificação que já gerem as áreas certificadas através do ForestSIM.
Que caso prático pode partilhar e que comprovam a taxa de sucesso desta plataforma?
Até 21 de agosto de 2023, a ForestSIM era utilizada por cinco entidades gestoras de certificação florestal, estando, portanto, acessível a cerca de 25 técnicos florestais, mais de 3000 proprietários florestais, 60 mil ha e 60 empresas de exploração florestal. A ForestSIM ficou em primeiro lugar num concurso europeu associado ao projeto “Fairshare”, financiado pela UE com o objetivo de promover a digitalização, assegurando que a inovação digital na agrofloresta acompanha o ritmo de outros setores. Atualmente, este projeto europeu conta com mais de 200 DATS (Ferramentas e Serviços de Consultoria Digital) provenientes de toda a Europa, e com 16 DATS portuguesas, sendo uma delas a ForestSIM e a única para focada na gestão florestal certificada.
“A floresta é muito mais do que madeira”. Considera que esta afirmação é assegurada por parte de quem gere e atua no setor florestal em Portugal?
“Só damos valor à água quando a fonte seca”. Com a certificação dos serviços dos ecossistemas, podemos dar valor e visibilidade à importância que floresta desempenha, por exemplo, na quantidade e qualidade de água disponível e como podemos gerir para melhorar o serviço prestado pela floresta e dar visibilidade ao que ela pode fazer por nós, adoptando mecanismos transparentes e auditáveis que gerem confiança na Sociedade e tecido empresarial que pretendam apoiar e associar-se à Gestão Florestal Nacional! Desde que tirei o curso de Engenharia Florestal que esse conceito nos é incutido: são vários os estudos que o demonstram e lhe dão valor. Por isso, a 2BForest assumiu como estratégia ser a primeira organização em Portugal a obter a certificação dos serviços dos ecossistemas e a primeira a conseguir o envolvimento empresarial nesta certificação.
Quais são os novos serviços dos ecossistemas? E como estão a ser aplicados no terreno?
A transição para uma sociedade neutra em carbono tem sido um dos objetivos centrais a nível mundial, vertidos em Portugal nos instrumentos de planeamento estratégicos como o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, o PNEC 2030 e a Lei de Bases do Clima. Esta transição exige ações para o aumento da capacidade de sequestro, de modo a viabilizar o cumprimento do objetivo de limitar o aumento da temperatura média global em 1,5º C, estabelecido no Acordo de Paris. Assim, a aposta em soluções de base natural é determinante para atingir a neutralidade carbónica, contribuindo também para a proteção da biodiversidade, regulação dos ciclos naturais, desenho da paisagem e adaptação às alterações climáticas. Neste sentido, o projeto ES_SPONSOR interioriza uma estratégia que é identificar os serviços ambientais e ecológicos que produzem as externalidades que a floresta oferece à sociedade e, ao mesmo tempo, garantir numa lógica win-win o desenvolvimento de estratégias de segmento de mercado para serviços. Para isso, o projeto tem como objetivo desenvolver alternativas de mercado para responder a condicionantes legais de uso de solo e dar visibilidade e promover os serviços e benefícios gerados pelas áreas florestais geridas de forma sustentável, criando valor para proprietários e empresas-sponsor, através do apoio na gestão ativa e arranjando um mecanismo que permite diversificar os seus rendimentos através da venda da venda de Serviços de Ecossistemas.
Como surge o projeto ES_SPONSOR?
Os sistemas de certificação florestal enfrentam o desafio de garantir o compromisso dos proprietários agroflorestais de gerir sustentavelmente os recursos naturais. A existência da certificação para Serviços dos Ecossistemas é condição fundamental para promover modelos mais sustentáveis, inclusivos e de riqueza num quadro de equilíbrio e coesão territorial. A 2BForest tem o objetivo de valorizar os serviços ambientais para aumentar o rendimento dos proprietários florestais e assim premiar a boa gestão das florestas em Portugal. Na Agroglobal, a 2BForest irá apresentar os resultados de 2 anos de serviços de ecossistema no grupo da 2BForest, no evento “Carbono Rural Nacional e politicas de sustentabilidade empresariais”com apresentação de casos, na primeira pessoa, de proprietários e sponsors de certificação de serviços de ecossistemas!
Quais as valias deste projeto para a floresta?
Uma das mais valias deste projeto é poder aliar-se às novas políticas de sustentabilidade ambiental regulamentadas pela União Europeia, que inclui objetivos de sustentabilidade, ligados às alterações climáticas. O nosso projeto traz de antemão já alguma maturidade nas metodologias de avaliação e de valoração das ações e estratégias implementadas quanto aos diversos tipos de serviços de ecossistema (carbono, biodiversidade, paisagem, água).
Se conseguisse avançar 20 anos como gostaria que estivesse o setor florestal? E como vai estar o setor florestal nos próximos 20 anos?
Daqui a 20 anos, gostaria que a floresta estivesse gerida e a paisagem ordenada! Atendendo à evolução do preço dos mercados de carbono, o saldo será positivo, pelo que mecanismos que remunerem os proprietários que mantenham a floresta cuidada é urgente!
A Grande Entrevista foi incluída na edição 101 da Ambiente Magazine