SPEA lança petição petição “ArmadilhasNÃO” para combater a captura ilegal de aves
Um estudo realizado em 2014 pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) revela que “40.000 aves selvagens são mortas num ano em Portugal e 10.000 capturadas para colocar em gaiolas”. Estes crimes “passam geralmente impunes por serem difíceis de detetar e investigar, em parte porque embora seja ilegal capturar ou caçar estas aves, os meios usados para estas capturas não são proibidos”, refere a sociedade em comunicado.
“É urgente colmatar esta grave lacuna legal” e face a esta situação a SPEA está a recolher assinaturas para apresentar uma petição à Assembleia da República.
Na petição, pede-se à Assembleia que altere as leis em vigor de forma a proibir o fabrico, posse e venda dos meios que permitem a captura ilegal de aves, e a proibir a apanha da formiga d’asa, cujo único uso é como isco nesta atividade ilegal.
“Proibir o fabrico, posse e venda destes aparelhos é fortalecer a lei”, diz Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA. “Neste momento, só é crime se a pessoa for apanhada com as aves; mas quem tem armadilhas é porque vai usá-las”, acrescenta.
A lei já proíbe a captura de aves selvagens, em reconhecimento do valor destes animais para o país: contribuem, nomeadamente, para controlar as pragas agrícolas, diminuir a transmissão de doenças e para dispersar sementes. No entanto, dezenas de milhares de aves continuam a ser apanhadas todos os anos, tanto para serem consumidas como “passarinhos fritos” ou “voadores” como para serem vendidas como aves de gaiola. Para manter estas aves a salvo, não chega proibir que sejam capturadas: é necessário proibir também os meios que permitem capturá-las.
Estes meios, como as armadilhas de mola (também conhecidas por costelos ou esparrelas), redes e “visgo” (uma cola artesanal destinada à apanha de pássaros em árvores, sebes ou no cimo de canas), matam indiscriminadamente qualquer ave que neles caia.
A SPEA propõe ainda que seja proibida a apanha da formiga d’asa. Estas formigas, que são maiores e mais nutritivas, são um alimento aliciante para as aves que procuram energia extra quando se preparam para a migração. Por isso, são usadas como isco por quem quer capturar ilegalmente aves.
“É fácil ver se um formigueiro foi remexido, e os formigueiros normalmente estão menos escondidos do que as armadilhas, por isso estes casos são mais fáceis de detetar. E como a formiga d’asa não é usada para mais nada, proibir esta prática não terá mais nenhuma consequência – apenas torna mais fácil combater a captura ilegal de aves”, diz Joaquim Teodósio.
A SPEA apela aos cidadãos portugueses que assinem a petição, que está disponível online, para que as propostas de alteração à lei sejam discutidas pela Assembleia, a fim de garantir um combate mais efetivo à captura ilegal de aves selvagens em Portugal.