A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) faz 25 anos no próximo domingo, dia 25 de novembro. Ao longo de um quarto de século, a SPEA teve um papel preponderante no estudo e conservação de aves em Portugal, salvando espécies, protegendo sítios, restaurando habitats e despertando consciências para a ornitologia e para a proteção da natureza. Nos próximos 25 anos, a SPEA refere numa nota enviada, que continuam a haver espécies e habitats para proteger – “mas para isso é preciso também vontade política de criar um país e uma Europa mais sustentáveis”.
A SPEA tem como missão trabalhar para o estudo e a conservação das aves e seus habitats, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações futuras. É nesse sentido que “a visão da SPEA é, desde o início, conseguirmos criar um mundo em que todos possam desfrutar das aves e da natureza”, diz Clara Ferreira, Presidente da Direção Nacional da SPEA. “Trabalhamos para que possamos ter um futuro sustentável, e exigimos aos nossos representantes políticos que tomem decisões fundamentadas que garantam esse futuro, para bem de todos.” Também o apoio das pessoas é essencial para dar voz às mensagens e torná-las mais fortes. Daí a importância dos nossos sócios.
Ao longo dos seus 25 anos de existência, a SPEA tem trabalhado com peritos e envolvido centenas de voluntários no estudo das aves portuguesas, produzindo obras de referência como o atlas das aves nidificantes, o censo de aves comuns e o atlas das aves invernantes de Portugal. Com investimento na investigação ornitológica, estes e outros conhecimentos servem de fundamentação para decisões políticas como a definição de estatutos de proteção ou de áreas protegidas.
Com base na ciência e no planeamento cuidado, a SPEA tem trabalhado com um vasto leque de parceiros – desde outras organizações não-governamentais até entidades estatais e empresas privadas – para salvar espécies da extinção. O priolo, ave que apenas existe em São Miguel (Açores), é talvez o caso mais conhecido. Era uma das aves mais ameaçadas da Europa, no início dos anos 90, mas graças ao trabalho da SPEA e dos seus parceiros há agora mais de 1000 priolos. Por todo o país e também além-fronteiras, a SPEA trabalha para salvar outras espécies ameaçadas, como as freiras e o fura-bardos na Madeira, o painho-de-monteiro nos Açores, a águia-perdigueira e o britango no continente e a calhandra-do-raso em Cabo Verde.
Para salvar aves ameaçadas e preservar os recursos naturais de Portugal, a SPEA tem desenvolvido ações de restauro intensas e prolongadas na floresta de Laurissilva em São Miguel, bem como em colónias de nidificação de aves marinhas em várias ilhas e ilhéus nos Açores, Madeira e Berlengas. A SPEA tem também lutado pela gestão sustentável dos recursos naturais, procurando que sejam implementadas políticas que privilegiem a sustentabilidade em vez da agricultura intensiva, calendários venatórios e quotas de pesca que tenham por base o estado real das populações, e leis de ordenamento do território que respeitem as diretivas comunitárias.
O trabalho da SPEA vai muito além do estudo das aves. A ação da SPEA foi fundamental para que fossem designadas 16 novas Zonas de Proteção Especial (ZPE) em terra e no mar. Estas áreas surgiram como resultado direto de dois inventários pioneiros das áreas importantes para as aves (IBA) em Portugal, realizados pela SPEA. É urgente que outros locais importantes, como a Lagoa dos Salgados e várias áreas marinhas sejam também classificadas como ZPE, e que aí sejam implementadas medidas de gestão que salvaguardem a biodiversidade. Com uma aposta política em que os espaços protegidos não sejam só definidos em papel, mas defendidos na prática, os espaços naturais únicos do nosso país podem trazer benefícios para todos.
“As pessoas são o mais importante para a SPEA”, diz Clara Ferreira. “Procuramos sempre envolver as populações locais e as partes interessadas, como pescadores, agricultores e produtores locais – porque a sustentabilidade é do interesse de todos. Precisamos que a classe política tome consciência deste facto: é necessário continuar com o estudo e proteção da aves e dos seus habitats, se queremos um futuro rico em biodiversidade, com ecossistemas funcionais e qualidade de vida para as pessoas.”