A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) acusa, em comunicado, a recente proposta de orçamento para a União Europeia (UE) de ignorar por completo os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), “optando por uma visão de curto prazo que ignora totalmente a crise ecológica evidente e aposta o futuro da Europa apenas ao nível do reforço da segurança nas fronteiras”.
No mesmo documento, a SPEA diz que, “de uma forma chocante, os pagamentos diretos da Política Agrícola Comum (PAC) – amplamente reconhecidos como a parte mais disfuncional do orçamento da UE – permanecem protegidos”. “Não existe nenhuma verba alocada para lidar com o colapso da biodiversidade e a arquitetura da PAC permanece inalterada. (…) A maioria do orçamento ignora claramente a necessidade de transformar a economia europeia de acordo com os limites do nosso planeta”, acusam.
Para a associação, o investimento na luta contra as alterações climáticas regista “um modesto aumento” de 5%, o que “claramente é insuficiente para cumprir os compromissos do Acordo de Paris”. “Também não há certezas que esta percentagem seja mesmo real, prossegue, “tendo em conta que a PAC não sofreu alterações e falhou completamente o atual compromisso de 20% para a ação climática”.
Ariel Brunner, senior head of Policy, BirdLife Europe & Central Asia, afirma: “Enquanto Oettinger o Comissário Europeu para o Orçamento e Recursos Humanos, fala sobre os cidadãos, o futuro e um ‘orçamento para resultados’, ele esforça-se para proteger o lobby agrícola e com ele a pior forma de subsídios perversos. Ele ignora completamente a situação do mundo vivo que está a desmoronar em nosso redor. A sua proposta é vazia em termos de garantir um futuro a longo prazo para os cidadãos europeus”.
Por sua vez, Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA, reconhece que “a continuidade de políticas desajustadas da realidade em que vivemos a nível de clima e perda de biodiversidade só podem augurar um futuro negro para a população europeia e mundial”. “A Europa devia ser um exemplo progressista num futuro sustentável, mas opta pela solução fácil de manutenção dos lobbies com grave risco para os valores naturais europeus e para todos nós que deles dependemos”, acrescenta.
A SPEA, representante da BirdLife International em Portugal, “faz eco do apelo desta organização aos Chefes de Estado e de Governo para não hipotecarem o nosso futuro coletivo e alterarem significativamente a proposta para garantir que está em consonância com os ODS – em particular, que determinem recursos reais e significativos para lidar com o colapso da biodiversidade e com a emergência climática”, conclui o comunicado emitido.