A temperatura do permafrost (o solo permanentemente gelado) no Ártico e na Antártida está a aumentar a um ritmo “inacreditável”- É assim que Vladimir Romanovsky, investigador da Universidade do Alaska e o responsável da rede global de monitorização do permafrost, descreve a situação, antecipando que o degelo generalizado desse solo congelado, no Alaska, poderá tornar-se realidade dentro de quatro a cinco décadas. “Parece distante, mas o permafrost é um gigantesco armazém de metano, um dos gases com efeito de estufa, e o degelo vai libertá-lo, agravando de forma imprevisível o problema das alterações climáticas”.
O alerta surge a pouco mais de um mês da cimeira do clima, em Paris (COP 21), da qual se espera um acordo global para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, de forma a que a temperatura média do planeta não suba mais de dois graus, em relação ao valor da época pré-industrial, avança o Diário de Notícias.
Na contagem decrescente para essa reunião decisiva sob a égide da ONU, multiplicam-se agora as declarações de políticos, líderes religiosos e cientistas. Uns afirmam compromissos, outros apelam ao bom senso para uma decisão positiva na COP 21, e os últimos avançam novos dados que acrescentam peso científico ao problema climático e reforçam a ideia da necessidade de ação política para travar as alterações climáticas. Vão nesse sentido as afirmações de Vladimir Romanovsky, que participou no último fim-de-semana, em Reiquiavique, na Islândia, na Assembleia do Círculo do Ártico, um encontro de cientistas e de políticos, que serviu para debater os mais recentes dados que mostram o aumento da temperatura, não apenas do permafrost, mas de todo o Ártico, incluindo do oceano.
Segundo os dados apresentados pelos cientistas no encontro, o solo permanentemente gelado naquela região tem ganho anualmente 0,1 graus Celsius, desde meados da década passada.
“Quando começámos a fazer estas medições, a temperatura do permafrost costeiro nas regiões do Ártico era de oito graus Celsius negativos, mas agora está nos 2,5 graus negativos”, adiantou Vladimir Romanovsky à BBC News on-line, sublinhando que isso é “inacreditável”. “Essa é a temperatura que deveríamos observar na região central do Alaska, em Fairbanks, mas não ali”, notou.
Até há poucos anos os cientistas envolvidos na monitorização do permafrost, como Romanovsky, acreditavam na estabilidade daquele solo gelado. “Há dez anos assumiamos que ele permaneceria estável ao longo de todo o século XXI, mas parece que isso já não vai ser assim”, diz o especialista, estimando que a “este ritmo”, o degelo no Alasca vai acontecer por volta de 2070.