No âmbito do programa Re-Source, promovido pela Sociedade Ponto Verde e gerido pela consultora de inovação colaborativa Beta-i, treze parceiros e vinte empreendedores de dez países – incluindo Portugal – começaram a desenvolver em conjunto projetos-piloto focados em aumentar as taxas de reciclagem junto dos consumidores e dar origem a novas soluções para categorias específicas de resíduos.
O Re-Source é uma iniciativa de inovação aberta da SPV, no qual a Beta-i aplica a sua metodologia colaborativa, orientada ao desenvolvimento de soluções e parcerias entre empresas, startups e demais parceiros de inovação, relacionadas com a recolha e triagem dos diversos tipos de embalagens encontradas no uso doméstico, bem como com o complexo processo de tratamento desta heterogeneidade e os seus resíduos. O programa contou com o envolvimento da Câmara Municipal de Mafra, Cascais Ambiente, Central de Cervejas e Bebidas, CTT, Saica Natur, Lipor, Lusoforma, Nestlé, NEYA Hotels, Ovo Solutions, Super Bock Group, TRATOLIXO e Vidrala, com a intenção de conectar esta abordagem de inovação com outros parceiros posicionados estrategicamente na cadeia de valor da Sociedade Ponto Verde.
Durante quatro meses, parceiros e empreendedores dedicaram-se à criação de pilotos para reforçar a confiança e conhecimento dos consumidores, assegurar uma maior taxa de separação de resíduos de embalagens, quer no canal doméstico, quer no canal Horeca, e para aumentar a reciclagem e a circularidade de embalagens de vidro, alumínio e plástico.
Resultados tangíveis para a reciclagem e a economia circular
Para além de outras colaborações em andamento, a iniciativa foi formalmente finalizada em novembro com diversas histórias de colaboração. Entre os projetos já a serem testados ou em implementação está o RecySmart, ecopontos inteligentes para tornar a reciclagem num hábito divertido, criados em conjunto pela startup espanhola Recircula, a Ovo Solutions, a Câmara Municipal de Mafra e a Cascais Ambiente. Os inovadores de Barcelona, em conjunto com os parceiros, estão a transformar ecopontos em máquinas que permitem a uma pessoa inserir embalagens de vidro ou plástico, ECAL (tetrapack) e latas de alumínio e receber pontos e prémios que depois podem ser usados em serviços e produtos nos dois municípios. Durante os próximos seis meses, serão instalados ecopontos inteligentes no concelho de Cascais e Mafra.
Para combater a falta de estrutura para reciclar embalagens multicamadas e os impactos negativos que esta lacuna tem para as marcas, os inovadores da espanhola FYCH estão, neste momento, a trabalhar em conjunto com a Nestlé, a Tratolixo e a SPV para implementar nos recicladores do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE) a sua tecnologia de delaminação para separar as várias camadas de materiais destas embalagens e potenciar a sua reciclagem. Em parceria com a Lusoforma, a mesma startup testou também a sua tecnologia na reciclagem da tampa dos produtos de alumínio take away, que é composta de papel, plástico e alumínio, obtendo resultados de separação de 100%.
Por sua vez, a startup norte-americana Magnomer está a criar um piloto com o Super Bock Group, que consiste em criar rótulos com tinta magnetizável, para que estes consigam ser mais facilmente separados do plástico e permitir uma melhor reciclagem das embalagens – uma solução que pode aumentar até 20% os níveis de reciclagem e tornar a Super Bock na primeira empresa em Portugal a aplicar rótulos 100% recicláveis nas suas garrafas. A Tratolixo será parceira nos testes de triagem destas embalagens
A startup escocesa Reath juntou-se à SPV e à Super Bock Group para monitorizar o ciclo de vida da embalagem, através da criação de um passaporte digital, para colocar em produtos físicos. De forma genérica, esta solução permitirá fornecer às empresas e consumidores dados sobre a usabilidade e período de vida de uma embalagem e sobre que produtos são colocados no seu interior. No caso da Sociedade Ponto Verde, permitirá obter informação sobre embalagens não reutilizáveis colocadas no mercado e obter de forma digital e automatizada a informação necessária para o preenchimento da declaração anual (documento que as empresas aderentes ao sistema ponto verde preenchem anualmente para reportar a totalidade do peso destas embalagens).
Já a inglesa Polytag associou-se à Lipor, Tratolixo e SPV para criar um esquema de devolução e recompensas de depósitos digitais na zona do Porto. Utilizando a tecnologia Polytag Describe, Tag and Trace, a solução irá primeiro etiquetar os produtos com identificadores únicos, permitindo depois ao consumidor digitalizar os códigos com uma aplicação propositadamente construída e reclamar os seus depósitos no conforto das suas casas, sem terem de utilizar máquinas de venda automática inconvenientes e dispendiosas. As embalagens serão eliminadas através do seu sistema normal de contentores de lixo ou contentores comuns, criando um esquema de devolução de depósitos mais barato, conveniente e eficaz na área.
Por fim, os inovadores da inglesa MyResonance estão a trabalhar em conjunto com a Lusoforma e a Lipor para implementar em Portugal uma rede social que usa técnicas de gamificação para capacitar as organizações a comunicar, promover e envolver as suas comunidades a tomar medidas coletivas em torno de iniciativas baseadas em ESG, transformando cada pessoa em embaixadores da marca e construindo uma presença e identidade online para promover um mundo mais limpo.
Para Manuel Tânger, Co-Founder e Head of Innovation da Beta-i, “este programa deixa- nos especialmente orgulhosos – quer seja pela sua importância, quer pela necessidade de inovar e promover um país e um mundo mais limpo e verde. Os desafios atuais da gestão de resíduos são complexos e, por isso, acreditamos que apenas juntos conseguimos resolvê-los. Neste sentido, é com grande satisfação que, através da nossa metodologia de inovação colaborativa, conseguimos com sucesso conectar startups e organizações de vários países, com diferentes soluções, desafios e, sobretudo, com diferentes perspetivas – tudo isto ainda de forma 100% remota por conta da pandemia. Os projetos que estão agora em desenvolvimento são, mais uma vez, a prova da colaboração como motor da inovação.”
Já Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, afirma que “esta parceria com a Beta- i trouxe-nos resultados extraordinários, pois chegámos ao final com soluções que de facto vêm resolver problemas críticos e reais e estão alinhadas com os objetivos estratégicos da Sociedade Ponto Verde. A nossa responsabilidade cresce diariamente, devido às novas obrigações e políticas de conformidade com que países, governos, organizações e consumidores se deparam. Por isso, numa altura em que celebramos 25 anos, sentimos a urgência de trazer a transformação digital para o nosso sector e encontrar soluções tecnológicas para maiores e melhores processos de reciclagem. Acredito que o caminho se faz através desta cultura de colaboração e abordagem entre empresas, municípios, Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos e inovadores.”
Para a SPV, a expectativa destas parcerias é fortalecer a cadeia de valor das embalagens com soluções conducentes a uma maior eficiência dos processos, que permitam também ajudar ao cumprimento das metas nacionais e comunitárias em matéria de gestão de resíduos – em conformidade com o futuro PERSU 2030 – bem como os compromissos assumidos pelo País no domínio da economia circular, clima e sustentabilidade. Atendendo às diferentes dinâmicas das entidades envolvidas, outros projetos e parcerias poderão ainda vir a ser desenvolvidos para além dos apresentados, dado o cariz inovador das startups que concorreram ao Programa Re-Source.