Somente 1,2% das águas residuais tratadas são reutilizadas, metade da média registada na União Europeia, o que os ambientalistas da Zero consideram uma contradição num país tão suscetível à seca, e defendem ser prioritário o aproveitamento, afirma a Lusa.
“Das 265 entidades [com estações de tratamento de águas residuais – ETAR – existentes, apenas 23 têm por prática reutilizar as águas tratadas, o que é metade daquilo que se faz na União Europeia” (UE), onde a média é de 2,4%, disse hoje à agência Lusa Paulo Lucas, da Zero.
Para a Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, esta situação revela “alguma contradição”, já que Portugal é um dos países europeus mais suscetíveis à seca – em junho, cerca de 80% do território estava em seca severa (73%) e extrema (7%) – e às alterações climáticas. E propõe a maior reutilização das águas tratadas nas regiões onde os recursos hídricos são mais escassos, o que deve ser uma prioridade de investimento e elemento essencial do Plano de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca apresentado na semana passada.
As águas residuais podem ser tratadas e depois reutilizadas para vários fins, como a rega na agricultura ou em jardins, a lavagem de pavimentos, de viaturas ou de contentores do lixo. Entre as entidades identificadas como mais relevantes no aproveitamento de águas residuais, a Zero destaca a Águas do Algarve, que reutiliza 3,5% das que foram tratadas para lavagem de equipamentos e rega de espaços verdes.
Esta prática é adotada em 13 ETAR algarvias – Almargem, Vila Real de Santo António, Loulé, Quinta do Lago, Vilamoura, Olhão Nascente, Faro Noroeste, Albufeira Poente, Ferreiras, Vale Faro, Boavista, Silves e Lagos, especifica a Zero. “Identificámos as Águas de Lisboa e Vale do Tejo, agora dividida em Águas do Vale do Tejo, Águas do Tejo Atlântico e Simarsul, os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra, o município de Ourém e os serviços municipalizados de Almada, mas quem se destaca mesmo pela positiva são as Águas do Algarve”, salientou Paulo Lucas.
Esta entidade, apontou, “tem uma particularidade interessante”, é que, além de reutilizar esta água nas suas instalações, fornece a entidades externas, nomeadamente para regar campos de golfe. A Zero defende que algumas medidas são prioritárias em algumas bacias hidrográficas, nomeadamente dos rios Leça, Tejo, Sado, Guadiana e das ribeiras do Oeste e do Algarve, que se encontram na categoria de “escassez severa”.
Para os ambientalistas da Zero, “a legislação não é clara relativamente à reutilização de águas tratadas e há um trabalho de regulamentação que o Governo tem de fazer”. “Pensamos que deve haver uma articulação entre os ministérios do Ambiente e da Agricultura, porque existe um grande potencial de utilização destas águas residuais” para regar uma área estimada entre 35 a 100 mil hectares, permitindo a reciclagem de nutrientes, referiu Paulo Lucas.
A análise da Zero partiu dos dados disponibilizados pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) relativos a 2015. Na União Europeia são reutilizados anualmente cerca de mil milhões de metros cúbicos, cerca de 2,4% da água tratada, mas o objetivo é chegar aos seis mil milhões de metros cúbicos, sendo Portugal considerado um dos países onde o potencial de reutilização é maior. Atualmente, em Portugal, as 23 entidades que seguem aquela prática reutilizam um total de 7,8 milhões metros cúbicos (1,2% do total do país).