A sustentabilidade e o turismo estiveram em debate na 3ª edição da Conferência Smart and Green Tourism, uma iniciativa da Ambitur e da Ambiente Magazine, em parceria com a Fundação AIP, que teve lugar no dia 1 de março, no âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL).
O segundo painel desta conferência foi dedicado à temática da “Mobilidade Sustentável: O caminho a seguir“, e contou com a moderação de Miguel Eiras Antunes, partner na Deloitte. Maria João Calha, sustainability manager na TAP, foi uma das quatro oradores deste painel, e deu conta daquilo que a companhia aérea portuguesa está a fazer no caminho da sustentabilidade e dos desafios com que se depara todos os dias.
A gestora não duvida que “o cliente é o primeiro driver da sustentabilidade” e sustenta que a TAP deu um passo no sentido de colocar a direção de sustentabilidade a reportar ao C-Level. Cada vez mais, explica a responsável, os grandes grupos querem compensar as suas emissões e já não é suficiente oferecer créditos de carbono, havendo uma exigência de combustíveis sustentáveis. Na verdade, admite, “sentimos que podemos perder grandes clientes corporativos por não estarmos ajustados ou não estarmos dentro dos targets que os clientes impõem”. E resume dizendo que é o cliente que “cada vez mais exerce esta pressão, faz-nos melhorar, muito mais depressa do que poderíamos esperar”.
é o cliente que “cada vez mais exerce esta pressão, faz-nos melhorar, muito mais depressa do que poderíamos esperar”
Maria João Calha explica que o grande desafio para uma empresa de transporte aéreo como a TAP é a descarbonização. E adianta que há um longo caminho a percorrer para que esta possa reduzir a sua pegada de carbono, pois continua muito dependente de um combustível fóssil. “Temos que apostar num roadmap claro para a transição energética e é isso que a TAP está a fazer, na procura de combustíveis que tenham um menor teor de carbono”, aponta, pois estes combustíveis podem reduzir a pegada entre 70% a 80%. E indica que a companhia aérea nacional já definiu uma estratégia clara. Mas o facto é que existe uma reduzida disponibilidade destes combustíveis no mercado e o custo é quatro a cinco vezes superior ao combustível convencional, lamenta a oradora. Ou seja, é necessário que estes custos diminuam, que a produção seja mais generalizada e que os combustíveis estejam disponíveis em todos os aeroportos.
“Temos que apostar num roadmap claro para a transição energética e é isso que a TAP está a fazer, na procura de combustíveis que tenham um menor teor de carbono”
A responsável pela pasta de Sustentabilidade na TAP admite que ainda é preciso haver muita investigação para que surjam novas soluções que permitam reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. E, para isso, é preciso que os governos apoiem. E lembra que a ICAO – Organização Internacional da Aviação Civil decidiu, no passado mês de novembro, que todo o combustível que o setor da aviação utilizar em 2030 deverá ter menos 5% de intensidade carbónica do que em 2023. E isso implica, explica, que nessa altura do total que for produzido em termos de combustíveis renováveis, cerca de 25% tem de ser direcionado para a aviação.
“É muito importante apostarmos numa cabina mais sustentável e há muitas coisas que podemos fazer a bordo”
Mas há outros fatores importantes neste caminho para a descarbonização. A oradora lembra, por exemplo, a aposta que a TAP tem estado a fazer na renovação da sua frota, no sentido de que seja cada vez mais eficiente. No final de 2023, 68% da frota Airbus operada pela TAP já era neo, ou seja, da nova geração, o que faz com que seja uma das mais recentes da Europa. Mas também a operação tem de ser muito eficiente, aponta Maria João Calha “e é isso que procuramos fazer com outras iniciativas como remover peso a bordo, substituição de materiais como trolleys antigos por outros de materiais mais leves, ajustamento das quantidades embarcadas às necessidades dos clientes através da revisão de carregamentos de catering”, entre outras medidas. “É muito importante apostarmos numa cabina mais sustentável e há muitas coisas que podemos fazer a bordo”, identifica a responsável. E é nesse sentido também que a TAP lançou um projeto – Sustainable Cabin – para que se encontrem possibilidades de maior eficiência a bordo. Neste momento, a responsável da companhia aérea revela que do que é embarcado, apenas 30% é descartável, sendo que 43% é reaproveitado para novos voos e 27% do que é embarcado volta a ser utilizado.
Por Inês Gromicho. Fotos @Raquel Wise.