“A maneira mais impactante de alcançar um financiamento sustentável é através do próprio negócio”. Trata-se de saber, de forma consciente, a quem um banco vai fazer um empréstimo e em que condições. Quem o diz é Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, que falou na passada sexta-feira, 3 de março, no segundo painel “Financiamento verde, climático e sustentável” da conferência “Smart and Green Tourism II”, organizado pela Ambitur, juntamente com a Ambiente Magazine, no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.
No debate, moderado por Sofia Santos, fundadora da Systemic, a diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola considera que o negócio é o primeiro elemento da lógica do setor financeiro, que, segundo a responsável, tem “um potencial muito grande de canalizar os recursos financeiros para que a economia esteja alinhada com as metas da energia e do clima e também com uma sociedade mais inclusiva”. Mas, o grande propósito do setor financeiro passa além disso, considera a responsável que acrescenta à equação a criação de riqueza e de postos de trabalho.
Como a Banca tem de subsistir, Filipa Saldanha explica que “é preciso ter um conhecimento muito profundo dos desafios sociais e ambientais mais prementes na nossa sociedade”. Essa análise expressa-se em riscos que são avaliados de acordo tanto com o conhecimento científico como com o conhecimento empírico, proveniente de outros processos semelhantes que podem ser aproveitados e readaptados.
Compreender de antemão os riscos de um negócio permite avaliá-lo não só “numa questão de propósito e ética, mas também numa questão financeira”, esclarece a responsável, acrescentando que “ter uma carteira de crédito alocada num determinado setor de atividade que não está resiliente à adaptação às alterações climáticas” traz fragilidades que, consequentemente, fragilizam o banco.
Assim, o risco ambiental é cada vez mais preponderante na concessão de créditos. Sofia Santos sintetiza bem esta ideia: “o clima e os danos ambientais constituem cada vez mais um risco para uma empresa, e os bancos querem minimizar riscos. Ao analisar um projeto, além dos riscos tradicionais, agora importa também averiguar possíveis riscos ambientais, climáticos, ou o risco mais abrangente ESG”.
O ponto seguinte à avaliação do risco é o esboço da estratégia das ofertas financeiras, que poderão ser traçadas de forma a incentivar o cliente a investir mais na descarbonização, bem como outros vetores-chave na melhoria da sustentabilidade.
“Temos de conhecer muito bem os riscos, fazer uma relação com o negócio e depois desenhar uma oferta de produtos ESG que possa colmatar estes desafios e, ao mesmo tempo, não nos deixar ficar para trás naquilo que possam ser novas oportunidades de negócio”, aponta Filipa Saldanha.
Esta tomada de decisão nunca deve ser feita sem um acompanhamento ao cliente. A diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola explica que “é preciso estar ao lado do cliente para perceber qual é a sua maturidade nesta jornada, para lhe dar as ferramentas necessárias para conseguir caminhar mais rápido”. Esta relação, mais do que comercial, torna-se consultiva, sintetiza a responsável.
Para além de Filipa Saldanha, participaram neste painel Pedro Teixeira, responsável pela área de Sustentabilidade do NEYA Hotels, Inês Costa, antiga secretária de Estado do Ambiente e especialista em áreas de ESG na Deloitte, e João Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal.
A Bolsa de Turismo de Lisboa realizou-se entre os dias 1 e 5 de março na FIL – Feira Internacional de Lisboa.
Por: Ambiente Magazine, na BTL
📸 © Raquel Wise