Comunicar informação sobre práticas sustentáveis: eficaz ou não? Esta foi uma das questões levantadas no segundo painel “Financiamento verde, climático e sustentável” da conferência “Smart and Green Tourism II“, organizada, na passada sexta-feira, 3 de março, pela Ambitur, juntamente com a Ambiente Magazine, no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa.
No debate, moderado por Sofia Santos, fundadora da Systemic, ficou claro que, a partir de 2024, a Banca será obrigada a reportar o “Green Asset Ratio”, isto é, a percentagem dos empréstimos feitos que estão alinhados com a descarbonização apontada para 2050. Contudo, apenas as informações referentes às grandes empresas entram neste rácio, tratando-se de uma medida que contrasta com o facto de mais de 90% do tecido empresarial ser composto por pequenas e médias empresas (PME). Apesar disso, Filipa Saldanha, diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola, assegura não é impedimento para aquela entidade bancária de requerer, desde 2020, relatórios sobre as atividades das empresas e a sua relação com a sustentabilidade.
Se estes relatórios podem afastar os clientes dos bancos, já que coloca sobre si um ónus a mais para além da tanta burocracia necessária para pedir financiamento, a responsável diz que não. O banco não perde clientes: “Muito pelo contrário”, salienta a responsável, que acredita que este processo faz parte da “jornada para a consciencialização”.
Esta metodologia poderá mesmo levar à mudança de paradigma menos sustentável de outros bancos, bem como atrair mais clientes com uma consciência de sustentabilidade, permitindo ao mercado ser mais competitivo, considera Filipa Saldanha.
A recolha de informação sobre práticas sustentáveis junto das empresas serve para antecipar o “grande tsunami” ambiental que se avizinha. Mas, a recolha dos dados contribui também para um objetivo mais construtivo, nota a responsável.
Com este conhecimento, a diretora de Sustentabilidade do Crédito Agrícola considera que será possível construir com precisão estratégias mais direcionadas, ao mesmo tempo que permite beneficiar os clientes que apresentem uma maturidade maior, através de incentivos mais sustentáveis a nível ambiental e social, tornando-se também possível sinalizar os setores mais fragilizados.
“Vamos tentar perceber quais são as ferramentas que eles precisam para acelerar esta jornada, seja o acesso a informação útil ou desenhar formação à medida para determinados setores de atividade económica”, explica a responsável.
Filipa Saldanha enfatiza o conceito de “banco da transição”, como incentivo a novos financiamentos mais sustentáveis ao mesmo tempo que se apoia outros que não estão tão bem posicionados.
Este é fator vai ao encontro da questão da cadeira de valor, destacada pelos outros oradores, durante a conferência. Mesmo que algumas empresas não sejam hoje obrigadas a reportar os impactos ambientais, os financiadores querem receber esta “informação granular”.
“As empresas precisam de começar a ser mais transparentes sobre as suas práticas sociais e ambientais”, salienta Filipa Saldanha, destacando que essa transparência não deve ser só externa: “É necessário consciencializar as empresas ao nível da gestão interna”. E não se pode assumir que a equipa de sustentabilidade é um nicho. A responsável conclui o discurso afirmando que é preciso comunicar com as restantes equipas na empresa. Só assim a sustentabilidade será enraizada no modelo de negócio da organização, com um todo.
Para além de Filipa Saldanha, participaram neste painel Pedro Teixeira, responsável pela área de Sustentabilidade do NEYA Hotels, Inês Costa, antiga secretária de Estado do Ambiente e especialista em áreas de ESG na Deloitte, e João Meneses, secretário-geral do BCSD Portugal.
A Bolsa de Turismo de Lisboa realizou-se entre os dias 1 e 5 de março na FIL – Feira Internacional de Lisboa.
Por: Ambiente Magazine, na BTL
📸 ©Raquel Wise