O conceito de “smart city” está mais do que nunca plasmado nas agendas dos municípios e, consequentemente, nas prestadoras de serviços municipais. Nunca fez tanto sentido incluir os princípios “smart”, até porque as previsões indicam que o crescimento nas cidades será uma realidade. Neste trabalho, partilhamos as prioridades dos municípios de Viseu e Loulé. Fomos ainda ao encontro de algumas das empresas que têm marcado presença no Portugal Smart Cities.
Foi há oito anos que Viseu assumiu uma “estratégia diferenciadora” de captação de investimento assente nos eixos de TICE/ Smart Cities (Viseu Tech), Saúde (Health & Care), Ambiente e Energia (environment & clean energy) e Indústria Agroalimentar. Afirmando-se como um “living lab”, o município quer facultar às empresas tecnológicas instaladas na região a possibilidade de testarem tecnologias e ferramentas inovadoras na cidade como é o caso do MUV, o Viseu Recicla ou o Orçamento Participativo. Trata-se de uma estratégia que, permite aproximar a gestão dos cidadãos, facilitando a sua vida e permitindo criar ferramentas que permitam uma melhor gestão por parte do município. Ainda dentro da área tecnológica e inovação, a criação do Vissaium XXI (V21) permite a instalação de startups, dando “corpo”a 17 empresas. No âmbito da captação e apoios ao investimento, além do programa municipal Viseu Invest, foi concluída recentemente a ferramenta digital “Viver e Investir em Viseu”, que permite o cálculo automático dos incentivos à fixação. Mas esta aposta na criação de empresas estende-se também às freguesias de baixa densidade, onde se destaca o programa “Viseu Rural” para promoção do empreendedorismo também nestas localidades. Já na área da mobilidade, o destaque está no programa “MUV – Mobilidade Urbana de Viseu” que assenta numa app em fase final de testes com bilhética, horários e informação “on-time”. Inclui também o Tele BUS, um serviço de transporte a pedido, e o MUV Park, que permite a gestão de estacionamento à superfície. Este conceito de “Viseu Cidade Inteligente” estende-se a todas as dimensões da vida dos cidadãos e de quem investe ou visita o território. Na área da Cultura e do Turismo, foi lançada a aplicação “WALK VISEU”, que permite visitas guiadas seguras e ao ritmo de cada um aos Museus e Centro Histórico. Já através do Viseu Recicla, foram instaladas mais de 400 ilhas ecológicas sensorizadas, permitindo avaliar a quantidade de resíduos e interagir com os veículos de recolha de RSU. Em breve, entrará em fase de teste o sistema RAYT, que irá abranger 27 mil habitantes e 420 contentores, além da instalação de um sistema inteligente de gestão de rega.
[blockquote style=”2″]É uma forma de responder a desafios tão prementes como as alterações climáticas[/blockquote]
É também como os “olhos no futuro” que o município de Loulé pretende dar um contributo para a construção de uma sociedade criativa e inovadora, muito orientada para o desenvolvimento sustentável e para o incremento da inteligência urbana. Quem o diz é Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, sublinhando que têm sido muitas as áreas de intervenção, desde a “mobilidade” à Smart Governance. E as empresas municipais têm sido “determinantes”. O caso de Vale do Lobo, o primeiro Smart Resort do mundo, é exemplo disso: este projeto foi lançado com o objetivo de colmatar desafios ao nível da inovação, como a “construção de um edifício com maior eficiência energética através do sistema de domótica” ou a “melhoria da relação da Infralobo com os seus clientes”. Também em Vilamoura, estas matérias têm tido especial relevância na criação de um território virado para o futuro e que pretende afirmar-se pela qualidade de vida e pelos padrões turísticos elevados. Além do “pioneirismo em termos da rede de bicicletas públicas partilhadas”, Vítor Aleixo destaca também o “sistema de contagem de veículos” no acesso ao centro de Vilamoura ou as “passadeiras inteligentes”. Entretanto, a autarquia aderiu ao projeto “Cooperative Streets”, permitindo alimentar a rede TEN-T (Trans-European Transport Network): “São objetivos a segurança rodoviária, a promoção da coesão e a promoção da descarbonização”. Ser uma “cidade inteligente” é, por isso, encarada como “uma forma de promover a qualidade de vida dos cidadãos e responder a desafios tão prementes como as alterações climáticas”.
[blockquote style=”2″]Impulsionadoras das smart cities[/blockquote]
A Shimejito Urban Farming é uma comunidade para a agricultura do futuro: “Vendemos agricultura como serviço e permitimos que pessoas que não possuem conhecimento na área iniciarem seus negócios no setor”, explica Adriel Oliveira, CEO da Shimejito Urban Farming, partilhando a missão de serem a “comunidade mais inclusiva para criação de Agricultores do Futuro”, tendo como base a “Agricultura 4.0 e as suas Tecnologias”. As “cidades inteligentes” precisam de “autossuficiência e investir em produção urbana local reduz drasticamente o impacto ambiental e distribui valor económico”. E os países que souberem aproveitar o “talento”, as “oportunidades” e a “inovação” resultante das smart cities serão os mais bem-sucedidos. Portugal ainda “precisa melhorar as políticas de incentivo para negócios verdes e inovadores, se quiser ser a referência em produção de conhecimento e retenção de pessoas”.
A StartUp Portimão, integrada no Centro de Negócios de Portimão, é uma incubadora direcionada para as Smart Cities. Sediada no Autódromo do Algarve, quer apoiar empreendedores e empresários, garantindo uma estrutura de apoio às startups, que podem beneficiar das instalações do autódromo para criar uma proximidade às grandes marcas, pessoas e potenciais clientes: “Esta característica fornece à StartUp Portimão uma proposta de valor única a nível nacional e internacional”, afirma a coordenação do projeto. Por outro lado, disponibiliza serviços de apoio como “planos de incubação ou serviços de mentoria personalizados”, além da dinamização anual dum “bootcamp de aceleração” destinado a empreendedores. Outra aposta é no “empreendedorismo jovem” focado em temáticas relacionadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Aproximar as cidades das pessoas que as residem, trabalham ou as visitam é a missão do TOMI, uma solução interativa que disponibiliza informação e serviços de forma oportuna. Seguindo um critério de proximidade, este sistema disponibiliza as opções mais próximas do utilizador, através de quatro módulos principais: Notícias, Eventos, Diretório e Transportes, e ainda uma funcionalidade adicional de City Marketing: fotos e GIFs. José Agostinho, CEO do TOMI Portugal, assegura que as smart cities são uma área com aposta transversal, com a disponibilização contante de novos serviços e o desenvolvimento de “projetos para potenciar ainda mais a integração nas cidades”. Para José Agostinho, as smart cities são uma área que tem vindo a ter uma especial atenção em Portugal, “mas ainda há um longo trabalho a realizar de forma organizada, planeada e integrada, e em cocriação com os habitantes e gestores das cidades”.
Quando o assunto é smart cities, o foco da Unipartner passa por impulsionar o poder das tecnologias digitais para modernizar os serviços públicos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida nas cidades e saúde do planeta. Desta forma, apoiar todos os agentes públicos e privados nos seus desafios de inovação digital é a missão da empresa, através da disponibilização de “soluções de negócio” e de “consultadoria” para os vários setores, apoiando “iniciativas de transformação digital”, diz Fernando Reino da Costa, CEO da Unipartner Para o gestor, um dos maiores desafios dos municípios prende-se em “criar uma visão de transformação para um serviço ao cidadão” focado na “qualidade, conveniência, participação e transparência”. Por isso, a Unipartner está a colaborar com três grandes municípios no Centro e Norte do país. Apesar de em Portugal existirem mais cidades ou municípios equipados com serviços e infraestruturas necessárias à vida em sociedade, o CEO da Unipartner constata que “há ainda um caminho pela frente”, com as maiores cidades do país a liderarem o ranking das cidades inteligentes.
*Este artigo foi publicado na edição 90 da Ambiente Magazine.