Sintra pretende assumir-se como um concelho de referência a nível nacional no reaproveitamento das águas residuais tratadas, para utilizações como a rega de espaços verdes, lavagem e higienização de contentores e limpeza e desobstrução de coletores. Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra (SMAS de Sintra) já reaproveitam, aliás, 6% da água residual tratada nas suas 17 ETAR (Estações de Tratamento de Águas Residuais), quando a média nacional é de cerca de 2%.
A aposta dos SMAS de Sintra já se traduziu, desde 2005 e até ao final de 2021, num reaproveitamento de 3.132.873 m3 de água residual tratada, o que equivale a uma poupança de 1 milhão e 700 mil euros, no âmbito do denominado Projeto EcoÁgua que visa a reutilização para fins múltiplos, como a limpeza de mecanismos das ETAR e a desidratação mecânica de lamas.
“Sintra, pela sua realidade, pelas suas características, deverá assumir-se como um concelho que servirá de exemplo, para todo o país, ao nível do reaproveitamento das águas residuais tratadas”, realça o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, que dá conta que “cerca de 30 milhões de m³ de águas residuais são tratadas, anualmente, no concelho, sendo que 25 milhões (85%) são encaminhados para a Águas do Tejo Atlântico”, entidade que gere o sistema multimunicipal de saneamento da Grande Lisboa e Oeste e que efetua o respetivo tratamento na ETAR da Guia, em Cascais. Cerca de 5 milhões de m3 de água residual são, por isso, tratadas nas ETAR do concelho.
Para Basílio Horta, que preside também ao Conselho de Administração dos SMAS de Sintra, “numa altura em que o país atravessa repetidos períodos de seca severa e extrema, é indispensável que sejam criados mecanismos que permitam o reaproveitamento das águas residuais tratadas, que, atualmente, são perdidas e libertadas nos cursos de água”.
No âmbito do projeto de reabilitação da ETAR da Cavaleira, na freguesia de Algueirão-Mem Martins, os SMAS de Sintra vão reforçar a reutilização de água residual tratada para a rega dos espaços verdes do Parque Urbano da Cavaleira e do futuro Hospital de Proximidade de Sintra.
Os SMAS de Sintra estão, ainda, fortemente empenhados em contribuir para a poupança e uso eficiente da água e, nos últimos anos, reduziram o volume de água não faturada, de 30,9% em 2014 para 18,3% em 2021, o valor mais baixo de sempre, definindo, como objetivo ambicioso a alcançar até 2025, a meta de 15%.
Central de dessalinização
Tendo consciência que a seca é uma questão estrutural e não meramente circunstancial, os SMAS de Sintra pretendem avançar com a construção de uma central de dessalinização, junto da respetiva orla costeira, que permita responder a uma parte das necessidades de distribuição de água do concelho.
“Esta central de dessalinização disponibilizaria cerca de 10 mil metros cúbicos de água para consumo humano, diariamente, assumindo-se como uma solução complementar ao atual fornecimento de água proveniente da albufeira de Castelo de Bode”, acentua Carlos Vieira, diretor delegado dos SMAS de Sintra. “É óbvio que esta central irá produzir uma pequena fração da água que distribuímos diariamente no concelho de Sintra, cerca de 75 mil m3, mas temos a forte convicção que não existe uma solução mágica para o problema que vivemos, mas antes uma estratégia que envolva várias medidas e uma nova forma de encarar a utilização da água”, sublinha este responsável.
Os SMAS de Sintra são a maior entidade gestora dos sistemas públicos municipais de distribuição de água em Portugal, contando com cerca de 195 mil clientes. Estes serviços municipalizados estão a investir, entre 2022 e 2026, mais de 71 milhões de euros na gestão e inovação dos sistemas de água e resíduos.
*Este artigo foi incluído na edição 96 da Ambiente Magazine