Um novo estudo publicado no Jornal de Biologia dos Vertebrados, da Academia de Ciências da Républica Checa, por investigadores do MARE da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) revela novos dados sobre a biologia reprodutiva do Siluro no Rio Tejo, também conhecido por peixe-gato-europeu, que pode atingir 2,8 metros e 130 kg, e apresentar uma grande capacidade reprodutiva, com até meio milhão de oócitos.
Este peixe invasor e predador de topo (sem inimigos naturais) é o maior peixe de água doce na Europa, tendo sido detetado em Portugal em 2014 pela primeira vez. O trabalho agora apresentado, realizado no âmbito do projeto LIFE-PREDATOR, é o primeiro a ser feito com populações de siluro na Península Ibérica sobre a sua biologia reprodutora, sendo um dos poucos realizados na área de distribuição invadida.
“Esta espécie invasora atinge grandes dimensões e há uma relação direta entre o volume da cavidade abdominal e o número total de oócitos produzidos”, explica o Investigador do MARE-ULisboa/ARNET Christos Gkenas, primeiro autor deste trabalho. “Aquilo que nos surpreendeu é que a época de reprodução deste peixe é prolongada, durando quase 5 meses, e também o tamanho dos seus oócitos que são bastante grandes, podendo atingir mais de 3 mm de diâmetro”.
Para esta investigação foram capturados quase 700 siluros com utilização de pesca elétrica e redes de emalhar, verificando-se que o siluro desova entre fevereiro e junho. Esta estratégia permite que a sua descendência tenha diferentes oportunidades de sobrevivência face a algum evento extremo hidrológico (ex. cheia de primavera), mas também evitará a competição por recursos alimentares dos juvenis. Verificou-se ainda que os indivíduos desta espécie atingem a maturidade sexual com um tamanho de 70 cm em ambos os sexos (cerca de 3 anos) sendo bastante precoce dado que esta espécie pode viver até 70 anos.
“O nosso trabalho é importantíssimo para o controlo populacional desta espécie, isto porque os nossos esforços deverão focar-se na remoção de indivíduos de maiores dimensões, que apresentam maiores fecundidades.”, diz Filipe Ribeiro, Investigador Coordenador deste estudo, também do MARE-ULisboa/ARNET. “As densidades destes animais são elevadas, particularmente nas áreas protegidas como o Parque Natural do Tejo Internacional. Ainda em outubro, no âmbito do projeto LIFE-PREDATOR, retirámos cerca de 1200 kg de siluros, cerca de 100 indivíduos em apenas 3 dias e num pequeno troço de 10 km do rio Ponsul. A constituição de equipas de captura e remoção, com vista à redução populacional do siluro é essencial para mitigar o impacto deste enorme invasor em Portugal”.