No passado dia 6 de julho, o setor agrícola reuniu-se na quinta inteligente da ANIPLA, na Companhia das Lezírias, para a primeira edição do Fórum Smart Farm. O objetivo deste encontro foi debater assuntos ligados à sustentabilidade e futuro da agricultura.
O debate foi moderado pela jornalista da TSF, Ana Bravo, e teve como oradores Domingos Santos (produtor e presidente FNOP), Jaime Ferreira (presidente da Agrobio), João Mendes (produtor agrícola na Quinta do Juncal), José Diogo Albuquerque (CEO do Agroportal) e Luís Antunes (Diretor da ANIPLA).
Produção mundial de alimentos tem de aumentar 60% para suprimir necessidades previsíveis
Um dos tópicos em destaque no Fórum foi a necessidade de a produção mundial de alimentos ter de aumentar 60% até 2050. Para os oradores, a maior parte da população não tem consciência deste dado, o que ficou em evidência num estudo da Católica realizado em colaboração com a ANIPLA e divulgado em abril deste ano, no qual se demonstrou que 93% dos portugueses não tinham conhecimento sobre esta relação entre o aumento da população mundial e a necessidade de ampliar a produção de alimentos.
Segundo Domingos Santos (FNOP): “Hoje em dia, nas sociedades modernas, é um direito adquirido chegarmos à mesa e ao supermercado e termos tudo disponível, tal como alimentos com uma relação qualidade-preço aceitável. Mas temos outras regiões do mundo em que isso não é verdade e as pessoas têm fome. O nosso planeta tem limites, não há muito mais solo disponível para se fazer agricultura. Temos de produzir mais com os mesmos recursos disponíveis e ser eficientes.”
População mundial atingirá os 9,8 mil milhões
O segundo tópico que a moderadora Ana Brava introduziu destacava a estimativa da Organização das Nações Unidas de que a população mundial atingirá os 9,8 mil milhões, em 2050. Para o membro da direção da ANIPLA, Luís Antunes, o crescimento da população é um facto inevitável que terá consequências ao nível da sua fixação nas áreas urbanas, causando um afastamento ao campo e a redução da produtividade agrícola.
Mais ainda, o responsável da Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas refere que “mais de metade dos agricultores à escala global são de pequena dimensão. Para conseguir dar resposta a este crescimento exponencial da população, é preciso apoiar e dotar esses pequenos agricultores de tecnologia que lhes permita produzir em maior quantidade e de forma mais eficiente”.
Necessidade de aproximação entre os consumidores e os profissionais do setor agrícola
Para o presidente da Agrobio, Jaime Ferreira, a generalidade da população não tem consciência da realidade da agricultura e desconhece os desafios associados à produção de alimentos, pelo que reforça a necessidade de se criarem momentos de diálogo entre os consumidores e o setor agrícola, numa lógica de revalorização da atividade agrícola.
O ex-Secretário de Estado da Agricultura e atualmente CEO do agregador de informação do setor agrícola Agroportal, José Diogo Albuquerque, alertou para o facto de os mercados alimentares se alterarem consoante as modas da nutrição, defendendo a necessidade de se aproximar profissionais, como os nutricionistas dos assuntos agrícolas: “É importante trazer os nutricionistas para estes debates. Eles estão acessíveis para debater. Se um nutricionista disser aos seus pacientes que o leite de vaca é prejudicial à saúde, a produção do leite ficará certamente em perigo.”
Instrumentos de segurança alimentar
Já quase no final da sessão a conversa integrou os instrumentos que os agricultores têm disponíveis para a segurança alimentar. Para o jovem agricultor João Mendes, é preciso reforçar a confiança do consumidor no agricultor e nos recursos que ele usa para garantir a maior qualidade dos seus alimentos. Reforça ainda a alta responsabilidade dos agricultores: “Tal como um médico que está a operar tem responsabilidade sobre o seu paciente, nós (agricultores) também temos responsabilidade sobre os tratamentos que aplicamos.”
Já para Luís Antunes, a informação é a chave: “Portugal e a Europa têm das legislações mais rigorosas do planeta, o que gera alimentos muito seguros e de alta qualidade. Numa altura de notícias falsas, devemos controlar a informação que sai para o consumidor, até na etiquetagem. Abusa-se na palavra “natural” ou “caseiro”. Só porque o alimento não está congelado, já se diz que é caseiro. É preciso maior rigor na informação a passar, promover o que é nosso e garantir que é seguro.”
A primeira edição do Fórum Smart Farm foi transmitida em direto no Facebook, com um alcance de mais de 20 mil pessoas. Para a ANIPLA, responsável pela organização do evento, esta iniciativa superou as expectativas e criou o espaço necessário para um diálogo onde foram abordadas questões que impactam a vida de todos os cidadãos.
No final do debate foi consensual, entre convidados e assistência, a necessidade de que esta conversa se prolongasse e integrasse mais elementos, uma vez que se trata de um assunto (a agricultura) que tanto impacto tem na vida de toda a população. Entre a participação do público e comentários finais, todos pareceram concordar que os consumidores portugueses precisam de ter acesso a melhor informação para promover um conhecimento real da produção agrícola e permitir a segurança e tranquilidade necessárias às suas escolhas alimentares.