“Consumo Sustentável – Realidade e Desafios” foi o tema central da segunda edição do e-Waste Summit, uma iniciativa promovida pela ERP Portugal e pela LG Electronics Portugal. Na manhã desta terça-feira, 26 de outubro, foram vários os especialistas que se debruçaram sobre a importância da sensibilização e da comunicação na mudança de comportamento dos consumidores no que respeita à reciclagem dos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE).
“O que se deve ou não fazer aos REEE?; “Para onde devem ser encaminhados?”; “Quais os impactos no dia-a-dia, nas empresas, nos retalhistas, no ambiente e até na carteira de cada um?”. Estas foram algumas das perguntas que estiveram em destaque nos quatro podcasts promovidos pela ERP Portugal e pela LG Portugal e conduzidos pelo humorista César Mourão. Esta foi uma das muitas iniciativas promovidas pelas entidades para alertar para a problemática do e-waste. “Quisemos trabalhar os vídeos e ter uma abordagem carregada de humor”, começa por explicar Ricardo Neto, presidente da ERP Portugal, acrescentando que “uma pessoa reconhecida no país” traduz-se numa melhor compreensão e atenção do tema. Mas, no fundo, a ideia é sempre a mesma: “Cumprir com a meta de recolha de REEE´s e que não temos conseguido”. E a verdade é que Portugal não cumpre tais metas: “Enquanto entidade gestora responsável do REEE, fazemos tudo aquilo que conseguimos, mas há muito mais que tem de ser feito”. E olhando aos números com “um terço dos portugueses” a não entregarem os equipamentos elétricos e eletrónicos e, desse um terço, “26% não sabe onde colocá-los”, Ricardo Neto acredita que “todas as ações de sensibilização que sejam capazes de mostrar a melhor forma de indicar qual o destino adequado e onde os podemos entregar são importantes”. Apesar do peso da “sensibilização”, o presidente da ERP Portugal chama a atenção para os “desvios” que são uma realidade nesta área: “O tema dos elétricos e eletrónicos muitas vezes passam para o lado de lá da linha: e se deixar um frigorífico à porta de casa para ser recolhido pela Câmara Municipal – (que faz o seu trabalho) – temos, das muitas vezes, um equipamento já incompleto ou simplesmente que já não lá está e que foi desviado”. O resultado deste “desvio” traduz-se, por um lado, nas consequências para o “meio ambiente” e, por outro lado, “num valor económico que foi retirado ao resíduo” e, que, consequentemente, acarretará custos para o consumidor. Neste desafio, o responsável sublinhou a importância de se “cooperar” com as autoridades que estão no terreno.
Por seu turno, Hugo Jorge, diretor de marketing da LG Portugal, começou por partilhar aquela que tem sido, desde há muitos anos, a preocupação da empresa: “Queremos diminuir a pegada dos produtos que colocamos no mercado”. E, enquanto “produtor mundial de equipamentos elétricos e eletrónicos, numa sociedade de consumo onde a tecnologia é cada vez mais consumida”, a empresa tem procurado meios para que seja possível uma “maior reciclagem dos seus componentes e equipamentos quando chegam ao final do seu ciclo de vida”. E, embora as iniciativas sejam a nível central da LG Corporativa, também as subsidiárias são desafiadas localmente para deixar algum ⁷contributo nesse sentido, assegura. A parceria entre a LG Portugal e a ERP Portugal é a prova do esforço que tem sido feito para apoiar a consciencialização e a comunicação para o mercado da importância da reciclagem dos REEE: “Os podcasts são um momento importante de reunir associações, entidades, empresas e produtores para falar sobre a problemática dos resíduos, os desafios que enfrentamos”. E os resultados não podiam ser mais positivos e demonstradores de se continuar apostar na comunicação: “Temos um milhão de utilizadores impactados com estes vídeos e 200 mil visualizações”, afirma.
[blockquote style=”2″]Estamos formatados para comprar, usar e deitar fora[/blockquote]
Para Nuno Lacasta, presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), Portugal e outros países da Europa não estão a conseguir “garantir a conveniência” aos cidadãos para entregarem os REEE´s, sendo que uma das razões tem que ver com a “legislação”, reconhecendo que a aquela que antecedeu ao UNILEX era confusa. Contudo, aquilo que se verifica é que, não só devido à nova legislação, quer europeia, quer nacional, as empresas reconhecem que é “intolerável” ficar com o “selo” de que não se preocupam com o destino destes produtos, assim como, ao Estado é “intolerável” aceitar ou não fazer mais para assegurar que o mercado paralelo seja combatido. Contudo, este combate não se faz só com “legislação”, sendo que a sensibilização é essencial: “Estas campanhas não podem ser de ´pisca pisca` (um ano), caso contrário, vamos lamentar mais uma campanha que não teve escala e que não teve iniciativas”. Portanto, as campanhas como as que a ERP Portugal e a LG Portugal têm provido fazem “chamar a atenção do cidadão” para a facilidade de entregar os REE´s. “Hoje, fruto dos conhecimentos, há uma vontade de colaborar entre todos”, assegura o presidente da APA, destacando as “oportunidades” que existem para se fazer “melhor” e “aumentar o número em peso e em quantidade dos resíduos que são recolhidos, recuperados e reciclados”. Nestas matérias, Nuno Lacasta destaca a campanha de fiscalização que está no terreno: “Vai perdurar e vai utilizar todos os instrumentos possíveis para aumentar a recolha e o tratamento dos resíduos elétricos em Portugal”. Em matérias de consumo sustentável, o presidente da APA é perentório: “Estamos formatados para comprar, usar e deitar fora”. Este é um “desafio societal”, onde se necessita “inverter certos padrões de consumo”. E mais uma vez, a sensibilização é central: “Os valores que são investidos na sensibilização historicamente são ridículos quando comparados com as necessidades”. Para o presidente da APA, “temos de ser capazes de na União Europeia ter uma política industrial associada à retenção de matérias-primas”.
Foi precisamente para falar sobre comportamentos que Gonçalo Lobo Xavier, diretor Geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), revela que, nos últimos 19 meses, assiste-se a uma “mudança comportamental dos consumidores” nunca vista nos últimos 40 anos, tendo um “impacto muito grande” na forma como se olha para as questões da sustentabilidade e ambiente. Esta mudança, na ótica retalhista é “mais uma oportunidade” para se impactar a vida das pessoas de uma forma positiva: “Enquanto retalhistas, temos de ter consciência que impactamos a vida das pessoa todos os dias, nomeadamente, na forma como vendemos e criamos uma experiência na loja que pode influenciar o comportamento dos consumidores”. Também na geração mais jovem assiste-se a uma crescente “consciência ambiental”, acarretando “oportunidades” e, ao mesmo tempo, “responsabilidades enormes” para todos: “O consumidor olha hoje para as questões da sustentabilidade e reciclagem com outras perspetivas, mas os desafios são diários”. E o crescimento do e-commerce veio criar outro tipo de abordagem, mas que, do ponto de vista da reciclagem, não está explorado: “Quando dizemos que há um crescimento do e-commerce, isso tem impacto de quem vai fiscalizar as devoluções que têm de ser feitas pelos consumidor e aceites pelos retalhistas”. Depois, levanta outra questão: “ 85% do tráfego de e commerce é feito por plataformas internacionais: será que são fiscalizadas e controladas as devoluções?”. Olhando agora para a legislação, o diretor-geral da APED não parece concordar com o facto de ser, nos dias de hoje, mais clara: “O UNILEX tem uma quantidade de instrumentos que são claros, mas a sua aplicabilidade ainda tem muitos desafios de interpretação”.