Senão chover até ao final deste mês o país arrisca-se a enfrentar uma situação muito grave
74% de Portugal continental encontra-se em situação de seca severa a extrema, a segunda mais grave dos últimos 70 anos, de acordo com o boletim climatológico divulgado ontem pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Só em 2005 e 2012, o fenómeno ganhou dimensões tão preocupantes como as que eram registadas a 31 de agosto deste ano. “A 31 de agosto, 24% do território estava em situação de seca fraca a moderada e 74% em seca severa e extrema”, lê no boletim.
Segundo o índice meteorológico de seca (que tem em conta os dados da quantidade de precipitação, temperatura do ar e capacidade de água disponível no solo), no último dia do mês passado, mantinha-se a situação de seca meteorológica que desde março se tem verificado no território do continente.
O mês quente e seco de agosto agravou as condições meteorológicas que se fazem sentir desde maio, com valores médios da temperatura máxima do ar (29ºC) e da quantidade de precipitação (6,8 milímetros) a ultrapassarem os padrões normais. “Os valores da quantidade de precipitação mensal continuam inferiores ao normal (últimos nove meses), pelo que se mantém a situação de seca meteorológica em todo o território continental”, indica o boletim do instituto, adiantando, ainda, que “o estado do tempo foi condicionado por um anticiclone localizado na região dos Açores”.
Como tem vindo a ser noticiado nos diversos órgãos de comunicação social, o setor agrícola também já começou a ressentir-se, embora boa parte da produção tenha escapado aos efeitos da seca, que se agravou a partir de maio, não comprometendo assim a totalidade do ano agrícola. Mas, por exemplo, o azeite e a castanha, em Trás-os-Montes, estão a registar grandes quebras de produção, alertou o diretor regional de Agricultura do Norte à agência Lusa. “A percentagem de água existente no solo em relação à capacidade de utilização das plantas ronda os 10% a 15%, o que significa que, se não houver precipitação imediatamente, há a possibilidade de algumas espécies de plantas não sobreviverem”, explicou Manuel Cardoso. A sub-região de Trás-os-Montes e Douro está, assim, a ser muito afetada pela seca, sendo as zonas da terra quente transmontana e o planalto mirandês as mais castigadas.
Os serviços da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte começaram, entretanto, a fazer um levantamento dos prejuízos provocados pela falta de águas nos solos, indicadores que só serão possíveis apresentar em finais de setembro.
O IPMA já avisou, aliás, que se não começar a chover até ao final deste mês o pais arrisca-se a enfrentar uma situação muito grave. E mesmo que tenhamos um setembro “anormalmente chuvoso” não será suficiente para o país sair da seca grave.