SENAG: Entidades gestoras partilham vertente real das suas perdas de água

No segundo dia do SENAG (Seminário Nacional de Abastecimento de Água), foi apresentada uma mesa-redonda dedicada ao tema “Contribuir ativamente para reduzir as perdas de água – vertente real”, onde várias entidades gestoras do setor partilharam um pouco da sua experiência no combate a este problema.

Carla Cavaco dos EMAS Beja começou por explicar que a abordagem e cálculo do balanço hídrico da entidade é transversal a toda a equipa, sendo que os dados vêm de várias divisões. Neste caso, o cálculo do balanço hídrico é feito anualmente, mas o objetivo é fazer com que este passe a semestral e, por seguinte, a trimestral.

“Temos um território que é extenso, disperso e com densidade populacional reduzida”, além de ser uma zona com algumas dificuldades na captação de talento operacional no setor e com a motivação de equipas.

Mesmo assim, em 12 anos, os EMAS Beja conseguiram reduzir a sua água não faturada em 50%, estando atualmente nos 20/21%.

No caso desta entidade, existe um gabinete de perdas que, na opinião de Carla Cavaco, não pode ser reduzido, pois isso teria um “impacto negativo em todo o trabalho que fizemos até hoje”. “Temos um controlo ativo que se vai manter e o nosso objetivo é mesmo melhorar os instrumentos que esse gabinete possui”.

No caso da Águas do Norte, Fernanda Lacerda evidenciou que a entidade faz cálculo hídrico mensal, diário e até horário. “Fazemos uma análise top down na vertente mais operacional e depois uma análise bottom up“.

Ao dia de hoje, a água não faturada da Águas do Norte está na casa dos 35%, mas “achamos que este indicador não é o que melhor traduz aquele que é o desempenho da entidade gestora e o esforço que se está a fazer no combate às perdas de água”, frisou a responsável.

Esta entidade tem aposta na setorização da rede e na criação de ZMC’s, algo que tem representado um investimento “expressivo”.

Já a Penafiel Verde é uma empresa municipal fundada em 2006, mas que só começou a olhar verdadeiramente para as perdas de água em 2019, devido a ter precisado de investir no alargamento das redes, quer de água, quer de saneamento – “uma gestão de prioridades”, afirmou Alexandra Almeida.

Todavia, o verdadeiro problema estava em não haver medição, levando a que no balanço hídrico final houvesse um elevado número de água não faturada. Assim, a estratégia foi “primeiro medir e identificar onde podia estar a ser gasta essa água”. Além disso, “não tínhamos também a georreferenciação da rede”.

Das 28 freguesias de Penafiel, 27 não estavam a pagar a água e não tinham contadores, além de que regavam os jardins com água da rede e usavam a água de poços para consumo. Nesta problemática, a ação foi começar a falar com os consumidores.

Desta forma, em quatro anos, a entidade reduziu as suas perdas de água em 50%.

A Águas de Valongo, por sua vez, apresenta atualmente a água faturada nos 11% e as perdas reais em 9%. E Alexandra Cunha explicou que “queremos focar na aferição dos consumos ilícitos porque podem ter algum peso na água não faturada. Sentimos também que há necessidade de ajustar os contadores no contexto doméstico, devido a erros de medição”.

Nesta entidade a estratégia começou por fazer o levantamento cadastral de toda a infraestrutura, criaram ZMC’s, equiparam-se essas zonas com sistema de monitorização de dados e formaram-se equipas competentes nesta atividade e com autonomia para gerir estas intervenções no terreno.

“Em Valongo temos uma periodicidade anual do cálculo hídrico”, porque análise mensal seria complicado assegurar a fiabilidade dos dados que se poderiam obter. “Só fazemos essa análise mensal na agua não faturada no índice noturno de perdas”, disse ainda Alexandra Cunha.

O SENAG, organizado pela APDA (Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem das Águas), decorreu durante os dias 2 e 3 de outubro, no Hotel dos Templários, em Tomar. A Ambiente Magazine foi media partner deste evento.

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