Num comunicado enviado à imprensa, a MUBi (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta), alertou para o facto da Semana Europeia da Mobilidade concentrar “atividades e eventos bem-intencionados que, no fim, não derrubam as barreiras a uma mudança de paradigma”.
Recorde-se que esta data é uma iniciativa da Comissão Europeia que acontece desde 2002. Sendo os transportes o setor que mais contribui para as emissões de gases carbónicos, a CE apostou em promover a mudança de hábitos de mobilidade decretando a celebração do Dia Sem Carros, a 22 de setembro, no seguimento do que já vinha a ser reclamado nos Domingos Sem Carros, em cidades italianas e francesas.
“Há 23 anos, por ocasião do primeiro Dia Mundial sem Carros, as autarquias aderiram com entusiasmo, até porventura de forma um pouco pueril e pouco consequente — Aveiro, Évora, Leiria, Lisboa e Porto fecharam os seus centros ao trânsito de automóveis privados. A este primeiro entusiasmo inicial seguiu-se uma fase em que tudo encalhou, e passou-se a celebrar Dias sem Carros em pequenas ruas, feiras tímidas em recantos pouco convictos. Mas enquanto em Portugal organizávamos momentos de mobilidade ativa divertida, com dia e hora marcada, corridas de karts, mostras de carros elétricos e trotinetes, distribuíamos folhetos com palavras bonitas e boas intenções, o mundo não parou — a cidade de Bogotá abre as ruas às pessoas todos os domingos com a participação de cerca de 1 milhão de pessoas a caminhar e a pedalar; Bruxelas abre às pessoas todas as ruas por ocasião da Semana Europeia da Mobilidade, abrangendo uma região com 1,2 milhões de residentes”, são alguns dos exemplos que a associação partilha.
O setor dos transportes é responsável por 28% das emissões de gases com efeito de estufa, tendência que tem vindo a aumentar desde 2013. O transporte rodoviário é responsável por mais de 95% destas emissões e, paradoxalmente, em vez de desinvestir nele, o Governo destinou perto de mil milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) à construção de estradas, continua a apoiar o consumo de combustíveis fósseis rodoviários, afirmando inclusive poder vir a aumentar esse apoio face às últimas subidas de preços, com o intuito de “proteger as famílias” – são outras evidências que se podem ler no comunicado, a par de que 70 a 80% do espaço público urbano é ocupado por automóveis, incluindo ruas e áreas de estacionamento, sendo o estacionamento ilegal uma constante nas cidades.
“Proteger as famílias seria reduzir para 30 km/hora o limite de velocidade nas localidades, conforme recomenda a OMS, criando medidas físicas de acalmia de tráfego. Proteger as famílias seria pedonalizar os centros urbanos e partes significativas das áreas de residência, limitando também o acesso de automóveis às áreas escolares”, continua a MUBi.
Vera Diogo, presidente da MUBi, lembra que “o Plano Nacional Energia e Clima afirma o compromisso de Portugal reduzir em pelo menos 40% as emissões do sector dos transportes, até 2030.” E questiona: “É sabido o que é necessário e urgente fazer. Resta saber o que será preciso para levar os decisores políticos a agir. Será preciso que o ar se torne irrespirável? Que o espaço público se torne tão exíguo e inseguro que os conflitos aumentem? Que as doenças físicas e mentais atinjam níveis ainda mais preocupantes? A MUBi age para contrariar esse cenário. Terão os governantes a consciência tranquila?”.