Cada vez mais frequentes um pouco por todo o planeta, também a Península Ibérica será afetada pelas secas durante este século. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado na Universidade de Aveiro que prevê alterações no regime de secas, que poderão trazer alterações ao modo de vida de portugueses e espanhóis.
Realizado pelos investigadores Humberto Pereira e João Miguel Dias do Departamento de Física (DFis) e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da UA, em colaboração com as investigadoras Nieves Lorenzo e Ines Alvarez da Universidade de Vigo, o estudo, publicado na revista Atmospheric Research, caracteriza a ocorrência e a variabilidade espacial das secas na Península Ibérica nos próximos 50 anos considerando dois cenários de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera (um moderado e um severo) definidos pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPPC).
Neste contexto, foram analisadas as secas meteorológicas e as hidrológicas: “os principais resultados do estudo revelam que, para ambos os cenários do IPCC, as secas meteorológicas serão globalmente menos frequentes na Península Ibérica no período compreendido entre 2006-2040, mas mais intensas e duradouras na região Este da Península Ibérica, intensificando-se este efeito ao longo do século XXI”, aponta Humberto Pereira.
Até 2040, adianta o investigador, “prevê-se que as secas hidrológicas sejam mais comuns e intensas na região noroeste da Península Ibérica, e menos frequentes, mas mais duradouras nas restantes regiões da península”. Para o período de 2041 a 2075, a frequência e a intensidade destas secas registam uma diminuição no cenário mais moderado, e um ligeiro aumento no cenário mais severo.
A previsão das características espaciais e temporais das secas “é crucial para compreender e mitigar os seus impactos futuros nos ecossistemas da Península Ibérica e reduzir os potenciais riscos decorrentes das mesmas”.
As secas meteorológicas e hidrológicas podem ter diversas consequências na região em estudo. Os investigadores da UA apontam que “a nível económico poderão resultar em impactos negativos para a agricultura, o turismo, e a produção de energia; a nível ambiental terão impactos negativos para a biodiversidade da região, degradação dos solos, e potencial aumento do risco de incêndios florestais; e a nível social com a possível escassez de água potável para a população”.
Os resultados foram obtidos utilizando o Standardized Precipitation Index (SPI), um índice amplamente utilizado para caraterizar o regime de seca em diferentes escalas temporais, que se baseia exclusivamente na precipitação. “É sabido que os fenómenos de seca podem ser influenciados por outros fatores, como a temperatura do ar, a sazonalidade, e até as características do terreno, o que requer uma caraterização e previsão mais complexa destes fenómenos”, diz João Miguel Dias.