“É o abandono das explorações! É o abandono da produção de ovinos, de caprinos e de bovinos de carne! É o abandono das populações das aldeias e vilas para as cidades!”. Este é o cenário traçado por Carlos Lopes, técnico da ADARAD (Associação para o Desenvolvimento Agrícola e Rural das Arribas Do Douro), sobre a situação de seca severa ou extrema que se vive na Vila de Mogadouro, distrito de Bragança.
Em declarações à Ambiente Magazine, Carlos Lopes avança que se trata de um “acumular de dois anos” e que, agora, é um “acentuar (da seca): os solos não têm humidade e faz com que não haja forragens para dar aos animais até à próxima colheita”. No ano anterior, a situação estava mais controlada, pois “tínhamos reservas de forragem de 2021”, mas, neste momento, “não temos essa reserva nem fundo de maneio para resistir à crise”. Por exemplo, “Um hectare podia dar 20 fardos gigantes ou 20 rolos. Hoje, dá para dois ou três rolos”, alerta.
As consequências vão mais longe quando já se vê produtores obrigados a vender o gado: “Até aqui os animais era mais ou menos bem pagos, mas com a oferta no mercado, o preço da carcaça vai baixar bastante e é o abandono da produção de ovinos, caprinos e bovinos de carne”. Para Carlos Lopes, trata-se de um seguimento do que aconteceu com o setor leiteiro”, há anos atrás que, também, foi abandonado: “Agora é carne: se não deitarmos mãos à obra e se andarmos sempre com este ´tapar buracos´ não vamos ter resultados. Não é com mais uma ou menos uma ajuda que se resolver, mas talhar projetos a longo prazo, tal como acontece com o regadio: armazenar água do inverno para ter no verão”.
O cenário que se avinha não é o mais positivo e, por isso, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) também reclama o facto de o Ministério da Agricultura e Alimentação não ter contemplado esta região na situação de seca severa ou extrema, tal como os 67 municípios: “De acordo com o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), o distrito de Bragança está em seca severa ou extrema e não fomos contemplados, apenas o Sul”, refere Carlos Lopes, alertando para a necessidade urgente de “também sermos ajudados” pela Comunidade Europeia. “Se ajuda vier só daqui a 4 meses, as pessoas já abandonaram a atividade e não vale de nada termos ajuda: o que vale de termos o dinheiro se já não vai haver animais?”, questiona o responsável, apelando ao Governo para que “olhe para nós e que o Mogadouro seja incluído no plano de seca para conseguirmos alguns apoios e fazer face à seca que já estamos a sentir”.
O Despacho n.º 5351-A/2023 do Ministério da Agricultura e Alimentação, publicado a 9 de Maio, reconheceu a existência de uma situação de seca severa ou extrema em 67 municípios, que perfazem cerca de 40% do território nacional, localizados sobretudo no Sul do país, alargando-se a situação de seca já a 90% do território nacional.