Reprodução das tartarugas-verdes em risco com aquecimento global
Investigação conjunta do MARE-ISPA e da University of Exeter (Reino Unido) revela que cerca de 93% das crias de tartarugas-verdes poderão ser fêmeas em 2100, com implicações na reprodução da espécie. O sexo destas tartarugas é determinado pela temperatura, pelo que o aquecimento global está a promover a feminização desta espécie.
Apesar do aumento na proporção de fêmeas levar inicialmente a um aumento da nidificação, e até a um aumento da população, será eventualmente seguido por um declínio ao mesmo tempo que as temperaturas de incubação se aproximam de níveis letais: “À medida que as temperaturas continuam a subir, a sobrevivência dos embriões pode tornar-se impossível”, explica a investigadora do MARE-ISPA Rita Patrício, autora principal do artigo publicado na Global Change Biology em dezembro passado, “as tartarugas-verdes vão enfrentar dificuldades no futuro devido à perda de habitat e ao aumento da temperatura”.
A equipa de investigação, que incluiu também o Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau, alerta que o aumento do nível do mar, consequência do aquecimento global, irá submergir 33-43% da atual área de nidificação desta população e informa ainda que área de nidificação submersa pela elevação dos mares não pode simplesmente “mover-se” para o interior. “Em algumas áreas, a subida do nível do mar pode levar a um realinhamento da costa, mas as tartarugas que estudamos desovam numa ilha muito pequena (Ilha de Poilão), então há um limite até onde a praia pode recuar”, clarifica Rita Patrício. “Por outro lado, há praias de nidificação onde existem barreiras naturais ou construções humanas que impedem o recuo das praias.”
No entanto, a esperança mantém-se para esta espécie ameaçada de tartaruga: “Os nossos resultados sugerem que a população de tartarugas-verdes do arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau, irá provavelmente resistir aos efeitos da mudança climática até 2100. A existência de temperaturas mais baixas, tanto no final da época de nidificação como nas áreas de floresta, deverão assegurar que alguns filhotes sejam machos.”
O Arquipélago dos Bijagós é o local de nidificação mais importante para as tartarugas-verdes em África e o principal local de reprodução desta espécie no Atlântico Sul. Apesar da estatística do estudo ter sido aplicada apenas à população deste arquipélago, os cientistas esperam um quadro semelhante ao nível mundial.
O Arquipélago dos Bijagós faz parte da Guiné-Bissau e é constituído por 88 ilhas situadas ao largo da costa africana, compondo uma área protegida, classificadas pela UNESCO em 1996 como reserva da biosfera.