2021 registou um aumento de 137% de barragens removidas na Europa, quando comparado com o ano anterior, o que confirma o movimento e o interesse crescentes em restaurar os rios na Europa. O relatório anual do Dam Removal Europe mostra, pelo menos, 239 barragens removidas em 17 países europeus em 2021: 76% das barragens não eram de grande dimensão, mas 24% eram barragens superiores a dois metros.
Espanha é o país líder com 108 estruturas removidas, incluindo a barragem mais alta retirada em 2021, com 13 metros de altura. O país continua a eliminar barragens fluviais a um ritmo cada vez maior, demonstrando mais uma vez a importância de uma lei que imponha o desmantelamento de barragens obsoletas, refere a ANP/WWF. Em Portugal, foi removida apenas uma barragem no ano passado. Montenegro e Eslováquia registaram a sua primeira remoção de sempre e, na Finlândia, foi removida uma barragem hidroelétrica em funcionamento.
Pelo menos 150.000 barragens antigas, obsoletas e sem propósito bloqueiam o curso livre dos rios europeus. O movimento de remoção de barragens na Europa está ainda no início, sendo um tema muito controverso em vários países, incluindo em Portugal. Só no lado português do rio Douro, por exemplo, existem 1201 barreiras, das quais se estima que 25% estejam abandonadas.
Para Herman Wanningen, diretor da World Fish Migration Foundation, “a remoção de barragens é a ferramenta mais eficiente para restaurar os rios e as suas populações de peixes. Esta ferramenta deve ser implementada em toda a Europa, a começar pelas barragens que estão fora de uso ou que já não têm qualquer função económica”.
De acordo com Ângela Morgado, diretora executiva da ANP|WWF, “Portugal está, infelizmente, muito atrás dos restantes países europeus no que diz respeito à remoção de barreiras fluviais obsoletas. Existem barragens já identificadas como obsoletas há vários anos mas que continuam a interromper o curso natural dos rios até hoje. Uma dessas barragens – o açude de Galaxes, em Alcoutim – será removida este ano, pela ANP|WWF, que será assim a primeira entidade civil a remover uma barreira fluvial, através de um fundo concedido pelo Open Rivers Programme. Esperamos que esta seja a primeira de muitas barragens removidas em Portugal, impulsionando este movimento no nosso país”.
A restituição de, pelo menos, 25.000 km de rios é assinalada como um dos elementos-chave da Estratégia da União Europeia para a Biodiversidade para 2030, que faz parte do Acordo Verde Europeu. 1,2 milhões de barragens têm fragmentado os rios europeus durante mais de um século (projeto AMBER).
O relatório Living Planet Index mostra um declínio de 93% dos peixes migratórios de água doce na Europa, o que requer medidas urgentes, sendo que a remoção destes obstáculos não é apenas necessária para a vida selvagem, mas também para um futuro mais saudável para as pessoas.
Os resultados deste relatório anual serão apresentados no sétimo seminário Dam Removal Europe, em Lisboa, de 19 a 21 de maio, um evento organizado por uma coligação de sete organizações: ANP|WWF, The Rivers Trust, The Nature Conservancy, The European River Network, Rewilding Europe, Wetlands Internacional e World Fish Migration Foundation. Neste evento será debatida a ambição de restaurar a livre circulação dos rios em toda a Europa e será estabelecida a remoção de barragens como ferramenta de restauro.