A extração ilegal de madeira em larga escala e a repressão ao ativismo estão entre as graves ameaças à floresta tropical de Prey Lang, no Camboja, alerta, em comunicado, a Amnistia Internacional, no dia que se assinala um ano da proibição de entrada dos defensores ambientais no santuário de vida selvagem.
As imagens e dados de monitorização remota recentes, que foram analisados pelo Crisis Evidence Lab da Amnistia Internacional, revelam que a extração ilegal de madeira (a principal causa da desflorestação em Prey Lang) continua a um “ritmo acelerado, em larga escala”, sendo ainda possível constatar a “existência de novas estradas dentro da área protegida”, lê-se no comunicado.
“Enquanto as autoridades cambojanas impedem a Rede Comunitária de Prey Lang e os defensores ambientais de protegerem o santuário de vida selvagem de Prey Lang, os madeireiros ilegais estão desflorestar impunemente”, alerta o diretor de Crises e Meio Ambiente da Amnistia Internacional, Richard Pearshouse, acrescentando que “as autoridades cambojanas devem permitir que estes defensores ambientais retomem as suas patrulhas e realizem o seu trabalho vital de prevenção da destruição de uma das florestas tropicais mais importantes do mundo, que está a desaparecer diante dos nossos olhos”.
De acordo o mesmo comunicado, na semana passada, o Ministério do Ambiente rejeitou um pedido da Rede Comunitária de Prey Lang para a realização, esta quinta-feira, da tradicional cerimónia anual de bênção da árvore, em Prey Lang. Os membros da organização, a maioria composta por indígenas Kuy, já tinham sido impedidos à força de celebrar o evento, no último ano, e desde então foram proibidos de entrar no santuário de vida selvagem para conduzir as suas patrulhas comunitárias. Esta repressão contínua coloca em causa os esforços para proteger Prey Lang e os direitos dos povos indígenas, refere o comunicado.
Extração ilegal de madeira
A análise de imagens de satélite mostra uma “tendência preocupante de extração ilegal de madeira”. E os registos datados de 5 de fevereiro de 2021 revelam “vários troncos empilhados numa área que foi desflorestada recentemente”, nos arredores de Prey Lang. Além disso, é possível verificar a “existência de novas estradas de acesso que não eram visíveis em imagens anteriores, de janeiro de 2020”, atenta a Amnistia Internacional.
Segundo o comunicado, os alertas criados pela Universidade de Maryland em parceria com a Global Forest Watch mostram a “desflorestação generalizada” em 2020 e no início de 2021 e dados da Universidade de Maryland indicam ainda que “Prey Lang perdeu 7511 hectares de cobertura arbórea, em 2019, o que se traduz num aumento de 73% em relação ao ano anterior”.
Também os relatórios da Rede Comunitária de Prey Lang indicam que a “extração de madeira para segmentos de luxo é responsável por praticamente todas as atividades ilegais registadas durante as ações de patrulhamento das comunidades locais”, lê-se no comunicado.
Riscos de um novo projeto
Em dezembro de 2020, o Ministério das Minas e da Energia do Camboja assinou um acordo para a construção de uma linha de transmissão de energia de 299 km, entre Phnom Penh e a fronteira com o Laos. O projeto pode implicar novas ações de desflorestação, já que vai dividir Prey Lang em duas partes.
Segundo Richard Pearshouse, “as autoridades devem cancelar este projeto da linha de transmissão porque vai atravessar o coração de Prey Lang e, em vez disso, optar por rotas alternativas que não destruam ainda mais a floresta. Devem existir alternativas viáveis que protejam Prey Lang, bem como os direitos humanos dos povos indígenas e das comunidades locais”.
Prey Lang tem aproximadamente 500 mil hectares e estende-se por quatro províncias do Camboja. Em 2016, foi designada como santuário de vida selvagem. Mais de 250 mil pessoas vivem dentro ou nas imediações de Prey Lang, a maioria das quais identifica-se como indígena Kuy. A floresta é uma parte crucial da vida, cultura e espiritualidade deste povo.