Foi esta segunda-feira, dia 9 de agosto, apresentado o documento do primeiro grupo de trabalho do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) relativo aos fundamentos científicos das alterações climáticas.
“O documento de hoje será provavelmente o último aviso da comunidade científica mundial sobre os efeitos das emissões de gases de estufa e consequentes alterações climáticas, antes do planeta se encaminhar para um aumento de temperatura superior a 1,5 ºC”, alerta a ZERO (Associação Sistema Terrestre) num comunicado.
O documento do segundo grupo sobre os impactes, adaptação e vulnerabilidade às alterações climáticas será apresentado em fevereiro de 2022, e o documento do terceiro grupo sobre mitigação climática em março de 2022. Por fim, em setembro de 2022, será apresentado um relatório síntese, constituindo todos estes documentos o 6º relatório de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
De acordo com o relatório, os últimos seis anos foram os mais quentes desde que há registos históricos (desde aproximadamente 1850). Em 2020, os oceanos atingiram a sua temperatura mais elevada. Os incêndios, as inundações e as condições meteorológicas extremas dos últimos meses são apenas sinais do que se pode esperar.
Este documento é verdadeiramente histórico por ser a “avaliação mais abrangente até agora efetuada”, oito anos após o 5º relatório de 2021/2014, e a menos de três meses antes das negociações das Nações Unidas em Glasgow, de 1 a 12 de novembro.
Para a ZERO, os governos não podem ignorar os avisos feitos pelo IPCC: “Apesar de um esforço de muitos países ou grupos de países como a União Europeia, ainda não existem planos de ação que mantenham o aquecimento global abaixo dos limites supostamente seguros. Continuamos a adiar uma ação climática urgente que já era necessária desde há décadas atrás e agora estamos quase sem tempo”, alerta a associação.
O IPCC, composto por centenas dos maiores cientistas do clima do mundo, efetua relatórios que recebem a concordância de todos os países. Este relatório é porém mais decisivo, dado que “reforça a conclusão de que os anos 20 deste século serão uma década crucial em que as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas a metade para limitar o aquecimento a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, estabelecidos por relatórios anteriores do IPCC como o limite de segurança”, lê-se no comunicado partilhado pela ZERO.
Para a associação, esta é “última avaliação do IPCC” que pode fazer uma “diferença real em termos de política, antes de ultrapassarmos 1,5 ºC e as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris”. As alterações climáticas estão a causar extremos climáticos amplificados, desde secas, ondas de calor, incêndios florestais, inundações a supertempestades, impactes que são cada vez mais intensos, frequentes e sem precedentes. O estudo dá conta que se as emissões continuarem a aumentar, ocorrerão impactes climáticos cada vez mais severos. “A sociedade humana que conhecemos foi construída num clima que não existe mais, pelo que é crucial trabalharmos na mitigação climática (redução de emissões), mas também na adaptação climática”, atenta a associação.
Para impedir efeitos mais graves, a ZERO alerta para importância de se “cortar as emissões muito mais rapidamente. Quanto mais dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa acumularmos na atmosfera, mais tempo demorará a retornarmos a uma situação com menores impactes”.
O IPCC acabou de emitir um severo alerta que não pode ser ignorado: “A comunidade internacional deve aumentar rapidamente a velocidade e a escala de ação necessárias para evitar alterações climáticas catastróficas. É hora de acabarmos com a nossa dependência de gás natural, carvão e petróleo e investir em empregos verdes e na construção de um futuro com zero carbono com toda a urgência”, apela a ZERO.