Reforma da floresta ignora alterações climáticas

O investigador e especialista em alterações climáticas Filipe Duarte Santos tece duras críticas à reforma do setor florestal proposta pelo Governo, noticia hoje o Volta Económica. Numa intervenção na última semana no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, o professor catedrático da Universidade de Lisboa explicou, citado pela agência Lusa, que a reforma da legislação florestal foi criada “sem ter em conta as alterações climáticas, que poderão mudar muito o tipo de clima de boa parte do sul do país”.

“É surpreendente que este pacote legislativo, que é bem-vindo e tem muitos aspetos positivos, não tenha tido em conta logo deste início aqueles departamentos da administração central que têm a responsabilidade da adaptação às alterações climáticas”, disse aquele investigador à Lusa, à margem de uma conferência sobre investigação florestal. E explicou que “daqui a 50, 60 anos, o clima vai ser diferente”, o que se deve refletir nas novas florestas que estejam e venham a ser plantadas, uma vez que “a floresta é um investimento a longo prazo”.

“Quando se faz uma política florestal tem que se ter um horizonte temporal de 40 ou 50 anos”, frisou Filipe Duarte Santos, dando como exemplo o sul do país, onde “a floresta é vulnerável, sobretudo o montado”, uma vez que desde há cerca de 50 anos chove cada vez menos atualmente.

Para este docente universitário, “se continuar o decréscimo de precipitação e o aumento das temperaturas, as condições, que já não são ótimas, vão degradar-se”, afirmando que “é necessário ter isso presente”. Tanto mais porque “as pessoas que estão a investir na floresta e a plantar novas florestas têm que ser informadas sobre as condições climáticas futuras, até por uma questão económica”.

Filipe Duarte Santos, especialista em Geofísica e Física Nuclear, apresentou projeções segundo as quais, no pior dos cenários de continuado aquecimento global, vão significar que no fim deste século o Algarve e o Alentejo poderão ter um clima desértico, com cada vez menos caudal nos rios, nomeadamente no Tejo.