A perda de oxigénio nos oceanos constitui o fator de maior impacto negativo para os organismos marinhos, sendo mesmo mais nocivo do que o aumento da temperatura da água, defende um estudo, ao qual a Lusa teve acesso.
A conclusão é de investigadores do Laboratório Marítimo da Guia do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que analisaram os resultados de cerca de 700 experiências publicadas entre 1990 e 2016, que revelam que os impactos da perda de oxigénio no oceano “ultrapassam os projetados para o aquecimento e acidificação no final do século”, constituindo o “fator com mais impacto negativo nos organismos marinhos”.
“O que concluímos é que a hipoxia [níveis reduzidos de oxigénio] causou consistentemente mais impactos negativos do que o aumento da temperatura ou a redução do pH em vários aspetos da performance dos organismos, por exemplo, abundância, desenvolvimento, metabolismo, crescimento e reprodução”, adiantou Rui Rosa, investigador do MARE e um dos autores do estudo, publicado na revista científica Nature Ecology and Evolution.
Segundo o professor do departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade Lisboa, estes impactos negativos resultantes da redução do oxigénio verificaram-se em grupos de animais como peixes, crustáceos ou moluscos, em vários estádios de vida, desde os ovos e larvas até aos organismos adultos, mas também em regiões climáticas diversas.
Perante estas conclusões, os investigadores alertaram para a importância de se incluir a perda de oxigénio como uma “variável fulcral no estudo dos impactos das alterações climáticas no oceano global” e para o desenvolvimento de ações de adaptação e mitigação mais direcionadas para este “trio mortal” – aquecimento, acidificação e níveis reduzidos de oxigénio.
Os autores do artigo “Impacts of hypoxic events surpass those of future ocean warming and acidification” recordam ainda que os oceanos são “particularmente afetados pelas alterações climáticas”, já que absorvem o excesso de calor aprisionado na atmosfera e também uma grande parte do dióxido de carbono emitido, o que leva a uma redução do seu pH (processo denominado de acidificação).
“Um outro fator de risco e que tem sido constantemente negligenciado relaciona-se com a redução na concentração de oxigénio nos oceanos potenciada por processos geofísicos e biológicos”, salientam os investigadores do Laboratório Marítimo da Guia.