Estudos científicos reconhecidos alertam que o planeta está a perder a natureza a um ritmo sem precedentes, rumo a um ponto sem retorno. Nos últimos 50 anos, as populações de animais selvagens caíram 60% e os cientistas alertam que a 6.ª extinção em massa da vida na Terra já começou. A perda massiva da natureza está a degradar os sistemas naturais que sustentam sociedades e economias, e a taxa de degradação está a evoluir um a ritmo acelerado.
Os impactos das empresas na natureza são conhecidos e frequentemente visíveis. As dependências que as empresas têm dos sistemas de vida natural saudáveis são, contudo, menos compreendidas. A degradação dos serviços dos ecossistemas representa um risco sistémico insuperável para as empresas e para a economia global, nomeadamente riscos operacionais, de continuidade do negócio, regulatórios, de reputação, de mercado e financeiros.
As empresas com uma visão de futuro entendem que dependem de um mundo natural saudável, e essa compreensão e o reconhecimento desta ligação podem levar a benefícios significativos para a sociedade e para a natureza e, em simultâneo, assegurar a criação de valor económico. Ao mitigarem o seu impacto e adotarem cadeias de valor regenerativas, as empresas podem desempenhar um papel crítico na mudança transformadora necessária em muitos sistemas de produção e de consumo.
Eventos
O ano 2020 vai marcar uma oportunidade crítica para deter a perda de biodiversidade e o declínio dos serviços de ecossistemas que suportam o bem-estar humano e a economia global. Vão realizar-se dois eventos, o Congresso Mundial de Conservação organizado pela IUCN em Marselha e a Convenção sobre Diversidade Biológica (COP15) em Kunming, que podem constituir um momento de mudança, caso todas as partes interessadas, incluindo as empresas, decidam concretizar ações coletivas para enfrentar os desafios que a biodiversidade e os ecossistemas naturais enfrentam atualmente. Aguarda-se, como resultado desta COP 15 sobre a Biodiversidade, algo semelhante ao que resultou da COP 21 sobre as Mudanças Climáticas, isto é, algo equivalente ao Acordo de Paris, mas neste caso com metas no domínio do capital natural. 2020 será também o ano em que Lisboa será European Green Capital.
Reforçando o compromisso em prol da biodiversidade, o BCSD Portugal, em conjunto com outras organizações empresariais para o desenvolvimento sustentável, que integram a Rede Global do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), oriundas de um total de 23 países, desafiam as empresas suas associadas em todo o mundo para um objetivo comum que se traduz na Lisbon Declaration.
Signatários de 23 países – Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Guatemala, Holanda, Honduras, Hungria, Irlanda, México, Panamá, Peru, Polónia, Portugal, Suíça e Ucrânia – representam, em conjunto, um total de cerca de 2.000 empresas e de 6.000.000 colaboradores.
O lançamento da Lisbon Declaration vai realizar-se em Lisboa, no dia 15 de outubro, durante o Encontro Anual do Conselho do WBCSD (14 a 17 de outubro de 2019), um evento anual que reúne cerca de 200 CEO de empresas globais, bem como os conselhos empresariais de mais de 60 países que integram a Rede Global do WBCSD, para trabalhar em conjunto e debater sobre os desafios, soluções e compromissos para acelerar a transição para um mundo sustentável.
Lisbon Declaration
A Lisbon Declaration é um acordo internacional através do qual estas organizações se comprometem a trabalhar em conjunto com as suas empresas associadas a nível local, para proteger, promover e restaurar a biodiversidade.
“É a promessa de diversos parceiros da Rede Global do WBCSD de todo o mundo que veem a oportunidade de tornar o ano de 2020 num ponto de viragem para a biodiversidade e para o reforço do papel que o capital natural deve ter em sociedades e economias verdadeiramente sustentáveis”, afirma João Wengorovius Meneses, secretário geral do BCSD Portugal.
A organização empresarial de cada país será responsável por estabelecer um conjunto de metas comuns, com as quais os CEO das empresas associadas se podem comprometer, concretizando projetos que assegurem um impacto real na preservação da biodiversidade a nível local. Exemplo é o act4nature, lançado em julho de 2018 em França, que reuniu diversos signatários, entre os quais a L’Oréal, Nestlé e BNP Paribas.
Os signatários da Lisbon Declaration passam também a integrar a coligação internacional Business for Nature, à qual pertencem organizações globais como o World Economic Forum (WEF), o World Wildlife Fund (WWF) e o próprio WBCSD, colaborando na preparação da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP15). É esperado que estas organizações empresariais reúnam o ponto de vista das empresas, contribuindo de forma ativa para o equivalente a um Acordo de Paris para a biodiversidade.
Ainda no âmbito do Encontro do Conselho do WBCSD, o BCSD Portugal vai participar e colaborar ativamente num conjunto de iniciativas, das quais se destacam:
– O painel de debate “Disruptors’ den“, moderado pelo Secretário Geral do BCSD Portugal, que irá explorar como jovens líderes e startups estão a inovar na resposta aos desafios da sustentabilidade;
– Uma reflexão estratégica com empresas e outros stakeholders portugueses com o objetivo de recolher o seu contributo para a revisão e atualização da Vision 2050 do WBCSD (relatório EN/PT),a qual ambiciona que “em 2050, nove mil milhões de pessoas vivem bem, dentro dos limites do planeta”. Para além de Lisboa, as reuniões Vision 2050 Refresh irão realizar-se também em Genebra, Nova Iorque, Sidney, São Paulo, Londres, Tóquio e Singapura, entre outras cidades;
– A assinatura do pacto Pacto de Mobilidade Empresarial para a Cidade de Lisboa, em parceria com o WBCSD, a Câmara Municipal de Lisboa e um conjunto de empresas;
– Uma sessão de formação We Value Nature, destinada a apoiar as empresas para a integração do capital natural nas estratégias.