É um serviço essencial à população, mas nem por isso é um dado adquirido: afinal, mesmo quando está disponível, nem sempre é utilizada. O que faz com que 600 mil alojamentos em Portugal continental, 10% dos existentes, não utilizem a rede pública de abastecimento de água?
617 424. Segundo as contas da Associação Portuguesa de Distribuição e Drenagem de Águas (APDA), relativas a 2020, este é o número de alojamentos em Portugal continental que tem rede de água disponível, mas cuja ligação não está feita. O valor é mais do que duas vezes e meia superior às 244 365 residências onde a rede não está, de todo, disponível.
A questão da falta de adesão à rede é particularmente sensível na região Centro (221 133 alojamentos com serviço disponível, mas “não efetivo”) e, mais ainda, na região Norte (246 409 habitações).
Pedro Perdigão, CEO do Grupo INDAQUA, o maior operador de concessões de água e saneamento na região Norte, contextualiza: “Nas últimas décadas, houve um investimento forte, por parte das entidades gestoras, na expansão da rede de água, por serem absolutamente essenciais à vida das pessoas e territórios. Porém, este alargamento nem sempre foi acompanhado de igual forma pela população, que mantém grande utilização de captações próprias, como poços ou furos. Existe ainda um caminho de sensibilização a percorrer”.
Se a obrigatoriedade legal de ligação à rede (quando disponível a menos de 20 metros) não se mostra suficiente, o principal argumento apresentado por múltiplas entidades gestoras, setoriais e governamentais apresenta-se lapidar: segurança e saúde.
A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) avalia em 98,96% a segurança da água em Portugal, com base nos resultados de milhares de análises realizadas, anual e obrigatoriamente, por cada entidade gestora.
Pelo contrário, as captações próprias que ainda proliferam não têm controlo garantido e quando, esporadicamente, testadas apresentam qualidade imprópria para consumo humano. Os mesmos alojamentos que optam por não se ligar à rede pública de água, na sua esmagadora maioria, também não se ligam à rede de saneamento – como consequência, a contaminação da água das captações particulares é frequente e pode levar, entre outros problemas de saúde mais graves, a dores abdominais intensas e gastroenterites virais, o que a torna um risco quando consumida.
“Em seis das empresas da INDAQUA, realizámos um conjunto alargado de análises gratuitas a captações particulares de água em utilização para consumo humano. Os resultados foram impactantes e alarmantes: 80% apresentavam contaminação físico-química, microbiológica ou ambas”, adianta Pedro Perdigão. “Esta contaminação, muitas vezes, não tem cor, sabor ou cheiro, o que impede que seja vista como prejudicial, desvalorizando a alternativa comprovadamente segura: a rede pública”, acrescenta o CEO da INDAQUA.
Este “valor” da água da rede pública é também minorado pelo seu preço, um dos fatores que continuam a condicionar a adesão e utilização. “Falamos de três dimensões diferentes: tratar, transportar e disponibilizar água segura tem um valor insubstituível para a saúde pública e para a sociedade como a conhecemos. O preço apenas reflete o custo desta operação e é o necessário para garantir qualidade, eficiência, renovação e manutenção das infraestruturas, bem como outros investimentos que assegurem o mesmo nível de serviço para as gerações futuras”, argumenta Pedro Perdigão.
Da vertente económica à ambiental, a sensibilização para o consumo, importância e características da água da rede pública tem também passado pelo seu reconhecimento oficial. Anualmente, a ERSAR entrega, na área do abastecimento, um conjunto de prémios. Na última edição, 12 destas distinções foram atribuídas a empresas do Grupo INDAQUA, incluindo o único Prémio de Excelência atribuído, a nível nacional, pela qualidade do serviço de abastecimento público de água (ao consumidor).