A Economia Circular está, hoje, subjacente em muitas empresas. Produtos sustentáveis, amigos do ambiente e com um ciclo de vida longo são, cada vez mais, uma opção. Há também quem ponha em prática estes conceitos e desenvolva os seus próprios produtos. Com o objetivo de dar “voz” a projetos de cariz sustentável, a Ambiente Magazine dá a conhecer mais uma iniciativa, desta vez, é o projeto “Recycle Geeks”.
Trata-se de um projeto que pretende voltar a dar vida aos computadores que estão esquecidos nas casas e nos escritórios portugueses: “Muitos de nós acumulamos computadores antigos ou estragados em casa, que já não usamos, porque ´um dia mais tarde podem vir a dar jeito`”. Por isso, ao trazer os computadores de volta ao mercado, quer seja às peças, quer seja inteiro, pretende-se “reduzir o consumo de computadores novos” e, ao mesmo tempo, “aumentar a quantidade de computadores que são reparados”, afirma João Botelho co-founder da Recycle Geeks.
A realidade é que, tal como com explica o responsável, os computadores consomem muitos elementos para serem produzidos, estimando-se que produzir um computador portátil novo emita 250kg de CO2e: “E quando um computador precisa de ser reparado, por um ecrã partido ou um teclado novo, as reparações são tipicamente tão caras que encorajam à compra de um computador novo”. Isto, deve-se, em parte, ao “preço das peças para reparação”, que são “quase sempre novas” e “vendidas a preços elevados”, acrescenta, dando como exemplo, “o preço de um ecrã de substituição que anda à volta dos 60 a 120 euros, que acrescido de mão de obra torna-se demasiado caro para um computador antigo”. A Recycle Geeks surge assim para “não só disponibilizar computadores usados a preços acessíveis”, como também “peças para reparação” a preços acessíveis: “Ao trazermos de volta para o mercado peças de computadores, esperamos que haja mais computadores a ser reparados, e mais computadores usados a serem revendidos, prevenindo o consumo desnecessário de recursos”. E além das vantagens a nível ambiental, uma outra mais valia é poderem “doar parte do lucro” através de dois modelos: “Quem doa o computador pode escolher receber 33% dos lucros para gastar na nossa loja; e 33% para doar a uma instituição de caridade, ou em alternativa, doar 66% dos lucros a uma instituição à escolha”, refere.
O projeto nasceu no início de 2021 e o balanço é já bastante positivo: “Nos dois primeiros meses, recebemos mais de 230kg de computadores, que convertemos em mais de 600 euros que foram entregues a caridade”. Desde que surgiu a Recycle Geeks, João Botelho não tem dúvidas de que os portugueses procuram, claramente, alguém que possa receber equipamentos eletrónicos que ainda funcionam: “Muitos produtos eletrónicos que temos em casa ainda funcionam, só já não são usados, e é normal sentirmo-nos mal ao deitar fora algo que ainda funciona”.
Relativamente ao futuro, o primeiro desejo partilhado pelo co-founder da Recycle Geeks é haja mais donativos: “Convidamos todos os portugueses a doarem ao nosso projeto os computadores que já não usem, em casa ou nos escritórios. Neste momento, fazemos recolhas via transportadora em todo o país, ou em mãos na zona do grande Porto”. Outra ambição é “crescer” e ter presença nas principais cidades portuguesas: “Estamos neste momento à procura de parceiros que queiram ser locais de entrega Recycle Geeks, como por exemplo papelarias”, adianta.
[blockquote style=”2″]Compra de produtos que foram produzidos a partir de fontes recicladas[/blockquote]
Olhando agora à “economia circular” com um todo, João Botelho acredita que é um tema que tem vindo a ganhar atenção a nível global: “Portugal e muitos outros países estão a avançar neste tema, e vemos algumas cidades a promover programas de recolha diferenciada de resíduos, o que é um passo importante”. Um bom exemplo disso é o “programa de recolha de resíduos orgânicos lançado na cidade do Porto”, que vai ajudar a tornar o “consumo alimentar mais circular”. Depois, há outras iniciativas como várias aplicações que “promovem a revenda de comida não consumida em restaurantes” ou “próxima do fim do prazo nos supermercados”, refere. Ainda assim, para que Portugal consiga ter uma economia baseada na circularidade, os resíduos de uma indústria têm de ser a matéria-prima de outra: “Isso é algo difícil de alcançar em todas as indústrias sem escala. Não é fácil para as indústrias comprarem matéria-prima a vários pequenos vendedores ou comprar uma pequena parte reciclada e o resto como matéria-prima virgem”. Para o responsável, aquilo que deve fazer, enquanto consumidores, é promover a economia circular através da “compra de produtos que foram produzidos a partir de fontes recicladas”, e contribuir na “correta separação dos nossos resíduos em casa”.
Se Portugal é um país onde a natureza tem um papel central na economia – “não conseguimos ter turismo ou vinhos e agricultura sem ter uma natureza saudável” – a economia circular é um dos fatores que melhor pode assegurar que a pressão e a poluição sobre a natureza é reduzida: “Os Governos podem reduzir impostos ou financiar negócios que usem economia circular para acelerar o crescimento desta área”, por exemplo. Ou então, em alternativa, o Governo pode “regular as indústrias” no sentido em que devem “obrigatoriamente separar os resíduos” de forma a tornar mais fácil a sua revenda, assim como “obrigar ao consumo de um mínimo de material reciclado na produção de produtos novos”, defende.